domingo, 29 de setembro de 2013
Segredos da cidade
Ultimamente, nos finals de semana, tenho ido um pouco além. As caminhadas estão aumentando. Adoro sair por aí e andar 10, 12 quilometros. Esses dias cheguei a 15. Cruzei a cidade, literalmente, do Cabral até o Pequeno Cotolengo. Andei a Sete de Setembro inteirinha.
Não tem jeito melhor de conhecer a cidade. Voce vê cada cantinho, o jasmim em flor da casa da esquina, uma escultura na casa do lado, o gatinho na janela. A fachada descascada, o prédio novo. Um graffiti lindo, a pichação criminosa. Se você andar por uma rua no sentido contrário ao que anda de carro então, descobre uma rua nova. Muda toda a perspectiva, você descobre uma arquitetura que nunca tinha reparado, a casinha antiga super conservada, os últimos lambrequins.
Além dessa coisa física, voce descobre a alma da cidade também. Descobre a velhinha que tem 50 gatos. Descobre o senhor cuidando da roseira. Descobre as mães levando seus filhos pra escola de carro, de bicicleta ou esperando a lotação. Descobre quem faz exercício com você, quem caminha, quem corre. Descobre as amigas que andam juntas, descobre o pai ensinando a filha a andar de bicicleta. Quem tá apressado pra ir trabalhar, quem tá só de bobeira, passeando. Vê familias inteiras no parque, vê gente sozinha. O passeio do cachorro, quem dá pão pros passarinhos. Quem comprimenta, quem passa directo. Quem ta consertando a casa, quem tá lavando a calçada. Quem tá verdendo docinho, vassouras, pano de prato de casa em casa.
Andar po aí é uma delicia, uma aventura, você se sente um explorador que descobre pequenos segredos. É como se só você conhecesse essa cidade, como se todos esses detalhes fossem só seus. Large o carro, se perca por aí, você vai achar um mundo novo nessa cidade que vocē pensa conhecer tão bem!
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Som na caixa!
Não vivo sem música, meu sonho sempre foi ter trilha sonora o tempo todo, como nos filmes, a vida passando e um som apropriado para aquele momento tocando em auto falantes mágicos.
Quando era (bem) mais jovem ficava horas no meu quarto ouvindo música, pensando na vida. Adorava copiar as letras das que eu mais gostava em cadernos que tenho até hoje. Comprava aquelas revistinhas de música cifrada e copiava, copiava até cansar a mão.
O primeiro dinheirinho que sobrava a gente corria pra Savarin, pras Lojas Americanas, pro Rei do Disco atrás das novidades. Aquele "folhear" de LP nos balcões dessas lojas era uma delícia, as capas passando uma a uma. Depois veio a fase de gravar fitas (cassete, pra quem não sabe). Escolher as músicas, sincronizar o apertar das teclas play e rec com o descer da agulha no aparelho de som não era para iniciantes. Tinha que ter técnica, ir abaixando o som, fazendo o fade out. Mágico!
Fazia tudo com música, para desespero da minha mãe. Lia, estudava, tomava banho, sempre com o som rolando. Só morria de preguiça de levantar pra mudar o lado do disco ou da fita. Tinha trilha sonora pra tudo, até pra se acabar de chorar quando levava um fora, só ouvindo música dor de cotovelo.
Um dos presentes que mais amei e usei na vida foi o meu Walkman. Veio direto do Japão, um Sony que tinha o tamanho da fita, lindo, todo prata fosco. Como naquela época a gente tinha a liberdade de fazer tudo a pé, foi o meu grande companheiro durante anos. Não me separava dele, mas só dava pra ouvir uma fita por vez....caprichava na escolha, uma de 90 minutos, bem variada, no máximo levava mais uma na mochila.
A gente tinha que ter espaço em casa pros discos e pras fitas. Quando tive o meu primeiro apartamento na vida, era uma preocupação de verdade. Medimos a nossa pilha de discos, projetamos um móvel pra acomodar tudo aquilo, deixamos um espaço reservado pros discos que viriam. Toda casa dos anos 90 tinha que ter um armário especialmente projetado pra cds.
Dai veio o tal do Steve Jobs e colocou na minha mão, todas as músicas que eu quisesse.
