quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O som do coração

Arik Einstein. Esse nome não deve dizer nada a grande maioria de meus amigos brasileiros, mas pra quem sabe de quem se trata, com certeza uma tristeza enorme veio com a notícia de sua morte.
Arik Einstein era um cantor e compositor israelense que a gente acostumou chamar de "o Chico Buarque de lá" pra poder tentar dimensionar quem era pra turma das bandas de cá. 
Mas, para mim, era mais do que isso. Ao lado do Shalom Chanoch,  Arik foi responsável por muito mais que letras e músicas, Foi responsável por criar uma identidade judaica em toda uma geração que participava de movimentos juvenis judaicos nas décadas de 70, 80 e 90 em todo o Brasil.
Isso porque a gente, eu era um desses jovens, aprendeu a cultura e a língua hebraica através das músicas deles. Muito mais que só palavras, as suas letras embalavam nossos sonhos de conhecer Israel e sua gente. As histórias nos mostravam um pouco da maneira "sabra"- como são chamados os nascidos em israel,  de ser. Cantar suas músicas era fazer parte de algo muito maior, era ter uma cultura, ser parte de um povo.
Era uma época mais romântica, sem os salamaleques eletrônicos de hoje e a gente se contentava com realmente poucas e boas coisas. Suas melodias foram pano de fundo de muitas noites em volta de diversas fogueiras onde quem tinha um violão era rei. Tempo bom de gente jovem reunida! A gente acampava muito e toda noite, antes do jantar, a gente aprendia duas músicas novas escritas em cartolinas coloridas: uma em hebraico e outra em português. E assim a gente ia formando uma coisa difícil de explicar, mas fácil de sentir. A gente ia se dando conta de todo um mundo diferente e aquilo ia entrando na veia de todos nós.  Cantar músicas em hebraico era um elo muito poderoso. E era um prazer!
Tive a oportunidade de ir pra Israel e assistir a shows de muitos dos meus ídolos, foram emoções indescritíveis. Talvez por ter conhecidos todos eles aqui quando Israel era uma coisa tão distante pra mim, estar num show com esses cantores me parecia surreal. Só faltou o Arik, que depois de um acidente de carro na década de 80 era raramente visto em público. Hoje com os youtubes e itunes da vida, qualquer canto de qualquer canto do mundo está ao alcance dos dedos. Nos anos 80 não. Ter um disco, ter uma fita de um cantor israelense era quase como achar o pote de ouro no fim do arco-íris. Por isso a gente cultuava tanto essa oportunidade de conhecer e aprender tudo isso. Por isso era tão especial. A gente passava as músicas de um grupo para o outro mais novo, como se fossem jóias da família. Jóias da nossa família.
E agora, nossa herança ficou mais pobre. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Quem foi pra Portugal....parte II, a constatação!

