Com cinco
pedras fizemos um apacheta. Com cinco pedras construímos um totem que
simboliza a nossa ligação. Na verdade, a apacheta simboliza uma
homenagem a Pacha Mama, mãe terra, conforme nos ensinava o
nosso guia peruano. Um agradecimento a tudo que ela nos dá. Mas para nós
cinco era bem mais que isso, era o fim de uma difícil caminhada pelas
montanhas andinas. Era a celebração de chegar ao topo depois de horas de
subida, na altitude, num grande desafio físico para nós todas. Mas muito mais.
Nossa
caminhada começou muito antes, aos doze anos, quando nos conhecemos. Nem somos
da mesma cidade, Foi um percurso longo recheados de encontros semestrais em
acampamentos, uma indo pra casa da outra, feriados e carnavais juntas. Por
algumas, a empatia foi imediata, por outras, a amizades foi construída passo a
passo. Algumas têm historias paralelas. Cada combinação entre nós é
diferente. Dez relacionamentos misturados em um só.
O
ponto alto foi um ano de convivência num país distante. Experiência que deixou
marcas profundas em cada uma de nós. Dividimos quartos e a preciosa experiência
de se ter 18 anos e poder descobrir o mundo. Lá, vivemos o prazer maior da vida
e a dor imensa da perda de alguém que se ama. Cicatrizes que começam em mim e
acabam nelas.
De
lá pra cá fomos montando a nossa história, Teimamos em ser amigas. Cuidamos,
alimentamos essa amizade. Vieram os namorados, os casamentos, os filhos e todos
foram abrigados nesse grande abraço. Juntamos a tribo toda todo ano, as
crianças já esticando esses laços que nos unem. Gastamos todas as nossas milhas
em celebrações lindas e emocionantes. Também estávamos lá no momento do luto,
do abraço, da lágrima. Sempre lá, juntas no lado a e b da vida.
Foram
anos de segredos, brigas, ciúmes, implicâncias, risadas, cumplicidade,
conquistas, vitórias, festas, carinho, discussões, porres, conselhos, teatros,
bares, estranheza, aconchego, cobranças, generosidade, entendimento, telepatias, amor. Conversas de todo tipo, em qualquer lugar. Cartas,
telefonemas, grupos de whatsapp,
Aos
quarenta vieram novamente às viagens, o começo de tudo. Quinze dias pelo mundo,
de dois em dois anos, para acender tudo isso, o bom e o nem tanto. Quinze dias
de intensivo. Quinze dias onde voltamos a ser nos cinco, nada mais. Ainda
aprendemos muito uma com a outra, uma sobre a outra.
Quinze
dias que nos levaram dessa vez ao Peru, a uma montanha perdida no Vale Sagrado.
Aquele momento na montanha foi o mais forte da viagem. Cinco amigas abraçadas
ao redor do totem. Cinco pedras empilhadas. A representação física de uma
amizade onde cada uma se apoia na outra, por mais diferentes que sejamos. Um
agradecimento por cada uma de nós estar ali, estar com as outras, querer estar
com as outras. Nenhuma palavra foi dita, estava tudo explicado. Cinco amigas,
cinco pedras!