Meu primeiro Ipod, o classic de 8 GB ainda tá vivo. Bem doentinho, problemas de bateria, chiados, apagões, não sei como vou me separar dele um dia. Já tenho alguns descendentes dele pela casa, mas ele é especial. Tem toda a minha vida musical dentro dele, todos os meus gostos. Quando ele chegou, eu coloquei cada uma das 8 mil músicas que ele tem. Alimentei ele com vários cds, alguns emules e bit torrents, confesso, mas a maioria das músicas foi colocada ali manualmente, foi escolhida, pensada. tem um porque.
Ter toda a sua biblioteca musical da vida, na mão, é uma coisa que só quem nasceu no século passado pode apreciar com o devido respeito. Você leva pro carro, leva pra viagem, pro trabalho, pro banheiro (sim eu continuo tomando banho com música) é demais! E tá tudo alí, naquele trocinho!
Pena que o Steve morreu sem que eu pudesse agradecer pessoalmente pela alegria que ele me proporcionou. Mais pena ainda porque ele seria o único capaz de resolver a questão dos auto falantes mágicos da minha trilha sonora!
domingo, 22 de setembro de 2013
Choque de gerações
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Amizades instantâneas
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Casamento de viúva, casamento de espanhol
Acho que sou movida a sol. Meu humor muda muito com as mudanças climáticas. Um dia cinza me tira todo o ânimo. Essa situação é perfeita para quem mora numa cidade climaticamente quadripolar como Curitiba, não é? O nosso tempo altamente variável deixa todo mundo meio esquizofrênico. Vamos do céu ao inferno em poucos graus, é desgastante, uma montanha russa de humores que só quem tem estofo e um sangue ítalo-germano-polaco-judaico-japonês-arábico aguenta.
Mas que o sol deixa todo mundo de melhor humor, é incontestável. Vejo isso quando vou trabalhar, a gente já chega no escritório com outra energia, todo mundo se cumprimenta, as risadas são ouvidas nos corredores. Todo mundo é mais simpático. O conversa é animada, a criatividade fica a mil.
Ai vira, fecha o tempo. Fechamos a cara também, é automático. Tá certo que fica todo mundo um pouco mais concentrado, não tem nada de bonito pra ver lá fora, não estamos pensando em achar um restaurante com varanda pra almoçar e aproveitar. O trabalho nos destrai. A gente se concentra e tira o atraso de todas aquelas coisas chatas que estão se acumulando na mesa, todo o trabalho burocrático é resolvido nesses dias.
Chuva com frio então, é um estado de espírito específico. Muito desagradável, por sinal. Ninguém gosta de chuva e frio. Chuva com sol, vá lá, a gente consegue resolver. Chuva faz bem pras plantinhas e tal, mas com o frio, danem-se as plantinhas, a agricultura, o planeta, só não me peça pra sair de baixo das cobertas.
Aposto que tudo de pior no mundo foi pensado num dia frio com chuva. Se alguém fizer uma pesquisa vai acabar descobrindo uma relação entre chuva e frio e declarações de guerra. Entre grandes fraudes bancárias, reuniões de corruptos. Duvido que alguém consiga pensar em fazer qualquer coisa de ruim a outro ser humano num dia maravilhoso de sol. Eu jamais conseguiria. Sair da caminhada, da bicicleta, sair da praia, do parque, pra sacanear alguém deliberadamente ? Difícil....
Sei que tem gente que pensa exatamente ao contrário, que são movidos ao frio, que detestam o calor, passam mal. São provavelmente seres pecilo térmicos que ainda não completaram a sua evolução para o raça humana, não podemos culpá-los. Sei que o suor, a lombeira também podem ser desagradáveis, mas convenhamos, a evolução dos ares condicionados existe para acabar com esses detalhes. No frio, aquele que dá nos ossos, não tem aquecedor que resolva. E volto a insistir, o humor da rapaziada em geral, num dia frio é visivelmente mais complicado.
Mas se você mora em lugares civilizados climaticamente, onde o verão é verão, onde o inverno é inverno, e eles ocorrem dentro dos três meses que lhe são de direito, não deve ter muitos problemas. Sempre existe a saída no aeroporto mais próximo para anular a estação que lhe desagrada.
Para os curitibanos, só nos resta a batalha diária de acertar o modelito e torcer para que a sua estação preferida domine algumas das 24 horas diárias.
