quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Desejos
Mais amigos, mais risadas, mais brigadeiros, mais gentileza, mais educação, mais sinceridade, mais musica, mais livros, mais amor, mais cachoeiras, mais honestidade, mais perseverança, mais carinho, mais graça, mais elegância, mais cinema, mais alegria, mais embalo na rede, mais saúde, mais sonhos, mais viagens, mais sentimento, mais sol, mais praia, mais justiça, mais simplicidade, mais tempo, mais sono, mais realizações, mais discrição, mais sorrisos, mais consciência, mais fruta gelada, mais sorvete, mais segurança, mais brincadeira, mais seriedade, mais sensibilidade, mais energia, mais mesa farta, mais aventuras, mais companheirismo, mais surpresas, mais sorte, mais cor, mais perdão. mais mar, mais vento, mais tranquilidade, mais compaixão, mais lua cheia, mais pegada, mais sabedoria, mais entusiasmo, mais diversão, mais esportes, mais calma, mais generosidade, mais tesão, mais união, mais paciência, mais integridade, mais dança, mais família, mais suavidade, nais gargalhadas, mais inteligência, mais emoção, mais esperança, mais paz! Tudo isso pra já! Feliz 2016!!
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Tão longe, tão perto!
Estive no Peru recentemente, fiquei impressionada com os
contrastes e as belezas do nosso vizinho. Tão perto e tão longe da nossa
realidade,
Perto nos piores quesitos. Perto na
pobreza, na poluição visual, na ocupação irresponsável e irregular dos morros
das cidades, na invasão da propaganda política em todos os muros de todas as
casas ao longo das estradas, no descaso com a sujeira e o lixo quando se vira a
esquina do centro da cidade.
Mas o que me chamou mais a atenção foram
nossas diferenças.
Somos diferentes na nossa cidadania.
Chequei em meio a uma greve geral do setor turístico. Uma mega manifestação
popular conta a privatização dos principais pontos e serviços que são uma das
maiores fontes de riquezas do país. Participamos do Paro em Cuzco,
mesmo sem conhecer os dois lados da história. As manifestações foram
super organizadas, pacíficas, reunindo os diversos setores desse poderoso setor
da economia. Todo mundo na rua, todos os sítios arqueológicos, museus e igrejas
fechados, as estradas bloqueadas. A mensagem dada por grupos coloridos em
roupas típicas. Nada de quebra-quebra, nem carro de som, nem políticos em
palanques. Confesso que, jornalista que sou, fiquei surpresa de não ver um
único caminhão de externa de TV cobrindo as passeatas, nem um microfone, nem
uma câmera. Tudo sem muita comoção, tudo super ordenado. Porém, o que faltou em
ardor, sobrou em verdade. No dia seguinte o projeto de lei foi recusado.
Vitoria! Também não teve comemoração. Vida normal e bora visitar as ruínas de Saqsaywaman!
Nunca vi nada parecido! Não é uma questão de paixão, de partido, de uma
discussão política, de lados. É Uma questão de direitos, de estar certo ou não,
de exigir um posicionamento de quem faz as leis. Mostrar a força sem usar a
força.
Somos diferentes também na nossa relação
com a nossa identidade. Obviamente estive principalmente no interior, em
regiões turísticas, fiquei apenas um dia em Lima que é uma cidade grande,
misturada, globalizada. Onde estive, o colorido dos tecidos e do artesanato se
mistura com o colorido das pessoas na rua. Claro, tem mulheres e crianças
excessivamente montadas, carregando baby alpacas
no colo, para que você as fotografe em troco de uns trocos, mas a verdade é que
você pode ver muita gente que respeita os trajes típicos de suas aldeias e
vilas. As saias coloridas, os tecidos nas costas com crianças penduradas, os
chapéus e as tranças estão em toda parte. Esses trajes servem pra gente saber
se as pessoas são solteiras, casadas, se falam castelhano ou quéchua, entre outros
códigos, Homens e jovens nem tanto, é verdade, mas as mulheres do Peru carregam
suas origens pra todo canto, envoltas em camadas de tecidos. É bonito de ver, essa
coisa tão permeada na vida, na rua, no cenário. O Peru tem uma cara, um rosto.
Somos diferentes nas nossas tradições.
Nosso cadinho cultural nos afastou muito dos nossos índios. Nossa
heterogeneidade nos distanciou até dos colonizadores portugueses. Ter uma
ancestralidade Inca faz muita diferença e a presença espanhola também se vê o
tempo todo. A herança Inca é linda, poderosa. Ninguém fica alheio à magia de Machu Picchu. A
energia das pedras, templos e terrazas de
qualquer sitio Inca mexem com a gente. A relação com a natureza, os valores
ligados à terra - Pacha Mama,
estão em toda parte. Difícil não ficar atônito diante das montanhas, do Vale
Sagrado, do lago Titicaca. Difícil não ver como o meio influencia a
vida. Como a natureza moldou essas culturas todas.
Adorei o Peru. Adorei estar em contato com
as veias abertas da América Latina de uma maneira que não sentimos aqui no
Brasil. Não somos dessa mesma raça, não temos essa mesma origem, não temos esse
tipo de latinidade. Estamos tão perto e tão distantes dessas culturas tão
interessantes. Não somos hermanos, não rezamos para os mesmos deuses, uma pena!
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
De que lado voce samba?
Não vai ser fácil! Esse ano vai ser um grande desafio para todos
nós.
Não vai ter dinheiro, isso é fato. A corda
vai apertar e por muito tempo. Essa será nossa realidade para 2016.
Nessas horas você vê quem você realmente
é. Como é que você encara a vida, como você vê o mundo. Você é otimista ou
pessimista?
E como é que a gente faz pra sair desse
cenário? Como é que a gente faz pra sair da cama? Melhor, como é que a
gente vai sair dessa lama?
Nessas horas você: a) puxa o cobertor pra
cima da cabeça e desiste da luta; ou b) levanta sacode a poeira e dá a volta
por cima?
Pra quem felizmente marcou B, e espero que
sejam muitos, sempre existe uma saída e o nome dela é criatividade minha gente,
muita criatividade. Já dizia o meu pai, otimista dos bons, "se você quer
ser criativo corte um zero do seu orçamento".
Essa crise é a chance do Brasil inteiro
mostrar a sua cara, mais do que isso, é a chance do brasileiro se superar.
Porque, cá entre nós, não vai dar mesmo pra ficar esperando uma resposta de
Brasília não é mesmo?
Então, bora arregaçar as mangas e colocar
os miolos pra funcionar.
Quem tem uma boa ideia, quem tem projetos
inovadores vai ter a grande oportunidade de colocar o bloco na rua, estamos
precisando disso desesperadamente. Gente que vem trabalhando com novas fontes
de energia, gente que vem trabalhando com novos processos de reciclagem, gente
que vem inovando em tecnologias mais variadas, essa é a sua hora de brilhar.
2016 é de vocês.
Gente que faz, gente que não espera ter as
respostas pra tudo. Gente que se levanta e toma pra si a responsabilidade,
gente que no matter what começa algo. Esses serão os meus
guias em 2016.
Confesso que sou uma pessoa mais realista,
sempre muito no centro dessa conversa otimista/pessimista. Porém, nunca quis
tanto na minha vida ser arrebanhada para o time do positivo, do vai que dá, do
tá susse.
Porque a outra alternativa não muda nada,
A outra alternativa é mesquinha e acomodada. É preguiçosa, chata. A alternativa
negativa não transforma, não cria, não gera.
Ser otimista dá trabalho, exige ação,
mudança, sair da zona de conforto, se jogar, ousar. Ser positivo te move, te
melhora, te incentiva, te empurra.
Então, meu desejo pra esse 2016 tão
delicado é que ele seja o ano do otimismo em meio a tantas noticias ruins. Que
seja o ano da turma do sim, do vamos lá, do deixa comigo, do yes we can, e principalmente o ano do vai dar tudo
certo!
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Amanheci de luto
Ontem foi
um dia triste. Ontem foi o dia do anuncio que o congresso deu seu aval a
abertura de um possível processo de impeachment da presidente Dilma.
Não me
entendam mal, não sou nem a favor nem contra o impeachment em si, não votei na
Dilma e não sou militante do PT ou de qualquer outro partido de direita, centro
ou esquerda. Minha tristeza reflete a pobreza moral que nos encontramos, onde o
próprio impeachment virou uma das negociações mais
podres que esse país já viu, um governo por um cargo. Você não conta os meus
pecados, eu abafo os seus.
Viver em
um país onde precisamos chegar a um impeachment é muito triste! É chegar ao
fundo do poço, ao descrédito total de pessoas e instituições que deveriam estar acima de qualquer suspeita.
Não são. Nossos lideres são torpes, nossos poderes são risíveis, nossos santos
são de barro.
Essa
barganha que antecedeu ao golpe final de ontem foi sem precedentes. Assim como
a prisão de um senador em pleno mandato. Igualmente triste. Não a prisão, mas o
fato de termos esse tipo de senador, esse tipo de gente nas mais altas esferas
do poder. Gente vil, gente mesquinha, gente tacanha, gente má, que transforma
qualquer sonho de um país real e decente numa quimera.
Amanheci
de luto, pelo nosso governo, pelo nosso desgoverno, pela nossa mediocridade,
pelo nosso desfortúnio, pelo escárnio, por essa ambição desenfreada, pelo mal caratismo que domina
o planalto central do país.
Espero
que o luto represente a morte de todas essas coisas, espero que um dia a gente
consiga mesmo matar, destruir, aniquilar esse moto contínuo que é a politica
brasileira. Espero que esse luto anteceda o renascimento de algo bom, algo no mínimo
decente. Por enquanto, vou chorar minhas
vergonhas, meu pesar por esse trágico cenário de hipocrisia e negociatas, Vou
chorar por uma presidenta e por um senador que não me representam, Vou chorar
pelo país que não precisávamos ser. Que o tempo me conceda conforto e alento.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Cinco amigas, cinco pedras
Com cinco
pedras fizemos um apacheta. Com cinco pedras construímos um totem que
simboliza a nossa ligação. Na verdade, a apacheta simboliza uma
homenagem a Pacha Mama, mãe terra, conforme nos ensinava o
nosso guia peruano. Um agradecimento a tudo que ela nos dá. Mas para nós
cinco era bem mais que isso, era o fim de uma difícil caminhada pelas
montanhas andinas. Era a celebração de chegar ao topo depois de horas de
subida, na altitude, num grande desafio físico para nós todas. Mas muito mais.
Nossa
caminhada começou muito antes, aos doze anos, quando nos conhecemos. Nem somos
da mesma cidade, Foi um percurso longo recheados de encontros semestrais em
acampamentos, uma indo pra casa da outra, feriados e carnavais juntas. Por
algumas, a empatia foi imediata, por outras, a amizades foi construída passo a
passo. Algumas têm historias paralelas. Cada combinação entre nós é
diferente. Dez relacionamentos misturados em um só.
O
ponto alto foi um ano de convivência num país distante. Experiência que deixou
marcas profundas em cada uma de nós. Dividimos quartos e a preciosa experiência
de se ter 18 anos e poder descobrir o mundo. Lá, vivemos o prazer maior da vida
e a dor imensa da perda de alguém que se ama. Cicatrizes que começam em mim e
acabam nelas.
De
lá pra cá fomos montando a nossa história, Teimamos em ser amigas. Cuidamos,
alimentamos essa amizade. Vieram os namorados, os casamentos, os filhos e todos
foram abrigados nesse grande abraço. Juntamos a tribo toda todo ano, as
crianças já esticando esses laços que nos unem. Gastamos todas as nossas milhas
em celebrações lindas e emocionantes. Também estávamos lá no momento do luto,
do abraço, da lágrima. Sempre lá, juntas no lado a e b da vida.
Foram
anos de segredos, brigas, ciúmes, implicâncias, risadas, cumplicidade,
conquistas, vitórias, festas, carinho, discussões, porres, conselhos, teatros,
bares, estranheza, aconchego, cobranças, generosidade, entendimento, telepatias, amor. Conversas de todo tipo, em qualquer lugar. Cartas,
telefonemas, grupos de whatsapp,
Aos
quarenta vieram novamente às viagens, o começo de tudo. Quinze dias pelo mundo,
de dois em dois anos, para acender tudo isso, o bom e o nem tanto. Quinze dias
de intensivo. Quinze dias onde voltamos a ser nos cinco, nada mais. Ainda
aprendemos muito uma com a outra, uma sobre a outra.
Quinze
dias que nos levaram dessa vez ao Peru, a uma montanha perdida no Vale Sagrado.
Aquele momento na montanha foi o mais forte da viagem. Cinco amigas abraçadas
ao redor do totem. Cinco pedras empilhadas. A representação física de uma
amizade onde cada uma se apoia na outra, por mais diferentes que sejamos. Um
agradecimento por cada uma de nós estar ali, estar com as outras, querer estar
com as outras. Nenhuma palavra foi dita, estava tudo explicado. Cinco amigas,
cinco pedras!
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
O último verão.
Esse verão está com cara de ser o último de uma era: a era das viagens
em família.
