Estive no Peru recentemente, fiquei impressionada com os
contrastes e as belezas do nosso vizinho. Tão perto e tão longe da nossa
realidade,
Perto nos piores quesitos. Perto na
pobreza, na poluição visual, na ocupação irresponsável e irregular dos morros
das cidades, na invasão da propaganda política em todos os muros de todas as
casas ao longo das estradas, no descaso com a sujeira e o lixo quando se vira a
esquina do centro da cidade.
Mas o que me chamou mais a atenção foram
nossas diferenças.
Somos diferentes na nossa cidadania.
Chequei em meio a uma greve geral do setor turístico. Uma mega manifestação
popular conta a privatização dos principais pontos e serviços que são uma das
maiores fontes de riquezas do país. Participamos do Paro em Cuzco,
mesmo sem conhecer os dois lados da história. As manifestações foram
super organizadas, pacíficas, reunindo os diversos setores desse poderoso setor
da economia. Todo mundo na rua, todos os sítios arqueológicos, museus e igrejas
fechados, as estradas bloqueadas. A mensagem dada por grupos coloridos em
roupas típicas. Nada de quebra-quebra, nem carro de som, nem políticos em
palanques. Confesso que, jornalista que sou, fiquei surpresa de não ver um
único caminhão de externa de TV cobrindo as passeatas, nem um microfone, nem
uma câmera. Tudo sem muita comoção, tudo super ordenado. Porém, o que faltou em
ardor, sobrou em verdade. No dia seguinte o projeto de lei foi recusado.
Vitoria! Também não teve comemoração. Vida normal e bora visitar as ruínas de Saqsaywaman!
Nunca vi nada parecido! Não é uma questão de paixão, de partido, de uma
discussão política, de lados. É Uma questão de direitos, de estar certo ou não,
de exigir um posicionamento de quem faz as leis. Mostrar a força sem usar a
força.
Somos diferentes também na nossa relação
com a nossa identidade. Obviamente estive principalmente no interior, em
regiões turísticas, fiquei apenas um dia em Lima que é uma cidade grande,
misturada, globalizada. Onde estive, o colorido dos tecidos e do artesanato se
mistura com o colorido das pessoas na rua. Claro, tem mulheres e crianças
excessivamente montadas, carregando baby alpacas
no colo, para que você as fotografe em troco de uns trocos, mas a verdade é que
você pode ver muita gente que respeita os trajes típicos de suas aldeias e
vilas. As saias coloridas, os tecidos nas costas com crianças penduradas, os
chapéus e as tranças estão em toda parte. Esses trajes servem pra gente saber
se as pessoas são solteiras, casadas, se falam castelhano ou quéchua, entre outros
códigos, Homens e jovens nem tanto, é verdade, mas as mulheres do Peru carregam
suas origens pra todo canto, envoltas em camadas de tecidos. É bonito de ver, essa
coisa tão permeada na vida, na rua, no cenário. O Peru tem uma cara, um rosto.
Somos diferentes nas nossas tradições.
Nosso cadinho cultural nos afastou muito dos nossos índios. Nossa
heterogeneidade nos distanciou até dos colonizadores portugueses. Ter uma
ancestralidade Inca faz muita diferença e a presença espanhola também se vê o
tempo todo. A herança Inca é linda, poderosa. Ninguém fica alheio à magia de Machu Picchu. A
energia das pedras, templos e terrazas de
qualquer sitio Inca mexem com a gente. A relação com a natureza, os valores
ligados à terra - Pacha Mama,
estão em toda parte. Difícil não ficar atônito diante das montanhas, do Vale
Sagrado, do lago Titicaca. Difícil não ver como o meio influencia a
vida. Como a natureza moldou essas culturas todas.
Adorei o Peru. Adorei estar em contato com
as veias abertas da América Latina de uma maneira que não sentimos aqui no
Brasil. Não somos dessa mesma raça, não temos essa mesma origem, não temos esse
tipo de latinidade. Estamos tão perto e tão distantes dessas culturas tão
interessantes. Não somos hermanos, não rezamos para os mesmos deuses, uma pena!
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