Falando nisso, olha o sol querendo sair! Viva!
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Delicadezas
Na prática o Pinterest é um gigantesco mural onde você pode "pinar" (marcar) as coisas interessantes que você vê por lá. Lembra aqueles antigos quadros de cortiça, cheio de tachinhas (os pins em inglês) e recortes, pois é, o Pinterest é a versão digital dessa coletânea de assuntos, desse caos de ideias, que a gente não quer perder de vista.
São diversos segmentos, de citações a engenhocas, maquiagem e presentes, viagens e moda, design e arquitetura.
Daí você passeia pelas páginas e vai marcando o que gosta. Você pode montar seus próprios murais temáticos e pode ver o que as pessoas estão marcando e seguir os amigos. Enfim, mais uma rede social.
Mas o que eu mais gosto no Pinterest é o enorme ramo de artesanato, festas e coisas afins. É um mundo de sonho. Tudo é tão lindo, caprichado, bem sacado, poético, sensacional!
É o mundo da delicadeza. Um lugar onde as pessoas tem tempo de fazer tudo com muito detalhe, muitas delas à mão (o famoso DIY ou do it yourself), tudo nas cores mais lindas, com simplicidade e genialidade. É um encanto.
Por isso queria me mudar pra lá. Nesse lugar onde as pessoas tem tempo de fazer (e cozinhar, obviamente) jantares lindos, mesas incrivelmente decoradas com marcadores de lugar, enfeites maravilhosos.
Lá, as crianças tem os melhores brinquedos, nada industrializado. Os quartos são cheios de detalhes, cabanas, cores. Lá, elas brincam em casas nas árvores que foram feitas pelos pais, em castelos de papelão, naves espaciais.
Lá, ninguém mora em apartamentos minúsculos, são casas com cantos para qualquer desejos, infinitas soluções pra o que você pensar. Estantes recheadas de livros, painéis alucinantes pra fotos de gente feliz. Os jardins tem redes, piscinas lindas e longas cadeiras ao sol. À noite, tem lugar pra fogueira e marshmellow. Nas cozinhas mais fantásticas, só receitas saudáveis e lindas.
Lá também as pessoas são melhores, escolhem um monte de citações que enaltecem qualidades, amizades, virtudes. Tudo na mais delicada caligrafia.
Um refresco para esse nosso mundo cão. Pode até parecer meio chato, todo perfeitinho, mas ás vezes é um bálsamo se refugiar nesse mundo. Tem muita coisa genial e fácil de se trazer pro mundo real. Aliás, é tudo real. isso é o que me encanta. É como todo mundo poderia viver. É um mundo que existe.
Pinterest devia ser ensinado na escola!
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Santa ignorância
Nao dá mais pra ver o dinheiro público indo pelo ralo, o Congresso e o Senado empurrando com a barriga questões básicas de civilidade, seriedade, transparênca. A saúde então, que tristeza. Às vezes nem dá pra acreditar. É isso mesmo? A entidade condenada por desvio de verbas ainda assina convênio com o Ministério? Gente, na vida real, se você me sacaneia eu te tiro da minha lista, simples assim! Novo julgamento pros mensaleiros condenados, sério? Que horror!
Acho que vou me alienar. Desistir de assistir e ler s jornais, parar de saber dessa negatividade toda. Pra mim chega! E como jornalista, não é uma decisão fácil, mas necessária. Preciso alimentar meu espírito com coisas melhores. Vou sair do ar. O mundo com certeza ficará mais leve, como nas férias. É isso. Vou ficar duas semanas na santa ignorância!
Podem me criticar, dizer que isso não muda nada, só empurra as mazelas pra baixo do tapete. Ou, pior, que isso não é condizente com o momento atual, época de engajamento, indignação e manifestações. Tenho plena noção de tudo isso. Mas acho que preciso dessa desintoxicação. Preciso desse distanciamento pra poder voltar a me indignar sem sofrer, sem a angústia. Preciso de ar.
E quem sabe quando eu voltar o mundo me surpreenda. Poliana perde!
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Onde você estava em 11 de setembro?
Há 12 anos atrás, exatamente nesse horário estava petrificada em frente à tv assistindo à cena mais surreal que já vi na vida. Lembro da sensação de não conseguir acreditar no que via. De saber que não era mas querer acreditar que era tudo um filme muito bizarro. Lembro de não saber o que sentir, um vácuo enorme, um novo tipo de emoção me assombrou, não era medo, não era tristeza e até hoje não sei que nome dar ao sentimento amargo que me tomou vendo aquela fumaça saindo do World Trade Center, em NY.