Tenho um filho que esta prestes a fazer 16 anos. Ele é o último da turma
a fazer aniversário, mas já está imerso nesse universo adolescente desde o ano passado.
Foram dois anos de muitas mudanças, muita rebeldia, muitas
transformações, alguma gritaria. Enfim um tempo de muita aborrecência.
Marcamos uma viagem de fim de ano da nossa turma de amigos que
também tem filhos dessa idade. Acho que vai ser o último onde
ficar com os pais será a primeira opção dessa galera. E isso porque vamos em
turma e eles adoram. Somos 16 adultos e 16 crianças; os nosso de 16 e
outros que se vão se espalhando até os oito anos. É uma farra, para nós e para
eles, tanto nos momentos que estamos todos juntos quanto quando esses dois
grupos se divertem entre si, só nós e só eles. Viajamos sempre juntos, há anos,
desde que os mais velhos ainda estavam na barriga. Turma da boa, de verdade.
Mas alguma coisa está mudando, os grandinhos estão criando asas,
desenvolvendo outros quereres. Cada vez mais pedem voos solos, onde nossa
participação acaba no momento do check in e do adeus do lado de fora da sala de
embarque. A companhia dos amigos toma cada vez mais espaço. A estrada vai bifurcando.
Eventualmente surgem namorados que invadem nossa tribo. Os programas ficam cada
vez mais proibidos para maiores.
Tenho vivo na memoria meus tempos de 16 anos, a delícia dessa época.
Fico emocionada de ver a turma passando por isso. Tantas descobertas, tanta
alegria, uma pitada de drama, algumas desilusões, muitas aventuras. Desejo tudo
isso pros pequenos. Sei que não nos resta outro papel nesse filme do que o de
espectadores. É a vida.
Então só espero que esse seja o verão dos verões, onde eu ainda tenha
mesa cheia pro jantar, roupas espalhadas pela casa, gente acordando na marra às
2 da tarde, videogame até altas horas, bagunça na piscina, brigadeiro a toda
hora, gente esparramada no sofá num dia lindo de sol, pranchas de surf,
comilança desregrada, muita rebeldia. Só espero que esse verão seja pra guardar
na memória. Que essa despedida seja doce e divertida, com alguma gritaria,
claro.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Caetano falou, vou falar também
Em seu polêmico depoimento Caetano Veloso decretou:
não volto mais à Tel Aviv! Ele pode falar, tem todo o direito. Aliás,
ele sabe muito bem o quanto custou ter essa liberdade de poder falar o que bem
entender, Esteve lá na época em que isso era proibido, pagou seu preço, foi
exilado, blá blá blá.
Vou falar também.
Porque também posso. Falo como judia da diáspora, um lugar seguro de onde, assim
como Caetano, me sinto livre para dar pitacos na vida dos outros. Não vivo a
dor e a delicia de estar lá, apenas sofro por um ver um lugar que para mim é tão
importante estar constantemente envolvido numa situação tão dolorosa.
Uma casa onde os filhos brigam demais.
Ao contrário do que
se supõe, e aí esta a beleza da coisa, muitos, mas muitos judeus israelenses ou
da diáspora como eu não concordam com a política belicista do Netanyahu.
Muitos de nós não gostam do fato de Israel precisar mobilizar toda a sua
juventude em um exército. Não gostamos do fato desse exército ser tão atuante. Não gostamos de precisar inventar o Domo de Ferro. É triste. Não gostamos de ataques
aéreos. Não gostamos de usar a força, não gostamos do fato de precisarmos da
força. Mas também não gostamos de facas, de tuneis, de gente dizendo de que não
podemos existir. Não gostamos de bombas em ônibus, aliás não gostamos de
bombas em geral. Nem de tanques, morteiros, misseis. Também não gostamos de
assentamentos, nem de muros. Não gostamos de terroristas, não gostamos da
extrema direita. Não gostamos de sirenes. Não gostamos de escudos humanos. Não
gostamos de campos de refugiados. Não gostamos de revistas. Não gostamos de
patrulhas. Não gostamos de ameaças. Não gostamos do medo. Não gostamos de
boicotes, de parcialidade, de radicalismo. Não gostamos de sangue. Não gostamos
de nada disso. Discordamos sempre que algo nos incomoda, nos revolta, nos
agride. Podemos nos manifestar. Posso dizer tudo isso porque, como judia, não
me sinto pressionada, não tem patrulha que me obrigue a ser sempre pró Israel,
embora eu seja. Defendo Israel, mas vejo seus defeitos. Não sou ingênua nem
maniqueista, posso simplesmente não concordar. Eu posso daqui, os Israelenses en loco. Os israelenses podem
criticar abertamente seu primeiro ministro e o fazem constantemente. Os
israelenses protestam nas ruas, nos jornais, nos filmes, nas músicas. Eles
podem. Caetano deve ter visto, lido e assistido muitos desses protestos. Mas,
sobretudo, os israelenses protestam nas urnas e também quando assinam suas deserções.
Quando falamos que
Israel é a única democracia da região não estamos falando
de uma figura de linguagem. Não é apenas um dado para ser colocado nos livros
de geopolítica. Essa democracia é uma forma de vida, que influencia diretamente
o rumo desse caldeirão de pólvora chamado oriente médio.
Essa democracia é real. É o garante liberdade de expressão, uma economia estável, desenvolvimento social, ensino de qualidade e todos os marcadores de um país desenvolvido. É mais do que isso, é também o que garante mulheres livres, que permite que os partidos árabes ganhem cadeiras no
parlamento israelense, que a direita vença eleições,
que existam coalizões nesse parlamento e que militantes do Breaking the Silence levem
cantores latino americanos para Gaza conhecer o "outro lado" da
história. Essa democracia também permite o diálogo. Permite que o Shalom Achshav (Paz Agora) continue sua luta de tantos anos.
Estamos longe da
verdade quando ouvimos daqui ecos mal contados sobre o que se passa lá. Estamos
apenas tocando a superfície de um problema de uma complexidade enorme onde cada
lado tem infinitos momentos de razão e outros incontáveis momentos de trágicos
erros. Lá e cá. Porém, existe e sempre existirá quem acredita na
possibilidade de paz. Milhares de pessoas dos dois lados que tentam com
projetos e ações conjuntas, diminuir o caminho entre nós. Pessoas que tentam
tirar o ódio, a dor e o sangue da equação.
Caetano não vai
voltar pra Tel Aviv. O que ele não
vai mais poder ouvir, são essas vozes dissonantes, que
acreditam poder mudar essa realidade, que nossas igualdades sejam maiores do
que o que nos separa. O que Caetano não poderá ver são essas pessoas
maravilhosa que lutam pela paz. Azar o
dele.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Vossa majestade, o candidato!
Ela está
chegando, a eleição para a prefeitura de Curitiba está logo ali na esquina.
Muitos nomes sendo colocados na mídia, várias projeções, especulações e
pesquisas começando a pipocar por todo lado. Ai me pego pensando, o que é um
bom prefeito, o que a gente quer de um prefeito? Independente de linha
política, o que é mesmo que a gente procura na pessoa que vai governar nossa
cidade nos próximos quatro anos?
Um plano!
Simples
assim. Mais que mil propostas miraculosas, o que eu espero do nosso novo
alcaide é que ele tenha uma visão do que deseja pra nossa cidade, uma meta. Um
lugar lá na frente, um caminho!
Toda e
qualquer proposta deve vir desse pensamento, desse projeto maior, que enxerga a
cidade como um todo. Tudo coordenado, habitação, mobilidade, emprego,
infraestrutura, equipamentos, obras sociais, saúde, cultura e educação. Tudo
orquestrado, refletindo uma ideia maior, que nos indique pra onde estamos
indo.
Obvio que
seremos bombardeados por milhões de projetos, alguns sertão bem interessantes e
muitos deles com certeza serão necessários. Mas eles têm que refletir um
pensamento mais abrangente da cidade. O nosso prefeito tem que entender o
organismo vivo que a cidade é. Qualquer ação, repercute, altera e modifica a
cidade toda.
Estou
cansada de projetos eleitoreiros, pessoas que visam mais sua trajetória
politica e encaram a cidade como um degrau que os leva a outros patamares. Não
quero ninguém assim. Não quero oradores rebuscados na retorica das obras
faraônicas e desnecessárias. Não me venham com salvadores da pátria com
respostas a todos os problemas. Nem quero saber dos intransigentes e defensores
de ideologias radicais, onde o discurso politico é mais importante que o plano
de governo. Xô com todos eles!
Não me
importo se ele é novo, velho, de esquerda, direita, advogado ou engenheiro. Não
me importa se é feio ou bonito, se tem apoio desse ou daquele candidato. Me
importa que tenha amor e respeito ao que já se fez e ao que a cidade
representa. Me interessa que tenha fome e coragem para mudanças. Me interessa
que conheça a cidade, entenda sua alma, que viva sua essência.
Será você o
meu candidato?
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
O poder da beleza!
A beleza faz toda a diferença em uma
cidade. Cidades bonitas tem uma aura especial. Cidades bonitas nos trazem um
bem estar instantâneo, uma empatia imediata. Cidades bonitas nos fazem passear,
nos fazem querer ficar. Viva as cidades bonitas!
E as cidades podem ser bonitas de formas
tão diferentes quanto os seres humanos.
Existem cidades bonitas de nascença, como
o Rio de Janeiro, onde a natureza fez contornos caprichados por todos os lados.
Esses dias estive por lá e foi só olhar pela janelinha do avião pra ser tomada
por um arrebatamento. É sempre assim, a beleza do Rio nos tira o fôlego em cada
morro, em cada perspectiva. O sol parece estar lá só para reverenciar a cidade.
A beleza de Paris não é nada natural, tem
a mão do homem em cada Quartier, em cada construção, em cada museu. Paris é um
uma beleza projetada, criada, refletida em suas luzes, fontes e pontes. Uma
olhada para a torre Eiffel faz a gente suspirar. É o charme de Paris que nos
ganha.
Outras cidades foram se tornando bonitas
com a idade, acumulando história. Roma é assim. Suas ruínas se misturam aos
seus monumentos e deixam tudo especial.
Outras cidades são mais charme que beleza,
como Barcelona e suas esquinas. Buenos Aires com sua decadence avec elegance. Algumas
são de uma beleza singela, difícil de explicar, como Carmel, na Califórnia. Impossível
não se apaixonar por essa cidadezinha e suas casinhas com nomes, sua escala
perfeita. Jerusalém tem uma beleza transcendental. Não dá pra não ficar alheio
a toda à história que suas pedras transbordam.
Porém são as cidades pequenas que mais me
impressionam. Cidades pequenas tem uma beleza diferente. Quanto menores
melhores. São cidades que guardam pequenos tesouros, que parecem nos transportar
para outra dimensão no tempo e no espaço. São promessas de uma vida boa, que a
gente gostaria de ter. São exemplos de cidadania, de cuidado, de carinho. As
pessoas que moram nessas cidades respeitam e cuidam do que tem. Como não amar as
cidadezinhas da Toscana, tão charmosas com seus jasmins e suas vistas para os
campos. Os Pueblos Brancos, na Espanha, que fazem concursos dos jardins e ruas
mais floridas. Uma delas, Xerez de La Fronteira, na Espanha, parece uma cidade
Playmobil, uma miniatura de cidade. As casinhas alemãs e os jardins imaculados
de Gramado. As cidades que circundam os castelos escoceses como Eilean Donan.
Mikonos e suas vielas. As Cinque Terres, apaixonantes. Pequenos exemplos de
belezas que nos trazem sorrisos nos lábios. São muitas delas, em todos os
cantos do mundo. Cidades bonitas.
Curitiba tem uma beleza especial, diferente
de todas elas. Tem a beleza do olhar do seu morador, que enxerga em sua cidade
a sua vida.
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Pátria Amada!
Chegou setembro. Vai chegar a primavera, vai ter
feriado!
Sete de setembro é uma data muito valorizada pelos
curitibanos, isso porque, juntando com o feriado local do dia oito temos um
super feriado pra curtir. Mas estamos comemorando o que mesmo, além do fato de
ficar quatro dias á toa esse ano?
Independência do Brasil e dia da Padroeira da
Curitiba, pra quem faltou às aulas de história. Duas datas emblemáticas que
homenageiam nosso lugar no mundo, a cidade e o país, nossa naturalidade e
nossa nacionalidade. Berços da nossa cidadania.
São tempos importantes para se pensar nisso, estamos
passando por mudanças muito grandes nessas duas esferas. Nossa cidade e nosso
país estão vivendo momentos críticos.
Aqui na terra das araucárias, vejo uma crise de
identidade muito grande. Muitas vezes não reconheço mais a cidade em que
cresci, Crescemos muito. Mudou muita coisa pro bem, mudou mais coisas ainda pro
mal. Estamos vivendo num limbo de planejamento urbano. A cidade parece não
saber pra onde ir, que rumo tomar. Não sabemos o que valorizar, o que
preservar, o que mudar, o que incentivar, o que revelar, o que desenvolver.
Nenhuma novidade pra contar, A cidade esta tocando a vida em frente, meio no
automático, como uma cidade sonâmbula. Catatônicos na cidade sorriso,
dormimos acordados sem sonhar.