Estive em Portugal no começo do ano. Viagem maravilhosa com a família toda e que descrevi no post Quem foi pra Portugal....parte I, a família!
Porém, ao longo dos dias que estive por lá, alguma coisa estava me incomodando, ou melhor, alguma coisa me chamava a atenção, me causava um certo estranhamento mas eu não conseguia definir direito o que era.
Era alguma coisa a ver com o que eu estava vendo. Na verdade, parecia que algo me faltava aos olhos, algo que estava faltando na paisagem.
Fiquei com essa sensação o tempo todo, indefinível, até que um dia, quando a gente estava andando num dos bondinhos da cidade, misturados aos Lisboetas que iam pro trabalho, pra escola, me deu um estalo: achei o que faltava!
O que me faltava aos olhos era a erotização que a gente está sujeito diariamente no Brasil. Eu estava sentindo a falta, visualmente, daquela imensidão de decotes e vestidos justos, de saltos meia pata, maquiagens carregadas, de peitos enormes que nos são bombardeados o tempo todo, na rua, na tv, no shopping, na vida. 
Parecia que eu estava em outro planeta, o planeta das pessoas normais, o planeta das pessoas sem tinta no cabelo, dos corpos naturais (para o bem e para o mal), de traços imperfeitos. Durante toda a viagem, cerca de uma semana, não vi uma chapinha!!! Não vi nenhum microvestido!!!! Vi pessoas confortáveis em seus corpos, e isso foi extremamente reconfortante! Nada daquela imensidão de pessoas idênticas, com o mesmo botox, o mesmo cabelo, a mesma plástica reparadora e a mesma roupa justíssima!
Essa experiência de não ser assolado pela erotização e a valorização do corpo foi incrível. Refrescante. Pode parecer bobagem mas pra mim foi uma experiência física, eu literalmente descancei a vista de tudo isso. 
Aí a gente consegue entender porque os gringos ficam loucos quando chegam no Brasil. Essa macro exposição que existe por aqui deve ser enlouquecedora para eles. Aí a gente começa a perceber ao que nós somos expostos o tempo todo. Pra mim, é um pouco assustador. Esses dias eu fui numa festa. No caminho vi uma trabalhadora das calçadas e juro que a roupa dela era muito mais decente do que a das moças da alta sociedade que estavam na festa. Juro!
Não sou moralista, mas fico de cara com a velocidade das mudança dos padrões que a gente está vendo por aqui. Penso no que fazer com meus filhos, já crescidos nessa nova realidade onde um cinto é praticamente uma saia. Fico pensando em como traduzir isso pra eles sem preconceitos mas também com certo cuidado. O corpo da gente é pra gente. Tem que ter vaidade mas o principal é ter saúde. Tem que ter forma, mas principalmente, conteúdo. Tem que ter o belo, mas tem que se ter respeito.
Espero realmente que eles optem por uma opção mais Portuguesa, com certeza. 



Quem foi pra Portugal.....parte I, a familia!

Estive em Portugal no começo do ano com a família inteira. A viagem da família, que reúne meu pai, eu e minha tropa e a tropa da minha irmã que mora fora é sagrada. Acontece todo ano sob o comando do patriarca que tem o voto soberano sobre o destino da bagunça. Não é uma democracia, é um decreto! Os netos às vezes, raras vezes e com muito dengo, conseguem influenciar essa escolha. Porém uma vez decidido, meu pai não revê nem destinos nem programas, a despeito das ruidosas queixas filiais. 
Confesso que quando o destino foi anunciado pelo meu pai, não houve muita animação. Além disso, a viagem seria meio curta: apenas uma semana, queríamos mais. Todo mundo feliz é claro, afinal viajar é a coisa que todos nós mais gostamos de fazer lá em casa. Viajar pra fora então, com primos e tudo mundo, delicia!!!! Mas Portugal ??? Não é o lugar mais glamouroso do planeta, não tem o apelo de Paris, não é verdade ?? Mas, já no época do embarque, não podíamos estar mais animados. Vamos à Terrinha, ó pá!
Portugal foi uma imensa e deliciosa surpresa. Terra mãe, em vários sentidos. Na gente calorosa, atenciosa e simpática, que nos recebeu com carinho e atenção. Na mesa farta e de delicadezas culinárias que nos deixaram encantados. Na história, nossa história, e nas tradições que adoramos mostrar pras crianças. Nas casinhas com seus azulejos e nas ladeiras tão familiares até para nós, curitibanos e nova iorquinos.
Foi a melhor das viagens, primos separados por um continente rindo e brincando juntos em meio a pasteis de nata, sonho para qualquer um!
Talvez Portugal tenha nos ganho pelo estômago. Comemos muito, e bem! E a turma é exigente. Além de um conhecedor de requintes culinários como meu pai, Portugal conseguiu encantar até a minha filha Liana que é aquela criança que não come nada além de macarrão. Pra mim, a viagem a Portugal foi uma celebração ao polvo em todos as suas formas de preparo, inesquecível.
Foi uma semana divertida, com direito a Lisboa, Sintra, Cascais e  Porto. Passeios de trem, bondes, castelos, castelos e mais castelos de verdade, uma novidade na vida das crianças.
E no final da semana voltamos para a antiga colonia portuguesa que nos serve de lar. Voltamos enriquecidos em todos os sentidos. Voltamos de lá encantados, passamos dias agradabilíssimos e olhe que mais da metade deles numa garoa fina de dar dó! Gostar tanto de um lugar mesmo quando se ficou andando na chuva é mérito para poucos destinos. Talvez por não ter esse apelo glamouroso que Portugal seja tão bacana. É na simplicidade que tudo nos cativa. Não tem truque, não tem marketing, não tem embalagem, Portugal é puro conteúdo

