Dentro de todas as mudanças que a cidade
vem sofrendo com o seu crescimento acelerado, duas, pra mim, são das mais terríveis.
A primeira é de ordem visual; Curitiba está toda pichada!
A pichação parece uma doença contagiosa
que vai se alastrando de casa em casa. Não deixa um espacinho em branco. A
coisa saiu do controle e vem se espalhando por bairros antes bucólicos e
limpos. Não faz descriminalização de status social, função urbana, forma e
altura. O ataque é fulminante.
Mais que uma questão estética, a pichação
revela um lado triste da cidade, o desrespeito do cidadão para com o outro e
para com a cidade em si. Tão acostumada com uma cidade onde o orgulho do
cidadão sempre foi um ponto super positivo, ver essa degradação da cidade me
atinge como um raio. O que passa na cabeça dessa gente que se acha no direito
de sujar o mundo dessa maneira? Antes existia até uma certa ordem nessa baderna.
Pichar muros, portas de aço de lojas, tapumes, casas abandonadas, valia. Prédios
históricos, casas simples, igrejas, prédios de função social e grafites
bacanas, não. Não mais. Lateiro não respeita nem seus "irmãos
nobres", nem arte, nem nada. Triste demais. A pichação é puro descaso,
desprezo. A pichação é puro desamor.
A segunda é o aumento das pessoas que
tenho visto dormindo na rua. Talvez não seja uma questão urbana, municipal, uma
vez que é de ordem social e econômica, mas o reflexo disso acontece em cada
marquise, em cada praça, em todo lugar que se olha. O reflexo acontece na
cidade. Sempre tivemos nossos moradores
de rua. A rua XV era recheada deles. O centro sempre teve essa população
flutuante. Porém, nos bairros isso era coisa difícil de ver. Não mais. A visão
dessas pessoas está logo ali no banco, na porta da loja, na ciclovia, onde
tiver o menor sinal de abrigo. A crise está ai, e essa realidade se veste de
cobertores puídos e colchões esfarrapados.
Esse empobrecimentos real e visual da
cidade a céu aberto tem que ter um fim. Se não podemos controlar a
economia brasileira, temos que reforçar nossas redes de apoio. Conheço os
projetos que a cidade oferece, são muitos, das sopas noturnas ao albergamento. Tem
que ter mais! Precisamos fazer mais como cidadãos também. Apoiar, ajudar, avisar,
nos voluntariar, aquecer.
Temos também que proteger a cidade dessa
praga em forma de spray. Precisamos de leis mais duras, venda mais fiscalizada
dos produtos, denuncia anônima e premiada, penas com trabalhos voluntários aos
sujões, mutirão de limpeza, projetos de recuperações de áreas degradadas. Tudo
isso e mais. Acho que acima de tudo temos que nos reeducar. Redescobrir o
respeito, resgatar nosso orgulho e principalmente, refazer os laços que nos
unem, cidade e cidadão.
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