Independente de tudo que representava para o mundo, aquele lugar era especial pra mim, particularmente. Era o lugar que eu sempre, sempre ia quando estava em NY. Adorava subir naqueles elevadores supersônicos que subiam em dezenas como se fossem unidades. Adorava o desenho dos pontos turísticos nas janelas, adorava sair no terraço e ver o mundo tão de cima. Aquela cidade tão frenética que ficava calma pelo tempo que se estava lá. Pequenos pontinhos se movendo pra todo lado. Até o vai e vem barulhento dos turistas (ao qual eu não me incluía, é óbvio) me alegrava. A fila, os funcionários, as bugigangas pra comprar. Sempre ia ao WTC, sempre. Adorava escrever ali. Ainda tenho os cadernos. Lá eu conseguia a calma para botar os pensamentos no lugar e escrever.
Ví o segundo avião, que dor! Parecia uma flechada em mim. E de repente, a poeira e o silêncio. Inacreditável.
Telefonemas para saber da minha irmã que mora lá. Ela estava a salvo junto com todos os amigos que conhecíamos. Um alivio imenso.
Fiquei dias grudada na tv, ficava vendo aquelas cenas dos escombros e pensava, pra onde estão levando o meu prédio? Pra onde estão levando a vida que ele representava?
O mundo nunca mais foi o mesmo. Ainda tenho a sensação que não saímos dos escombros daquele dia, ainda não conseguimos ser livres e felizes como eramos até então. Um pouco da nossa leveza se foi. Nasceu naquele dia a desconfiança sem limites, a porta fechada ao estranho, a descordialidade, a irracionalidade, o ódio sem medida.
Aquele espaço parece me chamar. Voltei a NY e fui ver a enorme cicatriz deixada por aquele dia. Aquele buraco gigantesco me hipnotizou, o grande vazio que ele representava. Voltei ainda mais uma vez para ver o que estava nascendo. Ví o início da chamada reconstrução. Tantas energias depositadas num só lugar, tantos sentimentos.
Espero voltar lá para ver que a vida voltou a florescer e que as pessoas podem finalmente respirar novamente, sem olhar desconfiadas por cima de seus ombros. Espero ver que o homem vai conseguir vencer o pior dos sentimentos e transformar a cicatriz em algo de bom. Vou marcar a viagem para logo, ainda dá tempo?
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Dança das cadeiras
Meu filho é coxa, meu marido atleticano. Mas não foi sempre assim.
Minha família é coxa, a do meu marido também, ele foi o primeiro a ser do contra nessa história. Culpa do pai dele que não gostava muito de futebol então não levava o piá boleiro no estádio. Sobrou pra um tio que era atleticano, pronto, nascia à dissidência.
Em casa a história não foi assim, meu marido continua boleiro, joga e principalmente assiste muito futebol. E, para o meu desespero, passa futebol o tempo todo na televisão, já repararam? Além dos sensacionais jogos do campeonato brasileiro, podemos torcer pelos jogos dos campeonatos espanhol, francês, alemão, romeno, do Cazaquistão e até do Mali. E quando acaba a bola em campo, ufa, a gente pode se deliciar com os sensacionais programas sobre o futebol. A invenção do século são 90 minutos em campo, mas uma eternidade nas bancadas dos bate-bolas televisivos. Tenho a impressão que aquela dupla da ESPN é virtual, tão lá toda a hora que você liga a TV. Como podem ficar tanto tempo sentados numa bancada falando de 22 caras que correm atrás de uma bola!
Mas vamos voltar ao meu Atletiba particular. O Ben nasceu atleticano, com roupinha de bebê do time e tudo (tá certo que nunca usou, pois a mãe aqui tem certo horror a essas coisas). Cresceu na Baixada, foi mascote, teve até cadeira, com nome no campo, tudo como manda o figurino. Essa paixão durou 10 anos.