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Picasso

A década era a de 70 e a Feira de Artesanato de Curitiba, a feirinha, não passava de uma centena de barraquinha que enchiam uma quadra do Largo da Ordem, bem do ladinho da então maior atração turística da cidade, o Relógio das Flores. Sim meus caros, o Relógio das Flores era a parada obrigatória de todo mundo que visitava nossa comarca naqueles mágicos anos. Uma foto ali era a prova derradeira que a pessoa esteve mesmo em Curitiba.
A feirinha era também o grande programa de domingo de sol ou melhor, de não chuva. A gente ia sempre lá até os meus 10 anos. Sagrado. Ouvir o chorinho, comprar aqueles anéis e colares de florzinhas de miçangas coloridas, dar uma olhada na última moda em carteiras, cintos e sandálias de couro, ver os maravilhosos moveis de madeira laqueados e pintados com flores rosa pra por na casinha de bonecas, ver as esculturas de arame retorcido, pedir uma caricatura, namorar uma bonecas de pano, ouvir o sino de vento de pedras brasileiras da primeira barraca, ir no teatro de bonecos...coisas tão enraizadas na minha memória.
A Galeria Acaiaca, ali localizada, era um oásis de sombra, cadeiras e refrigerante para mim em minhas andanças pela freirinha na minha infância. E um dos principais motivos pra gente ir na feirinha pois o Sade, dono da galeria, espertamente marcava todas as vernissages importantes pros domingos de manhã. E todo mundo ia lá. Foi na Acaiaca que tive o meu primeiro encontro com as artes e com a fanta laranja, servida por garçons de terno branco (um must na época) em copos baixos de whisky. Como a nossa família ia muito lá, eu me sentia em casa e o Sade nunca me chamou a atenção, nem mesmo quando a gente brincava de se esconder, corria pelos salões, entrava na reserva técnica enquanto meus pais conversavam horas com os amigos. Eu me sentia meio dona do lugar. E nessa brincadeira toda, conheci o Poty, o Calderari, o Fernando Velloso,o De Bona, o Erico da Silva e todo mundo que era alguém no mundo das artes paranaense. Me lembro muito desse espaço, de brincar que eram meus os quadros ali pendurados, ajudar meus pais na escolha de alguns deles, ficar olhando as pessoas na feirinha pelos imensos (pra mim) janelões de vidro, ficar tentando descobrir o que eram aquelas bolinhas coloridas do lado dos quadros, das risadas, do cheiro de cigarro e whisky, do colorido, da estranheza de algumas peças, de sentar em esculturas. Não poderia ter uma iniciação artística mais divertida.
Também foi na Acaiaca que ganhei o meu primeiro quadro que está orgulhosamente pendurado na parede da minha casa, isso com 6 anos. Contava assim a lenda a minha mãe. Na saída da galeria, meus pais me pegaram com o tal  quadrinho na mão e foram devolver pro Sade achando que eu tinha pego o dito cujo. Ai o Sade explicou: " É dela, ela ganhou daquela senhora que ficou encantada com a pequena parada na frente do quadro dizendo, não é um Picasso!"