No Brasil a coisa é radicalmente oposta. O Brasil está
ebulindo! Temos várias crises acontecendo ao mesmo tempo. Crise moral, crise de
consciência, crise econômica, crise política.
As pessoas definitivamente se cansaram de assistir incólumes
aos descalabros desse país tão diverso. Fomos às ruas! Para o bem e para o mal.
Queremos mudanças. Acordamos para ver que o berço esplêndido não é tão
esplêndido assim.
A crise econômica ronda nossas cabeças e nosso bolso.
Mina nossa energia. As notícias e os preços tiram nosso apetite. Fantasmas da
inflação nos assombram com cada vez mais força.
No planalto central, as conturbadas reformas políticas
estão sendo votadas e debatidas parágrafo por parágrafo. Muita coisa em jogo,
todo mundo esperando um pouco de coragem dos nossos representantes.
Porém, uma curiosidade liga essas duas realidades. Foi
numa Curitiba tomada pelo o marasmo que ocorreu a grande virada que sacudiu o
Brasil. Nunca antes na história desse país Curitiba recebeu tanta atenção. Foi
aqui no Juvevê que a justiça ergueu sua clava forte como jamais imaginamos que
poderia acontecer. A Operação Lava-jato virou o país do avesso. Esse Brasil
tomado por essa doença crônica da corrupção e abuso do poder começa um
tratamento muito, mas muito agressivo e invasivo. Será uma das lutas mais
incríveis que teremos que enfrentar. Descer ao fundo do poço para renascer das
cinzas como um país melhor, onde o valor da escola, da saúde e das
coisas públicas seja realmente respeitado. Onde ninguém tire do outro para
si próprio. Onde voltemos a ter governantes de verdade. Onde a impunidade seja
só mais uma palavra do dicionário.
Um misto de sentimentos me invade como cidadã. Muita
vergonha, muita raiva, muito cansaço, muito desânimo, muita tristeza,
muita decepção. Mas quando ouço as sirenes dos camburões que invadem a linha do
expresso em direção à sede da Polícia Federal do Santa Cândida, sou tomada
também por muito orgulho, senso de justiça e uma enorme esperança. É nisso que vou
pensar no feriado, de preferência na praia, enquanto brindo com uma caipira
gelada ao futuro da minha cidade e do meu país. Viva o meu ligar no mundo!
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Ô vicio!
Sou daquelas pessoas que se incomodam. Simples assim, Me incomodo com muito mais coisas do que deveria, esse é meu pecado. De coisas grandes e importantes às miudezas do cotidiano, tudo entra no meu raio de preocupação.
Meus filhos já estão cansados de me ver reclamar de um produto sem preço no mercado, de gente que fura a fila, de pessoas que estacionam perto da esquina e bloqueiam a visão, de gente que fala no cinema, de gente que joga lixo na rua, de gente que lava calçada com wap e por aí vai. Sei que perco muita energia e muito tempo com isso. Podia fazer de conta que não to nem aí mas...Me incomoda, é pessoal. Não consigo deixar passar. Boto a boca no trombone, reclamo, brigo, chamo atenção. Pro desespero dos meus adolescentes que só querem passar desapercebidos por essa vida. Mas fazer o quê? Já tentei terapia, yoga, tudo para despertar o meu lado Zen. Não funcionou.
Acho que tem a ver com meu senso de cidadania e o respeito que tenho ao que é comum, do coletivo. Talvez resquícios da minha formação em um movimento juvenil socialista, minha experiência morando em um Kibutz lá no século passado. Acho fundamental as pessoas pensarem e respeitarem o que é do outro e o que é de todos.
Meu novo foco de tensão, o celular! Como pode o ser humano pegar uma maquininha tão bacana e cheia de possibilidades legais e transformar num poço do mal uso e de falta de educação. Pois é meu amigo, se você é daqueles que fala alto no celular na rua, no restaurante, no ônibus, será meu próximo alvo. Se você tira o celular no meio de uma conversa boa de amigos na mesa do jantar por qualquer motivo, considere-se repelido. Se você é aquela pessoa desagradável que fica olhando o celular no meio do cinema ou do teatro, pode considerar nossa amizade coisa do passado. Se você atende o celular então? Posso pular na sua jugular se você estiver desprevenido.
Quem são essas pessoas que não podem se desconectar por duas horas, que não podem ficar sem olhar o Instagram, o Whatsapp ou o Facebook por 90 minutos? Alias, quem elas pensam que são? Quem lhes deu o direito de atrapalhar todo mundo? De impor aquela luzinha azul, aquele toque engraçadinho, aquelas conversas vazias? Eu respondo: a falta de consideração.
Ter um celular transformou as pessoas em seres cada vez mais individualistas, egoístas e egocêntricos. Gente mal educada que não olha para o outro, que não respeita limites, que só enxerga seus gordos umbigos.
Mas o mal maior, o principal, é que o celular tira as pessoas do aqui e do agora. Se você não consegue prestar atenção no show do Gil e e do Caetano para ver a ultima piada do face; se não consegue manter a conversa com os amigos cara a cara para checar um email que deve ser spam; se você perde a cena mais linda do filme pra curtir uma selfie; voce tem um grande problema, além de ter perdido a minha amizade.
Meus filhos já estão cansados de me ver reclamar de um produto sem preço no mercado, de gente que fura a fila, de pessoas que estacionam perto da esquina e bloqueiam a visão, de gente que fala no cinema, de gente que joga lixo na rua, de gente que lava calçada com wap e por aí vai. Sei que perco muita energia e muito tempo com isso. Podia fazer de conta que não to nem aí mas...Me incomoda, é pessoal. Não consigo deixar passar. Boto a boca no trombone, reclamo, brigo, chamo atenção. Pro desespero dos meus adolescentes que só querem passar desapercebidos por essa vida. Mas fazer o quê? Já tentei terapia, yoga, tudo para despertar o meu lado Zen. Não funcionou.
Acho que tem a ver com meu senso de cidadania e o respeito que tenho ao que é comum, do coletivo. Talvez resquícios da minha formação em um movimento juvenil socialista, minha experiência morando em um Kibutz lá no século passado. Acho fundamental as pessoas pensarem e respeitarem o que é do outro e o que é de todos.
Meu novo foco de tensão, o celular! Como pode o ser humano pegar uma maquininha tão bacana e cheia de possibilidades legais e transformar num poço do mal uso e de falta de educação. Pois é meu amigo, se você é daqueles que fala alto no celular na rua, no restaurante, no ônibus, será meu próximo alvo. Se você tira o celular no meio de uma conversa boa de amigos na mesa do jantar por qualquer motivo, considere-se repelido. Se você é aquela pessoa desagradável que fica olhando o celular no meio do cinema ou do teatro, pode considerar nossa amizade coisa do passado. Se você atende o celular então? Posso pular na sua jugular se você estiver desprevenido.
Quem são essas pessoas que não podem se desconectar por duas horas, que não podem ficar sem olhar o Instagram, o Whatsapp ou o Facebook por 90 minutos? Alias, quem elas pensam que são? Quem lhes deu o direito de atrapalhar todo mundo? De impor aquela luzinha azul, aquele toque engraçadinho, aquelas conversas vazias? Eu respondo: a falta de consideração.
Ter um celular transformou as pessoas em seres cada vez mais individualistas, egoístas e egocêntricos. Gente mal educada que não olha para o outro, que não respeita limites, que só enxerga seus gordos umbigos.
Mas o mal maior, o principal, é que o celular tira as pessoas do aqui e do agora. Se você não consegue prestar atenção no show do Gil e e do Caetano para ver a ultima piada do face; se não consegue manter a conversa com os amigos cara a cara para checar um email que deve ser spam; se você perde a cena mais linda do filme pra curtir uma selfie; voce tem um grande problema, além de ter perdido a minha amizade.
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Ossos quebrados
Estou criando um programa de fidelidade com a clínica de fraturas. Meu filho Ben é o responsável. Praticante desse esporte radical chamado futebol, o Ben acabou quebrando a tíbia no inicio do ano, dividindo uma jogada com o goleiro. Ele entrou com a canela e o goleiro com a chuteira. Foi uma fratura grande, circular, que dava volta pelo osso todo, caprichada. Foram 10 semanas de gesso, uma tortura. O primeiro gesso ia até a virilha, tadinho, pesava, incomodava, um suplício. Deu um trabalhão, tivemos que ver muletas e montar toda uma operação que envolvia vários bancos, vários plásticos e elásticos para um banho decente, almofadas para acomodar a perna o tempo todo, travesseiros pra dormir.... Fora a logística médica, consultas periódicas, raio x direto, e a logística em si, de levar e pegar o piá em todo lugar, o que ele já fazia sozinho. Depois as coisas foram se encaixando, nós e os ossos. O gesso foi encolhendo, a gente foi se aperfeiçoando e no final, até futebol de muletas ele tava jogando, para o meu desespero. Fisioterapia, paciência e uns centímetros de massa muscular pra recuperar, esse foi o nosso saldo, E assim foi o primeiro semestre todo. Ufa!
Segundo dia de futebol depois das férias, praticamente o retorno oficial às canchas depois do gesso, lá vai ele de novo. Jogando no gol pra se poupar e por ainda não estar muito seguro pra enfrentar as chuteiras alheias, o Ben foi defender uma bola, acabou batendo no pulso e pronto: deslocamento de cartilagem. Lá foi ele de novo, hospital, raio x, gesso. De novo caprichado, se ele tivesse quebrado seria mais fácil de resolver. Gesso até o sovaco, mais 6 semanas de molho, toda uma logística pra montar, toda uma nova dor e tristeza pra administrar. Ninguém acredita ainda que nosso segundo semestre começou assim.
Isso tudo rendeu algumas lições. Para o Ben a primeira foi prática, de anatomia, aprendeu onde fica a tíbia é o que é cartilagem.
Brincadeiras à parte, está sendo duríssimo para ele encarar a frustração de não poder fazer algo que ele ama e ter que enfrentar a dor e a adversidade de estar incapacitado, atado, literalmente engessado. É um exercício constante de paciência que nem sempre ele dá conta. Pra gente também, ficar olhando um filho nesse processo e saber que ele tem que passar por isso e que a gente pode no máximo dar suporte, conforto e amor, é difícil. Não posso sentir a dor por ele, nem o incomodo. Tenho que ter paciência para aguentar o mau-humor, a raiva que ele só pode descarregar em casa, com quem ele sabe que vai estar lá no dia seguinte. Temos que fazer desses limões enormes, uma bela limonada, pra que seja uma lição pra vida toda, positiva, de superação, de controle, de crescimento e de cura.
Agora, que não foi gol, isso não foi! Bela defesa Ben!
Segundo dia de futebol depois das férias, praticamente o retorno oficial às canchas depois do gesso, lá vai ele de novo. Jogando no gol pra se poupar e por ainda não estar muito seguro pra enfrentar as chuteiras alheias, o Ben foi defender uma bola, acabou batendo no pulso e pronto: deslocamento de cartilagem. Lá foi ele de novo, hospital, raio x, gesso. De novo caprichado, se ele tivesse quebrado seria mais fácil de resolver. Gesso até o sovaco, mais 6 semanas de molho, toda uma logística pra montar, toda uma nova dor e tristeza pra administrar. Ninguém acredita ainda que nosso segundo semestre começou assim.
Isso tudo rendeu algumas lições. Para o Ben a primeira foi prática, de anatomia, aprendeu onde fica a tíbia é o que é cartilagem.
Brincadeiras à parte, está sendo duríssimo para ele encarar a frustração de não poder fazer algo que ele ama e ter que enfrentar a dor e a adversidade de estar incapacitado, atado, literalmente engessado. É um exercício constante de paciência que nem sempre ele dá conta. Pra gente também, ficar olhando um filho nesse processo e saber que ele tem que passar por isso e que a gente pode no máximo dar suporte, conforto e amor, é difícil. Não posso sentir a dor por ele, nem o incomodo. Tenho que ter paciência para aguentar o mau-humor, a raiva que ele só pode descarregar em casa, com quem ele sabe que vai estar lá no dia seguinte. Temos que fazer desses limões enormes, uma bela limonada, pra que seja uma lição pra vida toda, positiva, de superação, de controle, de crescimento e de cura.
Agora, que não foi gol, isso não foi! Bela defesa Ben!
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Quem é essa cidade?
Sempre achei que as cidades tem personalidade, são como pessoas,
tem suas características e suas manias.
Curitiba com certeza é uma mulher jovem,
educada, exigente, informada. Muitos a acham séria, mas é porque gosta das
coisas bem organizadas, certinhas, tem horários. É uma cidade em quem se pode
confiar, cumpre os combinados, separa seu lixo, organiza seu transporte
publico, oferece muitas coisas aos seus habitantes.
Trabalha muito, é super organizada, diversificou sua carteira de
serviços, chamou muita gente pra trabalhar em equipe. E relaxa nos happy hours
de botecos que colocam suas mesas nas calçadas de petit pavê fazendo uma praia
urbana receitada por Paulo Leminski
Gosta de ler, ir ao cinema, e adora dançar
tecno. Não é de meter o pé na jaca, mas toma os seus pilequinhos. É da rua, da
esquina, do bate papo sem fim. Eclética, pode ir direto de uma balada sertaneja
no sábado à noite para um concerto da orquestra sinfônica no domingo de manhã.