No nosso caso, a culpa daviracasaquice foi uma conjunção de fatores. O time tava muito ruim, vamos admitir, não ganhava nem par ou ímpar. A turma tava bem desanimada pela casa. Ninguém queria ir ao campo, o Ben sofria muuuuuito a cada derrota. Enquanto isso na torcida adversária, só alegrias. O Coxa tava invicto a não sei quantas partidas, e para completar o quadro, quase todos os amigos da escola eram Coxa. Quando digo quase é porque tinha mais um atleticano na escola toda, unzinho! A pressão foi subindo, subindo até um dia que meu filho teve a coragem de chegar pro pai e dizer: pai, acho que quero mudar de time, você vai ficar muito triste?
Ficou, é claro, mas fazer o quê? Por um lado eu, que nem gosto de futebol, fico triste por eles não partilharem mais uma coisa tão presente na vida dos dois. Eles não podem ir ao estádio juntos, não podem curtir os títulos (tá, tô falando dos nacionais, quando eles acontecem, a cada década). Não usam a mesma camisa...
Por outro lado é bacana porque eles convivem numa boa. Aprenderam a torcer na paz. Podem tirar sarro, mas é com moderação. Ninguém pode se exaltar muito na ofensa ao time adversário, tem que ter respeito. Afinal não dá pra ficar xingando o pai por ai.
sábado, 7 de setembro de 2013
Xícaras de açúcar
Como diz o meu pai, vizinho é o parente por parte de rua. É a pessoa que está mais perto de você, logo ali no corredor. Mas você sabe quem ele é?
Antigamente o vizinho era fundamental na vida das pessoas, ele cuidava da sua casa quando você não estava, regava suas plantas, cuidava de seus filhos se você tivesse que sair numa emergência. A confiança era total, a troca também, não só de xícaras de açúcar, a troca era no quesito solidariedade.
Meus avós chegaram no Brasil com uma mão na frente e outra atrás e os vizinhos fizeram parte da sua história. Foram eles que ajudaram a minha avó a aprender a se comunicar, a se orientar pela região, a conhecer a nova vida que ela estava descobrindo. A comunidade israelita era quase toda vizinha nos idos da década de 30, isso também ajudava. Um ajudava o outro, numa rede de cuidados que foi responsável pela vinda dos parentes que fugiam da guerra da Europa.
Meus pais tiveram seis vizinhos nos 30 anos que moraram na mesma casa. Uma família na frente e dois pares de vizinhos que se revezaram nas casas ao lado. Bolos que passavam pelo muro, crianças que iam de uma casa para outra sem aviso nem campainhas. Assim foi a minha infância. Aprendi a comer pão com manteiga e açúcar no vizinho, nunca esqueci. O Taco, da casa à esquerda, levava toda a criançada do bairro para expedições pela quadra.
A quadra, alias, era o nosso domínio e os vizinhos dessa área também eram todos conhecidos. Eu podia ir sozinha até a banquinha do seu Zé, lá na esquina de baixo. Quando ia na casa dos meus avós, podia ir de bicicleta até a entrada do estacionamento, quatro casas além. E quem controlava era o vizinho, não meu avô.
Hoje em dia, nos apartamentos, essa relação é bem diferente, ninguém conhece ninguém, mal se falam no elevador. Ninguém conhece a casa do outro.
Tenho a sorte de morar num prédio legal. O pessoal se organiza pra fazer encontros e jantares com os moradores. Como tem dois blocos, confesso que não conheço bem muitos do 01, mas a turma do 02 é bem simpática. Ovos e produtos de limpeza vivem passeando no elevador, as crianças também. Tem conversa na porta do elevador, tem carro novo que vai parar na sua vaga por que a vizinha não consegue colocar na dela. Tem vizinha que passeia o cachorro do outro. Temos espaço pra pequenas gentilezas, o que é fundamental pro convívio.
Por isso, na próxima vez que você entrar no elevador, quebre o gelo, conheça seu vizinho, você pode se surpreender com a amizade que pode estar escondida na porta ao lado.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Tempos modernos
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Shaná tova
É o momento de repensarmos no ano que passou, relembrarmos as coisas importantes que aconteceram, revermos nossas ações. Tudo isso numa reflexão profunda que culmina com o Dia do Perdão, Yom Kipur, daqui há dez dias, quando realmente o bicho pega.
