A
campanha eleitoral fez a sua primeira vítima nas terras das araucárias e não é
nada disso que você está pensando. Não se trata de morte, mas é tão triste
quanto.
Perdemos
a única intervenção pública feita pelos grafiteiros Gustavo e Otávio
Pandolfo, internacionalmente
reconhecidos pelo simpático nome
de OSGEMEOS.
O
lindo desenho feito pelos OSGEMEOS, ficava no muro de um estacionamento na
Praça 19 de Dezembro, a do Homem Nu, e era de uma delicadeza infinita.
Pequenininho, diferente das tantas produções gigantescas que os artistas já
fizeram pelo mundo afora, era quase um segredo no meio de várias pichações e
outras figuras. Quando o vi pela primeira vez, achei que estava me confundindo,
uma obra de tanto valor assim, solta, sem nenhuma referência, podia estar
enganada quando à autoria. Por outro lado, o traço tão característico da dupla
não deixava margem para muitas dúvidas. Era um legitimo OSGEMEOS: as
proporções das figuras, as cores, tudo lá. Às vezes mudava o meu caminho
só para dar uma passada por lá, dar um alô pra essa figura que alegrava o meu
caminho.
Não
mais.
A
fachada do muro foi toda pintada de azul e a minha querida figurinha deve estar
agora sob as letras da infame propaganda eleitoral.
Isso
me fez pensar na importância que damos (damos?) para a famosa street art. Não é
pichação, nem mesmo grafite, é o upgrade de tudo isso. No mundo todo, artistas
estão cada vez mais sendo reconhecidos pelos seus trabalhos feitos nas ruas.
Jean Michel Basquiat foi um dos primeiros, lá pelos anos 80. O artista deixava
seu trabalho quase anonimamente pelas ruas de Nova Iorque. Hoje, a coisa
está no mundo todo. Taí o Beco do Batman, em São Paulo, que já virou item
imperdível dos roteiros turísticos mais descolados.
Alguns
artistas preferem pequenos espaços, pilares de viadutos, muros, às vezes até um
poste bastam. Outros assumem grandes fachadas como o simpático Ray Charles que
nos convida para um gigante sorriso na rua XV de Novembro. Outro exemplo.
A Praça Espanha vai virar um grande museu a céu aberto, graças aos
artistas que vão emprestar seu talento aos feiosos tapumes que
cobrirão o espaço durante a sua reforma. Como ficar indiferente?
Adoro
gente que se apropria da arte dessa forma, adoro ver a cidade tomada pela arte
dessa forma. São coisas que transformam a nossa percepção, provocam reações,
quebram a monotonia do cinza e geralmente alegram a nossa alma. Às vezes são
ácidos, às vezes são poéticos. Belos pra mim, não necessariamente serão para
você. Mas estão lá, quase gritando pela nossa atenção entre o vermelho e o
verde do sinaleiro, ou surgindo quando você menos espera, ao dobrar a esquina.
Esses
dias achei um mosaico num poste da ciclovia que liga o Bosque do Papa ao Parque
São Lourenço, achei super simpático. Na mesma trilha tem uma manilha de concreto
que virou uma cabeça de Playmobil, sensacional. São pequenas surpresas
escondidas na paisagem urbana. Me sinto às vezes como criança num gigantesco
caça ao tesouro, indo de uma pista a outra, desvendando os desenhos espalhados
por ai. Tem diversão melhor?
A gente tem que
personalizar as cidades cada vez mais, se apoderar delas, torná-las nossa. A
street art é isso, é a nossa decoração na nossa cidade. Cuide, preserve,
patrocine. Se você tiver a sorte de ter um bom exemplar dela na sua casa, muro,
parede, resista aos nobres vinténs dos candidatos da estação. Lembre-se, eles
podem ser efêmeros, a sua arte não.
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