Arrisca até um samba em um carnaval de caixinha de fósforo.
Curitiba come de tudo. Ultimamente está
muito interessada em pratos diferentes, culinárias exóticas de países longínquos
para desespero das suas mamas italianas, árabes, alemãs e polonesas. Anda
achando que come demais por causa do frio e, antenada, aderiu às feiras de orgânicos
em todos os seus bairros. Mas sofre para dispensar a sobremesa em toda refeição
Vaidosa, Curitiba gosta de suas ruas
limpas e sempre floridas com seus ipês, cerejeiras, quaresmeiras, primaveras e flamboyants.
Curitiba se veste com rendas de lambrequins, casas e ônibus coloridos. Seu
traçado é reto, quase cartesiano, suas quadras são quadradas, facilitando os
nossos caminhos.
Seus fluxos e contra fluxos são medidos no
relógio, pontuais. Seus humores variam com o clima. Podemos ver seu sorriso nos
dias de sol e sua preguiça quando o céu está cinzento. Educada como ninguém,
mantém suas floreiras intactas mesmo em pleno show de rock.
Mas acima de tudo Curitiba é generosa,
deixa todo mundo entrar, recebe todo mundo com café com bolo. Convida todo
mundo para deitar na grama nos seus jardins e parques que rega com muito
carinho e muita chuva.
Curitiba é tímida, quase não fala, mas gosta de ouvir as suas
histórias.
Curitiba é aquela amiga que puxa a sua
orelha quando você está errado, dá carinho quando você precisa de colo, mostra
o caminho quando você está perdido e cai na gandaia quando você quer se divertir.
É mãe que protege, irmã que divide e uma
amiga para toda a vida!
terça-feira, 7 de julho de 2015
Tempo de friagem
Tempo de friagem
Curitiba nunca é tão Curitiba
quanto no finzinho do outono, comecinho do inverno. É nesse período que toda a
curitibice aflora em sua maior intensidade.
Comecemos pelo clima que no
fim das contas é o grande causador desse desabrochar da consciência curitibana.
O veranico de maio, que nesse ano foi no meio de junho, é como se o verão
tivesse esquecido o celular na cidade e voltado aqui pra buscar. Dias lindos,
24 graus, gente na rua, no parque, cobertores arejando nas janelas como que se
preparando pra longa jornada que enfrentarão pela frente. Uma ou duas semanas
de idílio, como se fosse um bônus por tudo que iremos passar a seguir.
E de repente, não mais que de
repente, quando tá todo mundo de regatta correndo no parque, o frio chega
rachando, zerando os termômetros, as
telas dos celulares e as páginas do facebook.
Aí sim é Curitiba. O céu mais
azul do mundo, a geada, a bruma sobre os lagos do Barigüi, Passeio Público e do
São Lourenço. O sol saindo de fininho lá pelas 8 da manhã, deixando tudo
dourado. Ao meio dia a amplidão térmica faz todo mundo tirar pelo menos dois
casacos e maldizer a moça do tempo da TV.
Muda tudo na cidade, os
passeios, as comidas, os humores. Saem as bernudas e entram luvas, ceroulas e
cachecóis. Sim, porque curitibano usa ceroula, usa mesmo. As pessoas contam as
camadas de roupa. Sai o chopp e entra o quentão. Sai a salada e entra o sagu
com gemada. Surgem os buffets de sopas. O pinhão reina absoluto, sapecado,
cozido, em sopas e risotos da nova onda de restaurantes. A gente só pensa em
comida e cobertor.
As mãos esfriam, as pessoas
dormem de meia. As crianças dormem com os uniformes da escola por baixo do pijama,
ou vão pra escola com o pijama por baixo do uniforme. A pele resseca, o laser
bomba. Todo mundo solta fumaça quando respira.
Até a postura das pessoas
muda. De repente todos os ombros se tensionam, os braços se cruzam em frente ao
peito, as cabeças se abaixam para evitar o vento. O passo apressa. A conversa
mingua. A expressão se retrai, nos chamam de pessoas fechadas.
O ar fica limpo, mudam as
flores, mudam os tons. A cidade se acalma, silencia, as mesas nas calçadas que
brotaram em janeiro murcham, as ruas ficam tremendamente vazias à noite. As
lareiras se acendem,a casa se aquece. Todo curitibano reclama, e secretamente
adora tudo isso. Toda alma curitibana de alimenta desse sol cálido, dessas mesas
fartas, desse clima gelado, desse astral. Curitibano é flor que brota no frio!
17/06/2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Cristiano quem?
Como não se fala em outra coisa nesse pais, também vou dar o meu pitaco sobre a morte do Cristiano Araújo, que aconteceu na última quarta feira e vem repercutindo, e muito, até hoje.
É claro que a morte de um artista jovem é sempre trágica. É obvio que ele representava um segmento e que tinha a sua importância dentro dele. Nada disso se discute, O que me deixou particularmente incomodada foi a tamanha repercussão que esse assunto tomou.
Primeiro porque como tudo nesse país ultimamente, a morte de Cristiano virou uma questão de guerra civil social. De repente, quem conhecia o cantor era do bem e quem não, eu, automaticamente, do mal. Tentaram trazer uma questão de gosto pessoal para uma luta de classes: azelites brasileiras não gostam de sertanejo. Azelites brasileiras não prestam e não derramaram uma lágrima por Cristiano Araújo. Não não não.
Quem disse? Conheço muita gente abastada que adora musica sertaneja. O que tem de mauricinho e patricinha recheando as platéias e bares countrys desse pais não é brincadeira. Mas de novo, é uma questão de gosto. Tem gente rica e gente pobre que gosta de sertanejo, tem gente rica e gente pobre que não. Tem gente como eu que as vezes curte uma ou outra musica do gênero, sem necessariamente ser fã ou não. Gosto é gosto e não necessariamente tem a ver com o bolso de cada um.
Eu não conhecia o Cristiano Araújo. Aliás eu conhecia uma música dele (é quem não?) a famigerada Bara Bara, que eu odeio e nem sabia que era dele. E isso não tem nada a ver com a história. Não sou fã e achei muito triste o que aconteceu, ponto final.
O que realmente me impressionou e incomodou acima de tudo, foi a importância que uma emissora como a rede Globo deu ao assunto. Um bloco todo do Jornal Hoje, outro no Nacional, quinhentas chamadas ao vivo, um Video Show inteiro dedicado ao caso, inúmeras menções em todos os programas jornalísticos da casa, outro bloco e meio no Fantástico e por ai foi. Hoje, segunda feira, cinco dias depois da tragédia, o Bom Dia Brasil ainda dava mais repercussão, repetindo parte da reportagem "exclusiva" do Fantástico.
Só pra ilustrar, a morte de Cristiano Araújo recebeu mais atenção que a morte do Eduardo Campos, do que a do ator Elias Gleizer, que a do múltiplo Antônio Abujamra, gente que - me desculpem os amantes do gênero sertanejo, tinham mais história e importância na vida politica e cultural do pais. A morte do baixista Chris Squire, da banda Yes, uma das mais importantes do mundo, ganhou quinze segundos no fantástico e não foi nem citado no Bom Dia Brasil. Pera lá, tem alguma coisa muito errada aio.
Sou jornalista, sei o quanto vale um segundo em qualquer desses programas da emissora mais famosa do país. Sou jornalista, sei o que é uma notícia relevante. O que aconteceu essa semana me deu até uma certa vergonha alheia de todos esses profissionais. Essa exploração da tragédia ao extremo, me deu um desconforto em frente a televisão. Que pauta é essa, quem decide que essa é a história mais importante da semana num país mergulhado em tanta coisa mais importante. Estamos sendo varridos por uma crise econômica sem precedentes, temos representantes das principais construtoras do pais tomando banho frio na carceragem da Policia Federal, temos uma coleção de segmentos em greve pais afora, temos que discutir tanta coisa mais importante. Que pauta é essa? Pena. Pena que a exploração de uma morte precoce de um jovem talento tenha sido usada mais uma vez para jogar brasileiros contra brasileiros. Pena que o destino fatal do Cristiano Araújo seja usado para jogar tanta coisa pra baixo do tapete. Aos fãs, amigos e à família do Cristiano Araújo, meus sinceros pêsames, ao jornalismo da Globo também.
É claro que a morte de um artista jovem é sempre trágica. É obvio que ele representava um segmento e que tinha a sua importância dentro dele. Nada disso se discute, O que me deixou particularmente incomodada foi a tamanha repercussão que esse assunto tomou.
Primeiro porque como tudo nesse país ultimamente, a morte de Cristiano virou uma questão de guerra civil social. De repente, quem conhecia o cantor era do bem e quem não, eu, automaticamente, do mal. Tentaram trazer uma questão de gosto pessoal para uma luta de classes: azelites brasileiras não gostam de sertanejo. Azelites brasileiras não prestam e não derramaram uma lágrima por Cristiano Araújo. Não não não.
Quem disse? Conheço muita gente abastada que adora musica sertaneja. O que tem de mauricinho e patricinha recheando as platéias e bares countrys desse pais não é brincadeira. Mas de novo, é uma questão de gosto. Tem gente rica e gente pobre que gosta de sertanejo, tem gente rica e gente pobre que não. Tem gente como eu que as vezes curte uma ou outra musica do gênero, sem necessariamente ser fã ou não. Gosto é gosto e não necessariamente tem a ver com o bolso de cada um.
Eu não conhecia o Cristiano Araújo. Aliás eu conhecia uma música dele (é quem não?) a famigerada Bara Bara, que eu odeio e nem sabia que era dele. E isso não tem nada a ver com a história. Não sou fã e achei muito triste o que aconteceu, ponto final.
O que realmente me impressionou e incomodou acima de tudo, foi a importância que uma emissora como a rede Globo deu ao assunto. Um bloco todo do Jornal Hoje, outro no Nacional, quinhentas chamadas ao vivo, um Video Show inteiro dedicado ao caso, inúmeras menções em todos os programas jornalísticos da casa, outro bloco e meio no Fantástico e por ai foi. Hoje, segunda feira, cinco dias depois da tragédia, o Bom Dia Brasil ainda dava mais repercussão, repetindo parte da reportagem "exclusiva" do Fantástico.
Só pra ilustrar, a morte de Cristiano Araújo recebeu mais atenção que a morte do Eduardo Campos, do que a do ator Elias Gleizer, que a do múltiplo Antônio Abujamra, gente que - me desculpem os amantes do gênero sertanejo, tinham mais história e importância na vida politica e cultural do pais. A morte do baixista Chris Squire, da banda Yes, uma das mais importantes do mundo, ganhou quinze segundos no fantástico e não foi nem citado no Bom Dia Brasil. Pera lá, tem alguma coisa muito errada aio.
Sou jornalista, sei o quanto vale um segundo em qualquer desses programas da emissora mais famosa do país. Sou jornalista, sei o que é uma notícia relevante. O que aconteceu essa semana me deu até uma certa vergonha alheia de todos esses profissionais. Essa exploração da tragédia ao extremo, me deu um desconforto em frente a televisão. Que pauta é essa, quem decide que essa é a história mais importante da semana num país mergulhado em tanta coisa mais importante. Estamos sendo varridos por uma crise econômica sem precedentes, temos representantes das principais construtoras do pais tomando banho frio na carceragem da Policia Federal, temos uma coleção de segmentos em greve pais afora, temos que discutir tanta coisa mais importante. Que pauta é essa? Pena. Pena que a exploração de uma morte precoce de um jovem talento tenha sido usada mais uma vez para jogar brasileiros contra brasileiros. Pena que o destino fatal do Cristiano Araújo seja usado para jogar tanta coisa pra baixo do tapete. Aos fãs, amigos e à família do Cristiano Araújo, meus sinceros pêsames, ao jornalismo da Globo também.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Maestro, qual é a música?
Temos certas regras no meu carro, a primeira é que não pode celular, Não sou um taxi, quero a atenção dos passageiros, quero conversar, ainda que a contragosto, com os filhos. Quero saber das novidades, como foi a prova, coisas de mãe. Confesso que é difícil e às vezes sou a primeira a burlar a regra, mas ela existe e nos vamos aos trancos e barrancos tentando cumprí-la.
A segunda é tão polêmica quanto. Eu escolho as musicas que ouvimos, para o desespero das crianças, principalmente da minha dj de treze anos. Uma coisa não mudou com o passar das gerações: assim que a gente entra no carro, antes mesmo da segunda perna se acomodar do lado de dentro já escuto o "liga o rádio!" Parece um eco de mim mesma na mesma idade, mesma frase gritada antes da porta fechar. Já o gosto musical....quanta diferença.
Sem querer entrar no mérito do que é bom ou não, esse molecada tem um gosto bem diferente do que a gente tinha na idade deles. na minha época rock, pop e MPB eram o triunvirato do meu pódio musical. Hoje entraram outros ritmos e outras vertentes no cardápio. Podemos dizer que quem manda agora é o funk, sertanejo universitario e o pop infanto-junvenil. Selenas, Mileys, Glee, Anittas, Jorges e Matheus, são os reis do dial.
