A casa Erbo Stenzel*, no Centro de
Criatividade de Curitiba pegou fogo e foi demolida. Quem se importa? Que falta
ela fará? Uns poucos quixotes envolvidos na vida cultural da cidade lamentaram a
perda da casa emblemática nas redes sociais. Fora isso, o silêncio.
Na Gazeta do Povo, a reportagem sobre o
ocorrido nos informa que “a casa foi erguida originalmente em 1928 no bairro
São Francisco por Germano Roessler. Transferida para o parque em 1998, estava
abandonada e fechada há seis anos. Arquitetonicamente, a casa era um exemplar único,
que não se encaixa em nenhuma tipologia conhecida pelos almanaques. A Fundação
Cultural de Curitiba (FCC) tinha um projeto de reutilização do espaço, mas
nunca houve verba para tocá-lo.” Esse abandono, com certeza foi a causa de sua
destruição.
Mais que uma casa de madeira, a Casa
Erbo Stenzel é um reflexo fiel da nossa política cultural: ninguém conhece.
Curitiba tem cerca de 60 espaços culturais**, entre teatros, cinemas, casas de
leitura e outros espaços onde se fomentam as artes plásticas, a dança, a
literatura, a música, o patrimônio cultural e afins. Quantos deles você já visitou?
Pelas minhas contas, em toda a minha vida, cheguei à precária marca de 20
espaços, sendo que em muitos deles fui há mais de 30 anos atrás ou apenas uma
vez na vida. E olhe que eu vivi a criação de muitos desses espaços. Os conheço,
mas não os frequento.
Não tenho referência, não tenho
informação, não tenho intimidade com esses espaços. Eles não fazem parte da minha
vida social, nem cultural, poderiam bem estar na Islândia. Não temos o costume
de fazer localmente o que fazemos em viagens, explorar a cidade culturalmente. Já
fui num museu microscópico de Invenções em Barcelona e nunca me dei ao trabalho
de conhecer o Centro de Arte Digital. Acervos à parte, quem sabe uma maior visitação
ao MUMA proporcionasse uma programação melhor, ou seria o inverso?
A politica publica de cultura diz muito
sobre a cidade que vivemos. Arte, música, patrimônio são tão importantes quanto
saúde e educação formal. Cidades que
exploram e oferecem cultura de várias formas aos seus cidadãos são cidades mais
seguras, mais eficientes, mais felizes.
É uma pena, e um triste sinal, que só falemos
disso em momentos como o cancelamento da Oficina da Música e a demolição de um
patrimônio histórico. As manchetes deveriam ser outras.
* Descendente de alemães e austríacos, Erbo
Stenzel foi artista, tradutor e professor da Escola de
Belas Artes e Música do Paraná.
**Confira os espaços Culturais mantidos pela
prefeitura aqui: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/espacos-culturais/