É um tempo de agradecer. Agradecer toda essa vida feliz que às vezes a gente esquece que tem. Mesmo com todas as mazelas, e elas podem ser muitas, a gente sempre pode parar e ver que o que temos é geralmente mais do que precisamos, que nossa vida é um presente e que as alegrias estão em toda a parte se a gente se der o trabalho de simplesmente percebê-las.
Particularmente, Rosh Hashaná tem tudo a ver com a família. A família estendida, com pais, filhos, tios e primos, agregados, barulho, animação. Ainda procuro (e às vezes até vejo) meus avós quando entro na sinagoga, mesmo passados 20 anos da sua morte. Sentamos todos juntos, eu e minhas tias e primas de um lado e os homens da família do outro, como é o costume aqui. Rezamos, rimos e nos emocionamos juntos. Comemos juntos e até criamos nossas próprias tradições. Não existe Rosh Hashaná sem Fogo Paulista, nem Yom Kipur sem chocolate quente, mas isso você não achará em livro algum, é nosso, particular, sagrado!
Todos os rituais: a roupa nova, os sons de algumas rezas que levam dias pra sair da cabeça, a espera e a emoção do toque do Shofar, os pedidos, tudo isso marcado na nossa vida, cheios de memórias.
Mas, Rosh Hashaná é um tempo de desejar. Às vezes é o cura de uma pessoa querida, a volta de quem está longe, a viagem desejada, um novo recomeço. Mas, sobretudo, desejar o bem, a saúde, a paz, as coisas boas. Desejar pra si e principalmente ao amigo, ao próximo, ao mundo.
Então, que esse ano novo que se inicie chegue brando e repleto de paz. Que nos traga a todos o que mais queremos. Que nos embale como um carinho, suave e confortante. Que sejamos todos felizes. Shaná Tová!!!
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Aventuras na Fervida
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Lorena
Me desculpe quem não conheceu a Lorena mas hoje o texto é pra ela.
Conheci a Lore a vida inteira, desde o maternal, mas foi numa viagem, a gente com treze quatorze anos, que a amizade explodiu. Isso mesmo, foi como fogos de artifícios. A gente se achou nesse mundo tão complicado da adolescência. Quem teve quinze anos sabe do que estou falando. De repente você acha uma pessoa que vira o seu tudo. É pra ela que você conta suas histórias, chora suas mágoas, divide o último pedaço do bolo que você mais gosta, da as melhores risadas, conta seus segredos, troca suas roupas, ouve suas queixas, escuta seus concelhos pede sua aprovação, mostra seu verdadeiro eu. Espero muito que você tenha tido uma Lorena na sua vida.
A gente era um grude total por mais de quatro anos. Saía do colégio, chegava em casa e já ligava uma pra outra. Quarenta e cinco minutos fáceis de se gastar, a irmã gritando na extensão, desliga logo! Nos finais de semana a Lore vinha pra minha casa na sexta e só saía, muito a contragosto, no domingo. Essas noites eu guardo como um tesouro no lugar mais sagrado. Consigo ver a gente rindo e conversando até o sol raiar. Lembro da cara dela quando tinha algo especial pra dizer. Pura emoção. E a gente andava de expresso, cruzava a cidade pra ir de casa em casa. Os lanches na copa da casa dela antes de ir pro movimento juvenil, palco maior dessa amizade. Muitas histórias, muitos lugares que até hoje me levam direto pra essa saudade.
Tive sempre a sensação que tinha prioridade sobre ela nessa época, era a MINHA melhor amigo e tinha um ciúmes imenso dela. Mas acho que o dom maior da Lore era fazer todo mundo se sentir único, especial, próximo. Ela era muito amiga de todo mundo, sabia acomodar todo mundo, dava atenção pra todo mundo.
Quando falo da Lorena geralmente acabo falando muito de mim. Acho que é porque ela deixou muitas marcas e eu carrego muito dela comigo. Talvez porque a gente fosse quase uma pessoa só, a loira e a morena; a atleta e a bailarina; a sentimental e a racional; a sensata e a carente. E às vezes a gente trocava muito de papel nessa amizade tão próxima.
Hoje vejo meus filhos nessa idade e fico procurando as Lorenas deles. Fico esperando ver a cumplicidade, a confiança cega e o amor que essas amizades trazem consigo. Desejo muito isso pra eles.
Perdi a minha Lore muito cedo. Cedo que dói. Porém as memórias e esse amor imenso eu não troco por nada, só por ter ela de volta!