Por isso a regra. Essa geração vive sintonizada, com fone no ouvido 24 horas por dia, ouvindo e vendo clips enquanto deveriam ou poderiam estar fazendo o que a gente gostaria que eles fizessem, isto é, estar lendo e estudando. Como não tenho controle nenhum sobre a trilha sonora da vida deles em 80 por cento do tempo, no carro mando eu! Afinal educação também se expressa num bom solo de guitarra e em versos imortais.
Não quero que meus filhos passem a vida sem conhecer os Stones, Beatles, U2, Police, Yes, Talking Heads, Inxx, Genesis, Lynyrd Skynyrd, Marilion, Supertramp, The Doors e tantas outras bandas que marcaram não só a minha vida mas a historia da musica em si. A dramaticidade do Queen, por exemplo, garantiu seu posto no gosto da criançada. Ninguém ouve Bohemian Rapshody em pune. Também não pode haver um mundo sem que se dance ao som do Prince, Abba, Michael Jackson, Eath Wind and Fire, Donna Summer, Bee Gees, Village People, Bonney M e toda a doideira dos anos 70 e 80. Eles tem que conhecer Aretha, Dinah, Billie, Sarah e Simone. É meu dever supremo. Tem que ouvir Smokey Robinson, James Brown, Miles Davis e sua turma. E misturar o pop de Elvis Costelo, Madona, Rod Steward, Leny Kravitz, Lou Reed com o folk do America, James Taylor, Cat Stevens e Peter Paul and Mary. Carpenters e Elton John. Bob Marley, Jimmy Cliff, Maxie Priest com Keith Jarret e Pat Matheny.. E não ha vida inteligente sem os absolutos Frank Sinatra, Tonny Bnnet e claro Elvis Presley himself.
O mais complicado, porém, é a MPB, A turma esta cada vez mais longe de Vinícius, Toquinho, Chico, Caetano, Gil, Djavan, Gal, Maria Bethânia. Parece que essa turma ficou congelada num tempo passado, às vezes até pra mim. Nem minha paixão por Elis, garantiu seu lugar no gosto das crianças que só conseguem se relacionar melhor com o suingue do Tim Maia, do Jorge Benjor e do Lulu Santos. Tudo que é em português apresenta mais resistência.
Meu gosto eclético fez com que eles pelo menos passem os ouvidos uma vez por quase tudo que eu ouvi na minha vida inteira, incluindo aí os 6 cd da caixa Discoteca do Chacrinha que tem pérolas como I wanna to go back to Bahia que cantamos alto, juntos. Fagner, Belchior, Mutantes, Novos Baianos, os matutos do Grande Encontro, Luiz Melodia, 14 Bis, Adriana Calcanhoto e a Partimpim, Simone, Marisa Monte, Roberto e Erasmo, os mineiros do Clube da Esquina, Sá e Guarabyra, Cartola, Kleiton e Kledir, Secos e Molhados, Gonzaguinha, Marina, João Bosco, Raul Seixas. Oswaldo Montenegro e toda a Bossa Nova, absolutamente todos. Barão, Ultrage a Rigor, Titãs, Legião, Paralamas, Kid Abelha, Cassia Eller, Rita Lee, Claudio Zolli e Gang Noventa e as Absurdetes, Apulinho Moska ainda no João penca e os Miquinhos Amestrados,
A lista não tem fim, Os mais novos eles conhecem, já haviam nascido com Lenine, Charlie Brow Jr, Ana Carolina, David Guetta, Ivete Sangalo, Ben Harper, o Rappa, Radiohead e muita gente boa. A curiosidade, espero, vai levá-los a becos diferentes do mainstream comercial, dos bailes funks pankadão e do universos das duplas que proliferam como banana na serra. Alguns desses artistas que eles gostam e eu não tem até o seu valor. Consigo ouvir uma ou outra coisa do NX Zero e adoro a musica Somebody that I used to know que canto a plenos pulmões apesar dos protestos da filha.
Porém, me sinto na obrigação mesmo é de pelo menos apresentá-los a toda essa gente que me fez tão feliz e que são esnobados pela grande maioria das rádios. Espero que achem um amor pra dedicar qualquer coisa do Cole Porter, e que não sofram como em a Jura Secreta. Que se divirtam com a Blitz e fechem a pista com Fredom 90. Que abram a cabeça, os ouvidos e o coração, afinal musica boa não tem gênero, nem idade, nem nada. Aumenta o som!
A segunda é tão polêmica quanto. Eu escolho as musicas que ouvimos, para o desespero das crianças, principalmente da minha dj de treze anos. Uma coisa não mudou com o passar das gerações: assim que a gente entra no carro, antes mesmo da segunda perna se acomodar do lado de dentro já escuto o "liga o rádio!" Parece um eco de mim mesma na mesma idade, mesma frase gritada antes da porta fechar. Já o gosto musical....quanta diferença.
Sem querer entrar no mérito do que é bom ou não, esse molecada tem um gosto bem diferente do que a gente tinha na idade deles. na minha época rock, pop e MPB eram o triunvirato do meu pódio musical. Hoje entraram outros ritmos e outras vertentes no cardápio. Podemos dizer que quem manda agora é o funk, sertanejo universitario e o pop infanto-junvenil. Selenas, Mileys, Glee, Anittas, Jorges e Matheus, são os reis do dial.
Por isso a regra. Essa geração vive sintonizada, com fone no ouvido 24 horas por dia, ouvindo e vendo clips enquanto deveriam ou poderiam estar fazendo o que a gente gostaria que eles fizessem, isto é, estar lendo e estudando. Como não tenho controle nenhum sobre a trilha sonora da vida deles em 80 por cento do tempo, no carro mando eu! Afinal educação também se expressa num bom solo de guitarra e em versos imortais.
Não quero que meus filhos passem a vida sem conhecer os Stones, Beatles, U2, Police, Yes, Talking Heads, Inxx, Genesis, Lynyrd Skynyrd, Marilion, Supertramp, The Doors e tantas outras bandas que marcaram não só a minha vida mas a historia da musica em si. A dramaticidade do Queen, por exemplo, garantiu seu posto no gosto da criançada. Ninguém ouve Bohemian Rapshody em pune. Também não pode haver um mundo sem que se dance ao som do Prince, Abba, Michael Jackson, Eath Wind and Fire, Donna Summer, Bee Gees, Village People, Bonney M e toda a doideira dos anos 70 e 80. Eles tem que conhecer Aretha, Dinah, Billie, Sarah e Simone. É meu dever supremo. Tem que ouvir Smokey Robinson, James Brown, Miles Davis e sua turma. E misturar o pop de Elvis Costelo, Madona, Rod Steward, Leny Kravitz, Lou Reed com o folk do America, James Taylor, Cat Stevens e Peter Paul and Mary. Carpenters e Elton John. Bob Marley, Jimmy Cliff, Maxie Priest com Keith Jarret e Pat Matheny.. E não ha vida inteligente sem os absolutos Frank Sinatra, Tonny Bnnet e claro Elvis Presley himself.
O mais complicado, porém, é a MPB, A turma esta cada vez mais longe de Vinícius, Toquinho, Chico, Caetano, Gil, Djavan, Gal, Maria Bethânia. Parece que essa turma ficou congelada num tempo passado, às vezes até pra mim. Nem minha paixão por Elis, garantiu seu lugar no gosto das crianças que só conseguem se relacionar melhor com o suingue do Tim Maia, do Jorge Benjor e do Lulu Santos. Tudo que é em português apresenta mais resistência.
Meu gosto eclético fez com que eles pelo menos passem os ouvidos uma vez por quase tudo que eu ouvi na minha vida inteira, incluindo aí os 6 cd da caixa Discoteca do Chacrinha que tem pérolas como I wanna to go back to Bahia que cantamos alto, juntos. Fagner, Belchior, Mutantes, Novos Baianos, os matutos do Grande Encontro, Luiz Melodia, 14 Bis, Adriana Calcanhoto e a Partimpim, Simone, Marisa Monte, Roberto e Erasmo, os mineiros do Clube da Esquina, Sá e Guarabyra, Cartola, Kleiton e Kledir, Secos e Molhados, Gonzaguinha, Marina, João Bosco, Raul Seixas. Oswaldo Montenegro e toda a Bossa Nova, absolutamente todos. Barão, Ultrage a Rigor, Titãs, Legião, Paralamas, Kid Abelha, Cassia Eller, Rita Lee, Claudio Zolli e Gang Noventa e as Absurdetes, Apulinho Moska ainda no João penca e os Miquinhos Amestrados,
A lista não tem fim, Os mais novos eles conhecem, já haviam nascido com Lenine, Charlie Brow Jr, Ana Carolina, David Guetta, Ivete Sangalo, Ben Harper, o Rappa, Radiohead e muita gente boa. A curiosidade, espero, vai levá-los a becos diferentes do mainstream comercial, dos bailes funks pankadão e do universos das duplas que proliferam como banana na serra. Alguns desses artistas que eles gostam e eu não tem até o seu valor. Consigo ouvir uma ou outra coisa do NX Zero e adoro a musica Somebody that I used to know que canto a plenos pulmões apesar dos protestos da filha.
Porém, me sinto na obrigação mesmo é de pelo menos apresentá-los a toda essa gente que me fez tão feliz e que são esnobados pela grande maioria das rádios. Espero que achem um amor pra dedicar qualquer coisa do Cole Porter, e que não sofram como em a Jura Secreta. Que se divirtam com a Blitz e fechem a pista com Fredom 90. Que abram a cabeça, os ouvidos e o coração, afinal musica boa não tem gênero, nem idade, nem nada. Aumenta o som!
quarta-feira, 17 de junho de 2015
O centro da minha cidade
Dia desses andando de carro numa sexta a noite pelo centro da cidade fiquei impressionada com a quantidade de novos lugares, lojas, bares, gente em pé na calçada, movimento e animação. Uma cidade vibrante e colorida. Aquela alegria de fim de semana.
Dai me veio uma saudade enorme da época que eu frequentava muito o centro, da época em que o centro era vibrante para mim. O que aconteceu? Em que momento o centro da cidade parou de fazer parte da minha vida? Como a gente consegue se distanciar tanto de uma parte tão vital da cidade em que a gente vive?
Moro no Bacacheri, zona norte da cidade e minha cidade tá cada vez mais demarcada nos bairros imediatamente próximos ao meu. Vou cada vez mais raramente pro Batel, pro Champagnat, na direção oposta, e mesmo nessas horas, o centro está fora do roteiro. Não vou no centro pra quase nada, mal passo por ele de carro. tem sempre um caminho que passa ao largo que é melhor e mais rápido.
O que aconteceu com o centro que me fazer parar de visitá-lo? O que aconteceu comigo?
Estudei na Federal, em plana Praça Santos Andrade, peguei muito expresso na Generoso Marques, gastei muita sola de sapato nas calçadas da Rua XV. Comprei muito disco na Savarin, calça Fiorucci na Noi, sapato na Cinderela. Conheci o conceito de loja de departamento com o abertura da Mesbla. Comi muita banana split, comprei todo o meu material escolar e redinha de cabelo para a aula de balé nas Lojas Americana. Aliás, fiz ballet no Guaíra e chorei rios nas sessões de cinema do Astor, Lido, Condor, Luz, Ritz, Cinema 1 e do Plaza. Fiz curso de datilografia na Facit. Mandei muita carta no Correio e comprei muita revista nas banquinhas enquanto meu pai tomava o café na Boca Maldita. Esbarrei em muita gente apresada que corria pelo caminho. Conheci o Esmaga e a Gilda. Comprei minha aliança de casamento por lá. Comprava ingresso no quioske onde a gente se informava com o Bom Programa. Comecei a sair à noite indo no Baviera, Alemão e no London onde tinha sempre um banquinho e um violão. Ia na feirinha. Meus avós moraram na Barão e na Santos Andrade. Literalmente cresci no centro. O centro e imediações eram parte da minha vida, de verdade.
Hoje, o centro da cidade é um outro planeta. Meu GPS interior quase não o reconhece. As antigas lojas que eu frequentava fecharam ou viraram pequenos shoppings com mil lojinhas extremamente populares. Perdemos a Schaeffer e a passagem obrigatória nas Livrarias Curitiba ali na frente. Todo mundo migrou pro Shopping, a Mesbla fechou, a Americanas só no site. Ganhei um carro, larguei o ônibus, Acabei a faculdade, trabalho tão perto de casa que muitas vezes vou a pé. Discos a gente agora baixa no computador. Não sobrou um cinema de rua pra contar a história. O expresso mudou de rua, o Correio central está fechado. Meu curso saiu da Santos Andrade. Abriram mil restaurantes novos em bairros que agora tem apelidos no Geocook. O relógio das flores vive parado. Perdemos a intimidade, eu e o centro.
