Dois metros e meio, esse parece ser o novo numero mágico da
arquitetura. Estive em Londres recentemente e essa era a medida de quase todas
as coisas interessantes que vi por lá.
A primeira experiência com essa medida foi o meu quarto de
hotel. Fiquei numa cadeia holandesa chamada CitizenM. O conceito são quartos
pequenos, altamente tecnológicos e espaços multi coloridos no lobby onde a vida
acontece 24 horas e você pode se sentir numa festa badalada.
Sem brincadeira, o quarto tinha no máximo dois e meio de largura
e uns cinco de comprimento. O lado bom é
que a cama ocupava um espaço total de parede a parede no canto do quarto. Maravilha!
Minha mala teve que ficar no chão mesmo porque a mesa era
muito estreita pra ela, mas deu espaço pra tudo. O hotel me fez sentir que
estava num misto de episódio do seriado Black Mirror (o segundo da primeira
temporada) com Blade Runner (o primeiro). Check in e out sem recepção, apenas
computadores em mesas espalhadas pelo lobby. O quarto todo controlado por um
ipad onde você podia abrir e fechar cortinas, acender luzes e tv e até criar
moods onde luzes coloridas e musicas obedecem ao seu estado de espírito. Tudo
num touch, ou quase, uma vez que meu sistema deu tilt e fiquei completamente
sem controle do quarto. Mas no fim eu acabei adorando esse quarto/útero/capsula.
Passeando por Shoreditch, ali pertinho do hotel, me dei com
o mesmo conceito, só que na versão shopping. O Boxpark é um popup shopping
feito de contêineres onde as lojas também não passam dessa medida de dois
metros e meio de largura. Numa quadra cabem 41 operações comerciais no térreo e
mais 20 operações de alimentação numa praça no 1º. andar. Só lojas super
modernas e antenadas com esses novos tempos. Show.
Se você pensar que essa medida é mais ou menos a medida de
uma garagem para carro, pense em quantos empreendimentos as cidades deixam de
ter por priorizar seus espaços para o automóvel. Cada carro ocupa isso nas cassas das pessoas
e ocupa isso novamente no trabalho.
Se as cidades entendessem o que podemos fazer com todo esse
espaço que o carro exige, só para ficar parado, fora as ruas, poderíamos transformar
radicalmente nossos centros urbanos.
Carro, já diria o meu pai, Jaime Lerner, é o cigarro do
futuro. Temos que aprender a viver sem carro, ou melhor, dar um uso mais racional
para ele, não sermos mais servos dos possantes. Carro é pra passeio, viagem. Dentro das cidades: transporte público,
pequenos carros compartilhados e bicicletas.
Cada vaga, cada estacionamento tem potencial pra voltar para
o cidadão em forma de espaço de qualidade e lazer. Afinal em dois metros e meio, eu vi, cabe o
mundo.
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