Tenho certa obsessão pela decoração de Natal. Talvez por ser judia
e não celebrar a festa como os cristãos celebram, dou muita importância à
decoração urbana do Natal. Como não tínhamos nem pinheirinho, nem presentes e nem
ceia, meu Natal se resumia a um lindo passeio de carro na noite do dia 24 para
uma competição de contar os pinheirinhos alheios e as grandes decorações de
Natal das lojas tradicionais e das casas mais abastadas. Era mágico. A cidade
ficava linda e acolhedora. Cada decoração era como uma forma de carinho para
com a cidade. Só faltava a neve.
Passamos depois para uma época onde a decoração de Natal virou uma
febre. Havia concurso para eleger a casa mais linda, a loja mais bacana, a rua
mais enfeitada. Foi uma overdose. De repente todas as ruas e casas tinham as
famigeradas luzinhas numa banalização de algo que deveria ser feito com cuidado
e criatividade. Uma ou outra iniciativa que valiam a pela, a casa do Bacacheri,
a Rua Elbe Pospissil, alguns prédios elegantes, lojas bem intencionadas se
perdiam num mar de pisca-pisca e Papais Noéis desgrenhados e suicidas,
pendurados em para quedas, despencando pelas sacadas.
Aí, de repente, a indiferença. Ninguém quer mais saber do assunto,
fora os grandes shoppings e uma ou outra sacada iluminada. Que pena! Sinto
falta desse cuidado. Desse carinho. Sinto falta daqueles pinheirinhos duros nos
postes de luz que a prefeitura fazia nos anos 70. Das árvores enfeitadas com lâmpadas
coloridas. Da casa e da loja Hermes Macedo. Quero de novo a rua XV com aquela
Galeria de luz maravilhosa que também já não se faz mais.
Tudo bem o Natal já passou. Mas fica a sensação de que a gente tem
que cuidar e enfeitar a cidade. Pessoa física, sempre. Fui pra pequenos
povoados na Itália e na Espanha onde se premiam as casas mais floridas. Varias
categorias, de vasos nas janelas a jardins inteiros. È lindo! Provinciano, pode
ser, mas doce demais. Em Carmel, na Califórnia, as casas tem nome, são quase
gente! Isso é sensacional, é o respeito e o carinho pelo lugar onde se vive.
Quem vai pixar o muro cheio de flor?
Então pra 2015, o desafio é esse, vamos enfeitar a cidade. Pintar
a casa, arrumar o jardim, fazer uma bela vitrine, arrumar a calçada, plantar
uma arvore, chamar um artista pra pintar o muro, mudar o letreiro, recuperar as
fachadas, combinar com o vizinho a decoração do Natal que vem. Cuidar da
cidade, com carinho.
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