De vez em quando volto lá. Meio tímida, ando pela XV atrás dessas memórias. A Savarim mudou de lugar mas está lá, O Paço virou um lindo espaço cultural que quase sozinho tem a missão de resgatar essa convivência de habitante e sua cidade. A Rua XV segue animada, a vendedora da Borboleta 18 ainda grita. A galera ainda vira o submarino do Alemão e o Largo da Ordem tem milhões de botecos novos, mesas na calçada aos montes. Aos poucos vou reconhecendo a minha cidade. Ainda tem gente apressada correndo pra lá e pra cá, A Confeitaria das Famílias resiste, a Boca Maldita também, porém só reconheço meu tio Julio dos que ainda vão lá. Tem Virada Cultural que não tinha, Tem partidos políticos nas calçadas. Tem pintura. O centro mudou bastante, mas continua animado, vibrante e movimentado como sempre. Mudamos os dois, ele talvez não lembre muito de mim. Eu vou sentir saudades dele pra sempre.
Dai me veio uma saudade enorme da época que eu frequentava muito o centro, da época em que o centro era vibrante para mim. O que aconteceu? Em que momento o centro da cidade parou de fazer parte da minha vida? Como a gente consegue se distanciar tanto de uma parte tão vital da cidade em que a gente vive?
Moro no Bacacheri, zona norte da cidade e minha cidade tá cada vez mais demarcada nos bairros imediatamente próximos ao meu. Vou cada vez mais raramente pro Batel, pro Champagnat, na direção oposta, e mesmo nessas horas, o centro está fora do roteiro. Não vou no centro pra quase nada, mal passo por ele de carro. tem sempre um caminho que passa ao largo que é melhor e mais rápido.
O que aconteceu com o centro que me fazer parar de visitá-lo? O que aconteceu comigo?
Estudei na Federal, em plana Praça Santos Andrade, peguei muito expresso na Generoso Marques, gastei muita sola de sapato nas calçadas da Rua XV. Comprei muito disco na Savarin, calça Fiorucci na Noi, sapato na Cinderela. Conheci o conceito de loja de departamento com o abertura da Mesbla. Comi muita banana split, comprei todo o meu material escolar e redinha de cabelo para a aula de balé nas Lojas Americana. Aliás, fiz ballet no Guaíra e chorei rios nas sessões de cinema do Astor, Lido, Condor, Luz, Ritz, Cinema 1 e do Plaza. Fiz curso de datilografia na Facit. Mandei muita carta no Correio e comprei muita revista nas banquinhas enquanto meu pai tomava o café na Boca Maldita. Esbarrei em muita gente apresada que corria pelo caminho. Conheci o Esmaga e a Gilda. Comprei minha aliança de casamento por lá. Comprava ingresso no quioske onde a gente se informava com o Bom Programa. Comecei a sair à noite indo no Baviera, Alemão e no London onde tinha sempre um banquinho e um violão. Ia na feirinha. Meus avós moraram na Barão e na Santos Andrade. Literalmente cresci no centro. O centro e imediações eram parte da minha vida, de verdade.
Hoje, o centro da cidade é um outro planeta. Meu GPS interior quase não o reconhece. As antigas lojas que eu frequentava fecharam ou viraram pequenos shoppings com mil lojinhas extremamente populares. Perdemos a Schaeffer e a passagem obrigatória nas Livrarias Curitiba ali na frente. Todo mundo migrou pro Shopping, a Mesbla fechou, a Americanas só no site. Ganhei um carro, larguei o ônibus, Acabei a faculdade, trabalho tão perto de casa que muitas vezes vou a pé. Discos a gente agora baixa no computador. Não sobrou um cinema de rua pra contar a história. O expresso mudou de rua, o Correio central está fechado. Meu curso saiu da Santos Andrade. Abriram mil restaurantes novos em bairros que agora tem apelidos no Geocook. O relógio das flores vive parado. Perdemos a intimidade, eu e o centro.
De vez em quando volto lá. Meio tímida, ando pela XV atrás dessas memórias. A Savarim mudou de lugar mas está lá, O Paço virou um lindo espaço cultural que quase sozinho tem a missão de resgatar essa convivência de habitante e sua cidade. A Rua XV segue animada, a vendedora da Borboleta 18 ainda grita. A galera ainda vira o submarino do Alemão e o Largo da Ordem tem milhões de botecos novos, mesas na calçada aos montes. Aos poucos vou reconhecendo a minha cidade. Ainda tem gente apressada correndo pra lá e pra cá, A Confeitaria das Famílias resiste, a Boca Maldita também, porém só reconheço meu tio Julio dos que ainda vão lá. Tem Virada Cultural que não tinha, Tem partidos políticos nas calçadas. Tem pintura. O centro mudou bastante, mas continua animado, vibrante e movimentado como sempre. Mudamos os dois, ele talvez não lembre muito de mim. Eu vou sentir saudades dele pra sempre.
Minhas tardes com Dalton Trevisan
Se você é curitibano de verdade tem uma história pessoal que envolva o Dalton Trevisan. Se não tem, me desculpe meu amigo, sua biografia está incompleta.
Minha primeira lembrança do Dalton são as lombadas dos seus livros na biblioteca da casa dos meus pais. Na minha época de criança, literatura infantil se resumia ao Menino do dedo verde, Meu pé de laranja lima, as obras de Monteiro Lobato, Poliana, a coleção Vagalume e o Pequeno Príncipe, o resto era direto na literatura pra valer, de adultos. Era uma leitora meio precoce devo admitir, mas os livros do Dalton ficavam lá no alto da estante, providencialmente longe das minhas pequenas mãos.
Mas o Dalton era mais que autor, era personagem. Sue nome e sua incrível mítica de fantasma/vampiro começavam a chegar aos meus ouvidos. Quem era esse nosso grande escritor que era reconhecido no Brasil todo, que vivia quase recluso, que não se deixava fotografar, que não dava entrevistas? Precisava saber.
Adolescente, mais alta, voltei a nossa biblioteca e fui conhecer as capas dos livros do instigante escritor. Lá estavam O Vampiro de Curitiba. Virgem louca, loucos beijos, A Polaquinha, Novela nada exemplares, Cemitério dos elefantes, Morte na Praça, Mistérios de Curitiba, O Pássaro de cinco asas, entre outros. As capas eram incríveis, diferentes de tudo que eu já tinha lido, com certeza. O que me atraia era que o Dalton era curitibano, a possibilidade de ler sobre a minha cidade num livro era uma coisa inédita, eu poderia reconhecer os lugares, quem sabe até conheceria algum dos personagens, estava emocionada. E lá fui eu entrar nas brumas da cidades nos olhos do Dalton.
Nada me preparou para o que li! Foi obviamente um choque, vocês podem imaginar. Num primeiro momento, o estranhamento foi enorme, não conseguia definir o que estava lendo, alias, o que era isso que eu estava lendo? Lembro da sensação: eu no estúdio da minha casa, lendo o livro e tomada pela sensação de estar cometendo um pecado quase tão grande quanto os beijos roubados das personagens das histórias. Embora já tivesse lá meus 15 anos, as conversas sobre o assunto sobre o qual Dalton escancarava nas suas páginas não era conversa fácil na mesa de jantar. Época de tabus e segredos, mesmo para uma família bastante liberal como a nossa. Eu lia e me sentia uma das personagens do livro, acho que chegava a corar! Assim fui apresentada ao Dalton, assim me tornei cúmplice das prostitutas, cafetões, virgens e pilantras que ia conhecendo naquelas tardes dos anos 80.
Quando estava na faculdade de jornalismo, dez anos depois, meu caminho sempre passava pela casa do Dalton. Passei anos esperando a chance de ver nosso vampiro. Aquelas janelas sempre fechadas...
Vinte anos depois, no carro com meu filho que na época devia ter uns 7 anos, lá estava ele, andando pela rua, sacolinha de mercado na mão. Quase bati o carro. Ben, olha ali o Vampiro de Curitiba! Vampiro mãe, esse velhinho é um vampiro? Tem vampiro em Curitiba? Fiquei emocionada, inundada com aquela sensação lá do estúdio. Acho que cheguei a corar de novo!
Minha primeira lembrança do Dalton são as lombadas dos seus livros na biblioteca da casa dos meus pais. Na minha época de criança, literatura infantil se resumia ao Menino do dedo verde, Meu pé de laranja lima, as obras de Monteiro Lobato, Poliana, a coleção Vagalume e o Pequeno Príncipe, o resto era direto na literatura pra valer, de adultos. Era uma leitora meio precoce devo admitir, mas os livros do Dalton ficavam lá no alto da estante, providencialmente longe das minhas pequenas mãos.
Mas o Dalton era mais que autor, era personagem. Sue nome e sua incrível mítica de fantasma/vampiro começavam a chegar aos meus ouvidos. Quem era esse nosso grande escritor que era reconhecido no Brasil todo, que vivia quase recluso, que não se deixava fotografar, que não dava entrevistas? Precisava saber.
Adolescente, mais alta, voltei a nossa biblioteca e fui conhecer as capas dos livros do instigante escritor. Lá estavam O Vampiro de Curitiba. Virgem louca, loucos beijos, A Polaquinha, Novela nada exemplares, Cemitério dos elefantes, Morte na Praça, Mistérios de Curitiba, O Pássaro de cinco asas, entre outros. As capas eram incríveis, diferentes de tudo que eu já tinha lido, com certeza. O que me atraia era que o Dalton era curitibano, a possibilidade de ler sobre a minha cidade num livro era uma coisa inédita, eu poderia reconhecer os lugares, quem sabe até conheceria algum dos personagens, estava emocionada. E lá fui eu entrar nas brumas da cidades nos olhos do Dalton.
Nada me preparou para o que li! Foi obviamente um choque, vocês podem imaginar. Num primeiro momento, o estranhamento foi enorme, não conseguia definir o que estava lendo, alias, o que era isso que eu estava lendo? Lembro da sensação: eu no estúdio da minha casa, lendo o livro e tomada pela sensação de estar cometendo um pecado quase tão grande quanto os beijos roubados das personagens das histórias. Embora já tivesse lá meus 15 anos, as conversas sobre o assunto sobre o qual Dalton escancarava nas suas páginas não era conversa fácil na mesa de jantar. Época de tabus e segredos, mesmo para uma família bastante liberal como a nossa. Eu lia e me sentia uma das personagens do livro, acho que chegava a corar! Assim fui apresentada ao Dalton, assim me tornei cúmplice das prostitutas, cafetões, virgens e pilantras que ia conhecendo naquelas tardes dos anos 80.
Quando estava na faculdade de jornalismo, dez anos depois, meu caminho sempre passava pela casa do Dalton. Passei anos esperando a chance de ver nosso vampiro. Aquelas janelas sempre fechadas...
Vinte anos depois, no carro com meu filho que na época devia ter uns 7 anos, lá estava ele, andando pela rua, sacolinha de mercado na mão. Quase bati o carro. Ben, olha ali o Vampiro de Curitiba! Vampiro mãe, esse velhinho é um vampiro? Tem vampiro em Curitiba? Fiquei emocionada, inundada com aquela sensação lá do estúdio. Acho que cheguei a corar de novo!
terça-feira, 26 de maio de 2015
A utilidade das coisas inúteis
Não chego a ser uma acumuladora, mas passo respando. Minha casa está entulhada de coisas, tenho uma sala cheia de caixas e sacolas recheadas de coisas que já não me servem mais. Não tem dia que eu não separe uma coisinha do armário, do quarto das crianças, da cozinha.
Tudo bem, a grande maioria tem destino, roupas e sapatos vão pra alguns clientes fixos, alguma coisa deixo no carro pra dar na rua. Brinquedos e livros, que a gente sempre repassa pra entidades que abrigam crianças. Isso já tá super esquematizado.
O problema são as coisas. Desde que inventaram esse tal de Lixo que não é lixo, não consigo jogar coisas fora. E por coisas você pode contabilizar quase tudo que existe no mundo e que a gente vai acumulando sem perceber. Simplesmente não consigo jogar no lixo nada que tenha ou teve utilidade, então a coisa complica muito. Quer exemplos? O que a gente faz com os estojos de lente de contato? Ganho um em cada compra, tenho um em casa, um no carro, um no escritório, um na bolsa e assim mesmo não consigo dar conta, eles se multiplicam na minha gaveta, é desesperador. Agora vai jogar assim, no lixo? Não consigo. Porta cartão de banco é a mesma coisa, de couro, chiquérrimo, lixo também? Impossível. Tudo que vem dentro da necessaire do avião, calcadeira, máscaras, os malditos creminhos, os pentes que dobram? Sério, lixo? Carteiras usadas, lembrancinhas de aniversário infantil, copos promocionais, agendas, bloquinhos de anotação, caixas bonitas, saquinhos de filo de presentes recebidos, álbuns de fotografias e porta retratos antigos, latas de biscoitos, calculadoras solares, réguas, cds brindes de fim de ano, louça desparelhada, colheres de pau, abridores de lata, pesos de ginástica, raquetes de ping pong, chaveiros as pencas, canecas, fones de ouvido, estojos e pinceis de maquiagem, cavalete, bastidor de bordado, pendrives, grampeadores, marcadores de livros ???? Tudo lixo? Não consigo pensar nessas coisas todas indo atulhar o lixão, me dá uma culpa enorme de jogar "coisas boas" no lixo. Não quero ser a responsável por antecipar o esgotamento dos aterros sanitários.
