Todo mundo sabe que reformar a casa é uma das piores
encrencas em que você pode se meter de livre e espontânea vontade. Todo mundo
fala do inferno que é uma reforma. Todo mundo fala que ficar na casa que está
sendo reformada é loucura. O quê eu fiz? Comecei uma reforma na minha casa e
vou ficar morando nela.
Moro há vinte anos no
meu apartamento. Vim pra cá quase acampada, com os moveis da casa antiga que
pareciam de boneca na nova escala. Fiz a cozinha, os banheiros, a marcenaria do
meu quarto e vim, louca pra viver na casa nova. Aos poucos fui completando os
espaços, o quarto do primeiro filho, o quarto da filha logo depois, o
escritório para trabalhar em casa e cuidar das crias. Sofá novo, mesa de jantar
para oito pessoas (luxo!), cama nova e ponto. O resto ficou pra depois.
A vida foi se fazendo
na sala íntima. Minha sala "de visita" virou um imenso playground.
Tive todo tipo de brinquedo que você possa imaginar na sala mais bacana da
casa. Dependendo da idade das crianças, você podia achar cavalinhos de
balanço (eram dois), tico-tico (também dois), carrinhos de bonecas
(bem mais que dois), piscina de bolinha e até uma gangorra inflável. Já tivemos
bichos de pelúcia enormes, maiores que as crianças. Já tivemos bicicletas,
trilhos do Thomas o trenzinho, cozinhas e panelinhas, pista de Hot Wheels,
mesinha de atividades, torre de Lego gigante, túnel, barraca da Mônica. Já fizemos
jantares para mais de 12 Barbies, incluindo todo o elenco do High School
Musical.
Nessa sala meus
filhos reinaram absolutos. Teve trave de futebol desenhada em cada parede, onde
disputamos inúmeros campeonatos de gol-a-gol. Teve cesta de basquete. alvo
de dardo. Minha filha estreiou diversos shows da Hannah Montana com plateia de
bonecas. Dançamos folclore, rock, lentas, todos os estilos por ali.
As crianças foram
crescendo e os trambolhos deram lugar pras festas de pijamas onde cabiam mais
de 10 crianças, fácil, fácil. Os colchões
enfileirados em dupla, as crianças deitadas no sentido lateral, montes delas.
As paredes dessa sala viram muita bagunça, tudo
devidamente documentado nas paredes, rabiscadas todas do piso ao teto com os
primeiros desenhos, nomes, escudos de time, spray colorido de cabelo, formulas
matemáticas, mapas, assinaturas, citações, garranchos e o que você quiser
imaginar.
Aí a vida passou e as crianças viraram adolescentes e
toda a parafernália que eles querem se resume num celular e um vídeo game.
Posso enfim tomar posse do território que me tomaram por usucapião. Minha sala
vai finalmente ser uma sala. Depois de anos protelando, me enchi de coragem, é
agora!
Como toda reforma que se preze, fomos invadidos por
uma série de "já que" e a obra que ia ser só na sala avançou pelos
quartos e banheiros, fincou bandeira na churrasqueira e na cozinha e o que
seria breve deverá consumir meu ano, minhas reservas e certamente toda a minha
(pouca) paciência.
A sala das
brincadeiras está lotada de caixas, colchões, armários, roupas, quadros,
livros, malas, numa babel que me dá vontade de chorar. Nunca esteve tão
triste.
Tudo começou por
causa dela. Então mentalizo a história da Fênix que renasce das cinzas. Sonho
com a nova estante cheia de livros, o novo sofá aconchegante pra família e amigos,
o telão dos filmes dos dias de chuva, as conversas sem fim nas novas poltronas,
os novos momentos de alegria que virão. É o que me faz resistir, é o que me faz
aguentar o pó e a barulheira. Essa sala merece!
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