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O amor está no ar

Acabei de sair do segundo casamento desse fim de semana, definitivamente o amor está no ar!!!
Adoro casamentos, adora as festas, os rituais, vestido novo, todo o pacote.
Tive uma festa linda de casamento. Coisa de 1000 pessoas, numa época onde não havia party designers. Ainda bem, porque assim, mInha mãe e eu vivemos momentos mágicos na preparação da festa. Sim porque o noivo só entra na equação no dia. O antes é um momento especial que as mulheres planejam e preparam. Vestido, flores, banda, grinaldas, daninhas, cardápios, doces, convites e lembrancinhas, tudo pensado e escolhido cuidadosamente. Me lembro da emoção de quando me vi no espelho e disse "é esse" para o vestido mais improvável de todos; dos presentes chegand; do arranjo deslumbrante,  todo branco, que nos fez chorar na Flor de Liz.
O dia ( um 21 de maio há quase 20 anos atrás) foi perfeito. Uma cerimônia linda com música e um noivo bem nervosos meu lado, rs! O salão lotado de amigose familiares, pista cheia até as 5 da manhã! Trinta rolos de filme (sim era na época analógica) pra provar! Eu e o Cláudio muito felizes! Nossos pais também! Alegria compartilhada com todos que não pararam de dançar conosco até amanhecer. O amor nosso e o amor recebido em cada abraço. Foi maravilhoso!
No ano seguinte, fui a outros 18 casamentos. Nossa turma toda começando a virar gente grande. Festa quase todo fim de semana. Foi uma fase de muita alegria, todo mundo numa onda de felicidade. Todo mundo jovem e cheios de confiança e vontade de formar  uma vida nova. Lembro bem dessa sensação, o amor definitivamente estava no ar!!!
Ultimamente tenho ido mais em festas de bar mitzva e 15 anos, é onde me encontro na escala social. Já passei a fase dos buffets infantis (amém!) que durou quase uma década. Agora sou mais a motorista da rodada, levando e pegando os filhos na suas iniciações festivas. Vejo as festas de outro plano, sou a mãe, tia, amiga da mãe dos protagonistas.
Por isso esse fim de semana foi tão gostoso, pude reviver essa emoção toda, esse frescor, esse começo. Hoje nas duas pessoas com vidas e bagagens tão diferentes que se renderam ao gesto de assumir um compromisso na frente das famílias ( e até filhos) e amigos . Ontem, numa linda festa. Foram também os primeiros filhos de amigos que vi casar. É emocionante ver seus amigos entregando seus filhos tão alegremente para outras pessoas, desfazendo um laço, deixando que outro laço se faça , lindo mesmo! E tudo isso num cenário perfeito. Noivo e noiva transbordando de alegria. Seus pais também. O amor no ar!!!
Por isso, um brinde a todos que acreditam sempre nessa festa mágica, nos vestidos brancos, nas fotos com os padrinhos, nas mesas de doces, na dança , no bolo, nos beijos dos noivos e nas lágrimas das mães. Mazal Tov!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Gente de peso

Gente de peso! Gosto dessa expressão!
Primeiro porque atribui valor positivo ao peso, ultimamente tão condenado, castigado, depredado. Gente de peso é gente de valor, gente com lastro!
Tive a felicidade de conhecer muita gente de peso, aquelas que a gente admira pela história de vida. 
Não tem nada a ver com pessoas, artistas em geral, de quem a gente ama a obra. Pessoas de peso são de outra categoria, a gente  gosta da pessoa, da sua integridade, sua postura de vida.
Gente de peso impõe respeito. Não importa o tamanho delas, a gente sempre vai olhar de baixo para cima. Eles tem grandeza.
E nem sempre a história delas é feita de grandes atos. Conheci muita gente de peso muito simples, que impressionam pela beleza de suas histórias. Gente que transborda integridade. 
Num pais como o nosso, essas pessoas são exaltadas. Infelizmente, as qualidades naturais das pessoas de peso hoje são cada vez mais raras, mais desacreditas, mais ridicularizadas. Valores, respeito, sinceridade? Coisa de gente trouxa!. Quando descobrimos uma dessas pessoas, muitas vezes ela vira notícia de jornal. É o gari que acha dinheiro no lixo e devolve, o pai que paga a quantia roubada pelo filho inconsequente, pessoas que fazem o que acham certo e honrado. 
Ficar perto dessas pessoas de peso é reconfortante, faz a gente acreditar numa série de coisas positivas que parecem que não existem mais. Faz a gente se sentir orgulhoso por simplesmente conhecer essas pessoas. Faz a gente querer ser um pouco como elas. 
Gente de peso. Felizmente tive muitos exemplos desses perto de mim, gente que sem saber, me marcou profundamente simplesmente por serem pessoas que se importavam em fazer as coisas de maneira certa, digna. Dignificavam seus trabalhos, eram gentis com as pessoas, eram justos nas suas decisões, eram sábios em seus conselhos. 
Gente de peso, não emagreçam nunca!