Fico tentando achar novos donos pras minhas quinquilharias, separo coisas pra bazares, pra asilos, mas fico com vergonha do teor da minha doação. Como não tem nada de valor, espero ter uma coisinha melhor pra dar um upgrade no pacote. Uma panela, um enfeite de casa, um eletrônico aposentado. E penso em quanta coisa inútil entra na nossa vida. Enquanto isso, as tranqueiras vão tomando conta das caixas na minha sala, no meu cemitério de coisas inúteis, esperando a reencarnação.
Tudo bem, a grande maioria tem destino, roupas e sapatos vão pra alguns clientes fixos, alguma coisa deixo no carro pra dar na rua. Brinquedos e livros, que a gente sempre repassa pra entidades que abrigam crianças. Isso já tá super esquematizado.
O problema são as coisas. Desde que inventaram esse tal de Lixo que não é lixo, não consigo jogar coisas fora. E por coisas você pode contabilizar quase tudo que existe no mundo e que a gente vai acumulando sem perceber. Simplesmente não consigo jogar no lixo nada que tenha ou teve utilidade, então a coisa complica muito. Quer exemplos? O que a gente faz com os estojos de lente de contato? Ganho um em cada compra, tenho um em casa, um no carro, um no escritório, um na bolsa e assim mesmo não consigo dar conta, eles se multiplicam na minha gaveta, é desesperador. Agora vai jogar assim, no lixo? Não consigo. Porta cartão de banco é a mesma coisa, de couro, chiquérrimo, lixo também? Impossível. Tudo que vem dentro da necessaire do avião, calcadeira, máscaras, os malditos creminhos, os pentes que dobram? Sério, lixo? Carteiras usadas, lembrancinhas de aniversário infantil, copos promocionais, agendas, bloquinhos de anotação, caixas bonitas, saquinhos de filo de presentes recebidos, álbuns de fotografias e porta retratos antigos, latas de biscoitos, calculadoras solares, réguas, cds brindes de fim de ano, louça desparelhada, colheres de pau, abridores de lata, pesos de ginástica, raquetes de ping pong, chaveiros as pencas, canecas, fones de ouvido, estojos e pinceis de maquiagem, cavalete, bastidor de bordado, pendrives, grampeadores, marcadores de livros ???? Tudo lixo? Não consigo pensar nessas coisas todas indo atulhar o lixão, me dá uma culpa enorme de jogar "coisas boas" no lixo. Não quero ser a responsável por antecipar o esgotamento dos aterros sanitários.
Fico tentando achar novos donos pras minhas quinquilharias, separo coisas pra bazares, pra asilos, mas fico com vergonha do teor da minha doação. Como não tem nada de valor, espero ter uma coisinha melhor pra dar um upgrade no pacote. Uma panela, um enfeite de casa, um eletrônico aposentado. E penso em quanta coisa inútil entra na nossa vida. Enquanto isso, as tranqueiras vão tomando conta das caixas na minha sala, no meu cemitério de coisas inúteis, esperando a reencarnação.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Me dá um autógrafo?
Para o fã, conhecer alguém famoso é uma experiência engraçada e perturbadora.
Todo mundo vira um jacu quando sabe que vai conhecer alguém famoso, que dirá um ídolo. A gente vira uma criança tímida em questão de segundos, fica procurando o que falar, tenta ser o mais inteligente possível, gagueja, fica evitando aqueles silêncios constrangedores. Já conheci algumas pessoas bem famosas e tive todos esses sintomas de tietisse aguda.
Conhecer alguém famoso também pode ser uma faca de dois gumes. Em um segundo a idolatria pode virar um mágoa eterna. Toda a magia em volta do seu ídolo vira pó com uma resposta mal dada, um tratamento inadequado, um gesto mal colocado, com arrogância ou indiferença pela sua devoção. Nunca vou esquecer a vez que tive um autógrafo negado por um global quando passei as férias no Rio de Janeiro lá na primeira infância. Nunca perdoei!
Hoje um pouquinho mais adulta, ainda tenho meus pudores em frente aos meus idolos e a pessoas que admiro, mas já entendo que são gente acima de tudo, gente boa ou ruim, independente da fama. No entanto, posso garantir que quanto mais genial for a pessoa, mais bacana e simples ela é. A soberba, a arrogância, são coisas de celebridades, famosetes, gente não necessariente brilhante.
Recentemente constatei minha teoria, fui jantar com amigos que conheciam um outro casal de gente bem gabaritada em sua área. E aí batata, em dois minutos de conversa, a comprovação, estávamos diante de gente fina, elegante e sincera.
Pelo trabalho delas eu já desconfiava, é claro, mas sentada na mesa conheci gente da melhor qualidade, inteligente, divertida, simpática. Gente que acolhe, que conversa, que escuta, que divide, se interessa. Gente que conta histórias, que emociona, que dá risada, que racha o prato, que trata todo mundo igual, que anda á pé, pega os filhos na escola, fala com emoção da vó.
Fui uma noite super gostosa, daquelas em volta de uma boa mesa, sem ver o tempo passar, comida boa, conversa ainda melhor, onde a gente vira fã de novo, só que dessa vez das pessoas sentadas na nossa frente.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Dia das mães
Não esse não é um daqueles textos emocionantes, que exaltam a maternidade, que santificam as mães. que glorificam as suas qualidades. Não mesmo!
Ontem foi o dia das mães e pra quem perdeu a sua, esse dia é extremamente delicado e muito difícil. Queremos estar radiantes, felizes com os nossos rebentos -quando os temos, mas alguma coisa lá no fundinho faz tudo perder um pouco a graça. Minha mãe não está aqui, é tudo que eu consigo pensar, e lamentar, e sofrer.
Penso na minha mãe e penso em mim como mãe, e sofro com as centenas de culpas que, como todas as mães, carrego. Vejo aquele bombardeio de comerciais que estereotipizam as mães como criaturas celestiais, carinhosas, cozinheiras, zelosas, prendadas, que curam machucados, fazem o prato preferido, tiram mancha das roupas, fazem lição de casa e são quase as antigas Amélias do lar.
Não sou uma mãe assim, Não sou mãe de comercial, nunca fui e nunca serei. Sou uma mãe descabelada, que atualmente grita mais que cozinha. Tenho dois adolescentes em casa e a vida nessa fase passa longe desse idílio maternal. São tempos onde o mundo virtual quer tomar o nosso lugar, que o diálogo sofre bastante, que as disputas por espaço requerem muita paciência, que até o contato físico fica mais raro. Não tem nenhum comercial de dia das mães com filhos grandes, tem é muito trabalho, atenção, persistência. Tem que falar de bebidas, de sexo, de drogas, de se dar valor aos valores certos, tem que dizer muito não e isso não emociona ninguém.
Meu dia das mães não é cor de rosa, cheio de presentes e cartões. Meu dia das mães é um momento de refletir entre a mãe que sou e a que quero ser. Meu dia das mães é um dia doloroso com a perda da minha mãe e as minhas próprias perdas como mãe.
Não sou uma mãe de comercial, sou uma mãe real, de carne e osso. Não sou super, não sou onipresente, sou humana e erro. Não sou perfeita e forte, sou o que sou. Mas tento ser a melhor mãe que consigo ser. Tive uma mãe fantástica, que espero muito refletir. Espero ensinar meus filhos que eles podem ser assim também, humanos, incompletos, imperfeitos, mas muito amados.
Ontem foi o dia das mães e pra quem perdeu a sua, esse dia é extremamente delicado e muito difícil. Queremos estar radiantes, felizes com os nossos rebentos -quando os temos, mas alguma coisa lá no fundinho faz tudo perder um pouco a graça. Minha mãe não está aqui, é tudo que eu consigo pensar, e lamentar, e sofrer.
Penso na minha mãe e penso em mim como mãe, e sofro com as centenas de culpas que, como todas as mães, carrego. Vejo aquele bombardeio de comerciais que estereotipizam as mães como criaturas celestiais, carinhosas, cozinheiras, zelosas, prendadas, que curam machucados, fazem o prato preferido, tiram mancha das roupas, fazem lição de casa e são quase as antigas Amélias do lar.
Não sou uma mãe assim, Não sou mãe de comercial, nunca fui e nunca serei. Sou uma mãe descabelada, que atualmente grita mais que cozinha. Tenho dois adolescentes em casa e a vida nessa fase passa longe desse idílio maternal. São tempos onde o mundo virtual quer tomar o nosso lugar, que o diálogo sofre bastante, que as disputas por espaço requerem muita paciência, que até o contato físico fica mais raro. Não tem nenhum comercial de dia das mães com filhos grandes, tem é muito trabalho, atenção, persistência. Tem que falar de bebidas, de sexo, de drogas, de se dar valor aos valores certos, tem que dizer muito não e isso não emociona ninguém.
Meu dia das mães não é cor de rosa, cheio de presentes e cartões. Meu dia das mães é um momento de refletir entre a mãe que sou e a que quero ser. Meu dia das mães é um dia doloroso com a perda da minha mãe e as minhas próprias perdas como mãe.
Não sou uma mãe de comercial, sou uma mãe real, de carne e osso. Não sou super, não sou onipresente, sou humana e erro. Não sou perfeita e forte, sou o que sou. Mas tento ser a melhor mãe que consigo ser. Tive uma mãe fantástica, que espero muito refletir. Espero ensinar meus filhos que eles podem ser assim também, humanos, incompletos, imperfeitos, mas muito amados.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Não sou o inimigo
Não aguento mais ter que tomar partido, ser contra esse, a favor
daquele, viver em conflito. Principalmente porque acredito que a verdade está
sempre no meio do caminho. Vendo todos os lados da questão a razão geralmente
está a meio termo, e todos deveriam aprender a ceder.
Por isso me irrito muito com essa dicotomia obrigatória que alguns
governantes insistem em nos colocar em todas as questões do nosso país. Essa
tentativa de guerra civil, essa campanha da rivalidade, do ódio, do
enfrentamento constante. Não aguento mais voz alta, gritaria, dedos em riste,
donos da razão, incitamento.
Isso porque não sou esquerda, não sou direita, nem sou do centro. Não
sou governo, não sou oposição. Não sou classe A, nem B, nem C, nem média alta,
nem D, nem consigo classificar minha situação financeira atualmente. Não sou
burguesa, não sou favelada, não sou Dazelites, não sou povão. Não sou coxinha,
nem empadinha. Não sou ateia, não sou
religiosa. Não sou maioria, nem minoria. Não sou filiada, não sou alienada. Não
sou reacionária, não sou comunista, nem capitalista, não sou
socialista. Não sou golpista. Sou simplesmente alguém que não quer ser
rotulada, que não quer ser jogada contra grupos rivais, e principalmente, não
sou a inimiga.
Não penso sempre pelo mesmo prisma, mudo de ideia, discuto, reflito. Coexisto.
Hoje esse lado tem razão, no outro assunto não mais. Gosto das tuas ideias sobre
isso, discordo sobre aquilo. Algumas vezes a razão não está com ninguém.
Está mais do que na hora de pararem com essa segregação social e
intelectual. Isso não nos levará a um lugar melhor, não nos tirará da rua, não
nos aquietará o coração. O que a gente precisa é jogar junto, e torcer pela
união. A gente precisa agregar talentos para pensar em soluções que possam ser
o começo de um caminho que todos possam trilhar juntos. A gente tem que buscar o
caminho do meio. Todo mundo na mesma meta. Eu e você, PM e o professor, pais e filhos, deputado
e a galeria, empregado e patrão, motorista e ciclista, morro e asfalto, presidente
e a nação.
terça-feira, 5 de maio de 2015
Diga 33!
Acabei de fazer todos os meus exames. Sou uma pessoa disciplinada, vou ao médico uma vez por ano religiosamente e faço todos os exames que ele pede. Tenho histórico familiar, não posso vacilar. É sempre um momento delicado, vem sempre acompanhado por uma ansiedade terrível.
Mas la fui eu passar quase uma manhã na clinica de exames ultra sonográficos. Cada ano o exame demora mais, cada ano a gente adiciona uma nova parte do corpo. Saí com praticamente todo o corpo lambuzado de gel. Exame de sangue então, nunca menos de 10. Graças a Deus inventaram aquele sistema à vácuo, onde encho pelo menos 7 tubinhos em cada visita ao laboratório. Não me importo, faço tudo direitinho, em jejum, sem reclamar. Todo ano, em março ou abril o mais tardar, to lá.
Meu marido, que também se cuida, tem outra rotina de exames, faz lá um teste de esforço, uns exames de sangue, pronto. Homem é tranquilo, se passar um ano sem ir no médico, não se estressa. Mulher não.
Essa rotina de exames para as mulheres é bem mais cobrada. Primeiro, mesmo saudáveis, a gente tem um médico a mais, além do clínico geral, toda mulher tem o seu ginecologista. Nosso cacife inicial é esse, dois médicos, sempre. Essa ida anual ao ginecologista é (pelo menos deveria ser) sagrada, mais que o clinico geral. Que homem saudável, jovem, vai ao urologista todo ano?
