segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Me dá 5 minutos?

Você já ouviu mil vezes: acabou o ano. Você já ouviu outras mil vezes: o tempo ta passando cada vez mais rápido. Nem vou discutir a questão fisico-temporal. O tempo está passando mais rápido, ponto!

Claro que a nossa vida esta cada vez mais corrida e isso nos dá essa impressão de pressa desenfreada, meses que passam num piscar de olhos, dias que nem percebemos, a sensação que o fim de ano chega quase depois de julho. Minha semana só tem sextas-feiras. Quando me dou conta, já é sexta, nem vi o que aconteceu, zum,  passou voando. E contando o tempo em sextas, o ano fica muito curto, 52 delas, as vezes menos. Cadê? Acabou!

Quer uma prova? Esses dias estava vendo a novela Dancin Days no canal Viva. Além das roupas e cenários oitentinhas o que mais me impressionou foi o ritmo da novela. Tomadas muito looooongas, Cenas que se arrastavam por horas falando de um assunto que nem era importante pra trama central. Pessoas lendo revistas, várias páginas, sem uma palavra sendo dita. Tempo se esparramando! Hoje, numa novela, cada take tem no máximo 20 segundos, com muito esforço. Mil imagens, cortes, tudo acelerado. Como nós, o ritmo das nossas vidas virou um clip maluco editado em mil pedacinhos de  5 segundos.

Mas o que me faz ter tanta certeza e a prova irrefutável  de uma questão cientifica tão complexa - a aceleração real do tempo, é que nossos filhos sentem o mesmo. Você lembra de quando você era criança? Nem existia essa percepção do tempo. A gente tinha tempo simples assim. A gente fazia o tempo da gente. Ninguém estava nem preocupado com isso, a gente estava curtindo todo o tempo do mundo. Tempo era coisa pra quem não o tinha, isto é, coisa dos adultos.

As crianças de hoje não. Estão sempre sem tempo. O tempo tá correndo pra elas também o que é um desastre quântico sem proporções. Elas correm como adultos, vivem como adultos, É tempo pra brincar, tempo pra comer, tempo pra estudar, tempo pra dormir, tudo cronometrado. Quando vejo as crianças de hoje bombardeadas por esse mundo mega editado, fazendo mil coisas ao mesmo tempo, vejo o reloginho biológico deles ir acelerando perceptivelmente. A infância ficando cada vez menor, a correria chegando cada vez mais cedo, A percepção do tempo! Me parte o coração.

Tive muito tempo, aproveitei muito a vida sem horário. Não uso relógio, mas mesmo assim sinto a pressão do tempo onde vou. Mas eu tento. Acredito que temos muito tempo ainda, só precisamos aprender a desacelerar, a respirar, a parar. Fazer menos coisas com mais qualidade, sair desse vídeo clip alucinado. Ensinar às crianças, takes longos, intermináveis! Vida por viver!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A cidade das crianças

Quer uma pessoa melhor? Cuide da criança. Não tem novidade nenhuma nessa ideia. Educação, educação, educação, é tudo o que ela precisa para crescer forte, inteligente e saudável. Quer um cidadão melhor? Faça o mesmo. Eduque essa criança a conhecer e viver a sua cidade.

Estou nos Estados Unidos e sempre que venho pra cá fico impressionada com a diferença entre as nossas crianças, como elas se relacionam de forma diferente com o seu redor.Toda grande cidade americana tem uma grande variedade de equipamentos voltados para as crianças. Tem aquário, planetário, bibliotecas, Museu de Ciências, de História Natural, de Tecnologia, you name it! Isso quando não tem todos. Além disso, os museus de arte (e toda grande cidade americana tem um bom museu) têm programas, exibições, alas inteiras voltadas para as crianças. E todo mundo vai nesses lugares sempre, faz parte da vida delas. Vão com passeios da escola, vão com os pais, com a família. A criança vive a cidade.

Somado a isso, as crianças americanas andam pela cidade. Andam a pé, no carrinho, de bicicleta, de metrô, no ônibus escolar. São acostumadas desde cedo a conhecer as ruas, os trajetos, os vizinhos. Usam o transporte público. Olham as pessoas, sentem os cheiros.
A rua é o cenário das suas vidas e não algo que conhecem por trás de vidros pretos sempre fechados.

Como queremos criar pessoas comprometidas com mudanças e questões de mobilidade se nosso modelo é justamente o oposto? Carregamos nossos filhos pra lá e pra cá em redomas. Isolamos nossos filhos dessa experiência cada vez mais. Como uma criança que não se relaciona com a rua poderá se relacionar com a cidade?

Precisamos mudar urgentemente essa relação. Precisamos de pais mais corajosos, que deixem seus filhos saírem do ninho seguro para se aventurar pelo universo da cidade, explorar a diversidade da rua. Precisamos de cidades mais seguras. Precisamos ter a oportunidade de voltar pra rua. Crianças precisam conhecer seus bairros, precisam ir à padaria da esquina, precisam comprar jornal na banquinha, andar com os amigos, tomar um sorvete na esquina. Se quisermos um mundo mais humano, mais justo, mais criativo, vamos precisar muito dessas crianças no futuro.