Meu filho vai passar um ano fora, este ano. Isso já torna
absolutamente tudo diferente.
O réveillon foi diferente, os dias que ainda tenho com ele
aqui são diferentes, toda a minha atenção está voltada para esses últimos
momentos antes da sua partida. Eu me vejo contando as horas, inventando
desculpas para um abraço, fazendo de tudo para ficar perto dele o máximo
possível. Entre documentos e listas do
que levar, tento estar ali, participando de tudo, separando camisetas, comprando
o que falta, escrevendo uma longa carta para ser lida no avião.
Na idade dele, fiz o mesmo programa. Confesso que a
perspectiva de quem vai é infinitamente melhor da de quem fica. Porém, por
conhecer o que espera por ele lá, talvez esteja tão entusiasmada quanto ele
para essa aventura.
E olha que fui numa época em que a comunicação com a família
se dava por lindas cartas que demoravam mais de uma semana para chegar e
telefonemas de 5 minutos aos domingos para aproveitar a tarifa menos
exorbitante dos interurbanos nos anos 80. Quando a gente viajava, para ter essa
experiência no outro lado do mundo, era realmente a ruptura definitiva daquele
cordão umbilical invisível que nos acompanha confortavelmente quando moramos na
casa dos nossos pais.
Hoje, com celulares, Facetimes, Whatsapps, e outras
modalidades de comunicação instantâneas, o desafio é fazer que ele realmente se
separe da vida aqui para aproveitar a experiência de conhecer outras culturas e
fazer suas próprias escolhas por lá. Por mais doloroso que seja, vou ter que
refrear o impulso de perguntar como ele está todos os dias, vou ter que deixar
a coisa vir do lado de lá, por iniciativa dele. Ansiosa, esperarei.
Enquanto estive viajando, meu pai me escreveu uma carta por
semana, religiosamente. Minha mãe, a cada 15 dias no máximo, mandava a sua. Eu
escrevia bastante também, cheguei a mandar uma fita cassete gravada com as
últimas aventuras.
Pensei em repetir o feito, escrever pra ele semanalmente
contando o que estarei fazendo, o que acontece na família, se o Coxa ganhou ou
perdeu. Vou me render ao e-mail, afinal
o mundo mudou.
O ano será longo. A casa ficará silenciosa, o quarto
arrumado. A saudade vai apertar, se der apareceremos para uma visita. Tudo aqui
será igual e mesmo assim, será tudo diferente.