Nesse departamento, a mulher está sempre mais atenta. Quando chega a época de ir no meu medico fico logo ansiosa, não gosto de postergar, Quero ir logo e pronto, fazer os exames e pronto, saber que tá tudo bem e pronto! Fico muito tensa se fujo desse cronograma.
Esses exames todos de imagem são delicados. Você tá ali na sala, tá vendo junto com o médico, embora todo aquele borrão na tela não te diga muita coisa. Mas a gente sempre sabe e sente quando o medico não gosta do que vê. Ele não está num laboratório protegido. E alguma coisa na voz, na maneira como ele fica repassando o instrumento no mesmo lugar por algum tempo que parece infinito. As vezes um silêncio constrangedor. As vezes a repetição de um exame que você já fez. E a gente ali, vendo tudo, sentindo tudo, não é fácil. A cabeça vai lá na frente, pensa em todas as possibilidades e consequências. A lágrima fica ali prontinha. A maioria das vezes tudo acaba bem. Algumas vezes precisamos de outros exames complementares (ai meu deus!). As vezes não dá pra esconder uma má notícia.
Resultados na mão, perguntas na cabeça, agora tenho a reconsulta. E nada de deixar os exames lá. Tenho que ir pessoalmente pra me certificar que está tudo bem. Por isso é tão importante passar por esse turbilhão todo ano. Pra que seja sempre uma ansiedade, nada mais!
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Minha vida com Elis
Estou vivendo outra vida! Esse é o poder de uma boa biografia,
transportar você para outro mundo, outra época, outra vida. Viver a vida do
outro.
Sempre gostei de biografias, desde muito
cedo. Era até um pouco estranho ver uma menina de 14 anos lendo a vida de
Sophia Loren. O que poderia nos aproximar? O que eu, na época, podia entender
dos romances e nuances de uma mulher tão distante da minha realidade
adolescente.
Não lembro qual foi a primeira, mas
certamente ler o diário de Anne Frank com a idade dela foi um divisor de águas
na minha estante e na minha cabeça. De lá pra cá, passaram pela minha mão
outras atrizes, bailarinos chineses, astros de rock, grandes compositores,
fugitivos de guerra, gente do show bizz, estadistas e pessoas comuns em
momentos incomuns.
Atualmente sou coadjuvante da vida da Elis
Regina, de quem já era mais que fã e já tinha lido uma biografia anterior que
havia me deixada muito frustrada. Sempre ouvi Elis, sempre amei Elis e assim
como os americanos sabem onde estavam no dia 22 de novembro de 1963, quando os
tiros de Lee Oswald tiraram a vida de JFK, lembro muito bem do impacto de ouvir
a noticia da morte da minha cantora preferida. Lembro onde estava, o que estava
fazendo e o que vestia naquele 19 de janeiro de 1982. Lembro da tristeza
infinita, eu tinha 13 anos.
Aos 12 vi Elis Regina ao vivo, durante um
ensaio do espetáculo O Grande Circo Místico que o Ballet Teatro Guaíra estava
montando. Elis estava na cidade em turnê e no dia seguinte foi convidada para
assistir o que os amigos Chico Buarque, Edu Lobo e Naum Alves de Souza estavam
tramando na terra dos pinheirais. Ela chegou e sentou exatamente na minha
frente. Eu estava com meu pai na plateia, convidado também para uma prévia do
lindo espetáculo. Fiquei sem folego.
Tiete da mãe que sou, fui assistir ao show
de Maria Rita em homenagem a Elis e fui quase uma atração maior que a cantora.
As pessoas a minha volta não paravam de olhar para essa pessoa que soluçava
tanto na plateia. Um vexame.
Ter Elis como companhia nas madrugadas
insones é um prazer enorme. Acompanhar suas tempestades e sua genialidade,
agora em idade que posso ao menos de leve entender esse universo passional da
cantora é um luxo para quem tinha verdadeira adoração por ela.
Hoje ao ler sobre a gravação de Atrás da
Porta, chorei tanto quanto sempre choro ouvindo a música, um hino. Mas também
já vibrei com ela e Jair Rodrigues no show no Paramount, já conheci jovens
compositores que Elis gostava de descobrir e fico sempre buscando as músicas
citadas na minha memória.
Porem não é fácil ler sobre pessoas que
amamos e nos deixaram, O capitulo inicial do livro, que conta o momento de sua
morte foi uma tortura. Me peguei esperando ler a frase que mudasse o destino
conhecido, torci para o táxi chegar ao hospital a tempo de salvar a vida de
Elis, o coração aos pulos. A dor infinita novamente. A sensação de uma perda
tão grande, do desperdício de uma vida tão rica perdida tão cedo.
O livro está na metade, e já começo a
ficar triste em saber que vou ter que me despedir ainda mais uma vez da Elis.
Vou lembrar pra sempre da imagem que não está em nenhum livro, filme, ou
aparição dela na TV: Elis, a gigante, tão pequenina, ao alcance dos meus olhos,
até das minhas mãos. Uma Elis só minha!
Nada Será como Antes, de Júlio Maria,
editora Master Books.
https://www.youtube.com/watch?v=cJTiRh3sNS4
terça-feira, 14 de abril de 2015
Enfeite sua casa
Cadê os pinheirinhos, cadê as luzinhas? Passamos da Capital do
Natal para sei lá, é Natal?
Tenho certa obsessão pela decoração de Natal. Talvez por ser judia
e não celebrar a festa como os cristãos celebram, dou muita importância à
decoração urbana do Natal. Como não tínhamos nem pinheirinho, nem presentes e nem
ceia, meu Natal se resumia a um lindo passeio de carro na noite do dia 24 para
uma competição de contar os pinheirinhos alheios e as grandes decorações de
Natal das lojas tradicionais e das casas mais abastadas. Era mágico. A cidade
ficava linda e acolhedora. Cada decoração era como uma forma de carinho para
com a cidade. Só faltava a neve.
Passamos depois para uma época onde a decoração de Natal virou uma
febre. Havia concurso para eleger a casa mais linda, a loja mais bacana, a rua
mais enfeitada. Foi uma overdose. De repente todas as ruas e casas tinham as
famigeradas luzinhas numa banalização de algo que deveria ser feito com cuidado
e criatividade. Uma ou outra iniciativa que valiam a pela, a casa do Bacacheri,
a Rua Elbe Pospissil, alguns prédios elegantes, lojas bem intencionadas se
perdiam num mar de pisca-pisca e Papais Noéis desgrenhados e suicidas,
pendurados em para quedas, despencando pelas sacadas.
Aí, de repente, a indiferença. Ninguém quer mais saber do assunto,
fora os grandes shoppings e uma ou outra sacada iluminada. Que pena! Sinto
falta desse cuidado. Desse carinho. Sinto falta daqueles pinheirinhos duros nos
postes de luz que a prefeitura fazia nos anos 70. Das árvores enfeitadas com lâmpadas
coloridas. Da casa e da loja Hermes Macedo. Quero de novo a rua XV com aquela
Galeria de luz maravilhosa que também já não se faz mais.
Tudo bem o Natal já passou. Mas fica a sensação de que a gente tem
que cuidar e enfeitar a cidade. Pessoa física, sempre. Fui pra pequenos
povoados na Itália e na Espanha onde se premiam as casas mais floridas. Varias
categorias, de vasos nas janelas a jardins inteiros. È lindo! Provinciano, pode
ser, mas doce demais. Em Carmel, na Califórnia, as casas tem nome, são quase
gente! Isso é sensacional, é o respeito e o carinho pelo lugar onde se vive.
Quem vai pixar o muro cheio de flor?
Então pra 2015, o desafio é esse, vamos enfeitar a cidade. Pintar
a casa, arrumar o jardim, fazer uma bela vitrine, arrumar a calçada, plantar
uma arvore, chamar um artista pra pintar o muro, mudar o letreiro, recuperar as
fachadas, combinar com o vizinho a decoração do Natal que vem. Cuidar da
cidade, com carinho.
segunda-feira, 13 de abril de 2015
A céu aberto
Dentro de todas as mudanças que a cidade
vem sofrendo com o seu crescimento acelerado, duas, pra mim, são das mais terríveis.
A primeira é de ordem visual; Curitiba está toda pichada!
A pichação parece uma doença contagiosa
que vai se alastrando de casa em casa. Não deixa um espacinho em branco. A
coisa saiu do controle e vem se espalhando por bairros antes bucólicos e
limpos. Não faz descriminalização de status social, função urbana, forma e
altura. O ataque é fulminante.
Mais que uma questão estética, a pichação
revela um lado triste da cidade, o desrespeito do cidadão para com o outro e
para com a cidade em si. Tão acostumada com uma cidade onde o orgulho do
cidadão sempre foi um ponto super positivo, ver essa degradação da cidade me
atinge como um raio. O que passa na cabeça dessa gente que se acha no direito
de sujar o mundo dessa maneira? Antes existia até uma certa ordem nessa baderna.
Pichar muros, portas de aço de lojas, tapumes, casas abandonadas, valia. Prédios
históricos, casas simples, igrejas, prédios de função social e grafites
bacanas, não. Não mais. Lateiro não respeita nem seus "irmãos
nobres", nem arte, nem nada. Triste demais. A pichação é puro descaso,
desprezo. A pichação é puro desamor.
A segunda é o aumento das pessoas que
tenho visto dormindo na rua. Talvez não seja uma questão urbana, municipal, uma
vez que é de ordem social e econômica, mas o reflexo disso acontece em cada
marquise, em cada praça, em todo lugar que se olha. O reflexo acontece na
cidade. Sempre tivemos nossos moradores
de rua. A rua XV era recheada deles. O centro sempre teve essa população
flutuante. Porém, nos bairros isso era coisa difícil de ver. Não mais. A visão
dessas pessoas está logo ali no banco, na porta da loja, na ciclovia, onde
tiver o menor sinal de abrigo. A crise está ai, e essa realidade se veste de
cobertores puídos e colchões esfarrapados.
Esse empobrecimentos real e visual da
cidade a céu aberto tem que ter um fim. Se não podemos controlar a
economia brasileira, temos que reforçar nossas redes de apoio. Conheço os
projetos que a cidade oferece, são muitos, das sopas noturnas ao albergamento. Tem
que ter mais! Precisamos fazer mais como cidadãos também. Apoiar, ajudar, avisar,
nos voluntariar, aquecer.
Temos também que proteger a cidade dessa
praga em forma de spray. Precisamos de leis mais duras, venda mais fiscalizada
dos produtos, denuncia anônima e premiada, penas com trabalhos voluntários aos
sujões, mutirão de limpeza, projetos de recuperações de áreas degradadas. Tudo
isso e mais. Acho que acima de tudo temos que nos reeducar. Redescobrir o
respeito, resgatar nosso orgulho e principalmente, refazer os laços que nos
unem, cidade e cidadão.
Que cidade é essa?
Curitiba muda a olhos vistos. Curitiba não é mais a mesma. Isso
todo mundo sabe e vivencia a todo o momento. Isso me causa um misto de
sentimentos enorme.
Me considero super curitibana e tenho um
ciúme doentio dessa cidade que já foi sorriso, já foi modelo, já foi ecológica
e agora se encontra num momento de transição enorme no seu processo de virar
uma cidade grande de 322 anos.
Às vezes, isso de ser uma cidade grande me
encanta. Adoro essa diversidade que invadiu a cidade, essa mentalidade
cosmopolita de viver o novo agora, Tem mais colorido nas ruas por causa disso,
tem gente diferente, tem engajamento, tem movimentos que só esse processo de
aglutinar oferece. Mais cultura, mais lazer, mais opções, mais alegria.
Por outro lado, virar uma cidade grande
gera tanto problema! Uma cidade grande demanda tanto! A infraestrutura e
principalmente a falta dela, começam a pipocar aqui e ali, onde antes a paz
reinava. Assumir tanta gente, tanto carro é um desafio enorme que nem sempre o
poder público tem a sabedoria, o tempo e os recursos pra vencer.
A Curitiba provinciana está indo
definitivamente embora. Provinciana no bom sentido, naquele que os vizinhos se
ajudam, as pessoas se encontram nos teatros, o transito flui sem stress, se
pode andar na rua, o cidadão tem orgulho de morar aqui, o lixo é reciclado. A
minha geração será a última a viver essa cidade idílica na qual
crescemos.
A cidade está perdendo referenciais e parâmetros
importantes que faziam dela ser tão boa para se morar. Não podemos deixar
certos pilares do nosso planejamento urbano sejam abandonados. Transporte, lixo
que não é lixo, cultura, atendimento à criança, educação, civilidade; coisas
pelas quais sempre fomos reconhecidos, premiados, imitados. Curitiba já nem
pertence mais aos curitibanos, hoje minoria. Mudamos muito. Ganhamos muito, mas
perdemos muito também. Precisamos resgatar nossa identidade, ou melhor,
precisamos criar uma nova, que envolva esse novo contingente de pessoas que
habitam as nossas terras dos pinheirais. Precisamos resgatar nosso amor a essa
cidade tão especial.
Meu presente pra
Curitiba sempre será esse, meu amor incondicional. Minha dedicação e
meu esforço pra que ela seja sempre a cidade dos meus sonhos.
Assinar:
Postagens (Atom)