sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Quem não tem papel dá o recado pelo muro

A campanha eleitoral fez a sua primeira vítima nas terras das araucárias e não é nada disso que você está pensando. Não se trata de morte, mas é tão triste quanto.
Perdemos a única intervenção pública feita pelos grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo, internacionalmente reconhecidos pelo simpático nome de OSGEMEOS.
O lindo desenho feito pelos OSGEMEOS, ficava no muro de um estacionamento na Praça 19 de Dezembro, a do Homem Nu, e era de uma delicadeza infinita. Pequenininho, diferente das tantas produções gigantescas que os artistas já fizeram pelo mundo afora, era quase um segredo no meio de várias pichações e outras figuras. Quando o vi pela primeira vez, achei que estava me confundindo, uma obra de tanto valor assim, solta, sem nenhuma referência, podia estar enganada quando à autoria. Por outro lado, o traço tão característico da dupla não deixava margem para muitas dúvidas. Era um legitimo OSGEMEOS: as proporções das figuras, as cores, tudo lá. Às vezes mudava o meu caminho só para dar uma passada por lá, dar um alô pra essa figura que alegrava o meu caminho. 
Não mais. 
A fachada do muro foi toda pintada de azul e a minha querida figurinha deve estar agora sob as letras da infame propaganda eleitoral. 
Isso me fez pensar na importância que damos (damos?) para a famosa street art. Não é pichação, nem mesmo grafite, é o upgrade de tudo isso. No mundo todo, artistas estão cada vez mais sendo reconhecidos pelos seus trabalhos feitos nas ruas. Jean Michel Basquiat foi um dos primeiros, lá pelos anos 80. O artista deixava seu trabalho quase anonimamente pelas ruas de Nova Iorque. Hoje, a coisa está no mundo todo. Taí o Beco do Batman, em São Paulo, que já virou item imperdível dos roteiros turísticos mais descolados. 
Alguns artistas preferem pequenos espaços, pilares de viadutos, muros, às vezes até um poste bastam. Outros assumem grandes fachadas como o simpático Ray Charles que nos convida para um gigante sorriso na rua XV de Novembro. Outro exemplo. A Praça Espanha vai virar um grande museu a céu aberto, graças aos artistas que vão emprestar seu talento aos feiosos tapumes que cobrirão o espaço durante a sua reforma. Como ficar indiferente?
Adoro gente que se apropria da arte dessa forma, adoro ver a cidade tomada pela arte dessa forma. São coisas que transformam a nossa percepção, provocam reações, quebram a monotonia do cinza e geralmente alegram a nossa alma. Às vezes são ácidos, às vezes são poéticos. Belos pra mim, não necessariamente serão para você. Mas estão lá, quase gritando pela nossa atenção entre o vermelho e o verde do sinaleiro, ou surgindo quando você menos espera, ao dobrar a esquina.
Esses dias achei um mosaico num poste da ciclovia que liga o Bosque do Papa ao Parque São Lourenço, achei super simpático. Na mesma trilha tem uma manilha de concreto que virou uma cabeça de Playmobil, sensacional. São pequenas surpresas escondidas na paisagem urbana. Me sinto às vezes como criança num gigantesco caça ao tesouro, indo de uma pista a outra, desvendando os desenhos espalhados por ai. Tem diversão melhor?
A gente tem que personalizar as cidades cada vez mais, se apoderar delas, torná-las nossa. A street art é isso, é a nossa decoração na nossa cidade. Cuide, preserve, patrocine. Se você tiver a sorte de ter um bom exemplar dela na sua casa, muro, parede, resista aos nobres vinténs dos candidatos da estação. Lembre-se, eles podem ser efêmeros, a sua arte não.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Linhas cruzadas

Cada dia que passa mais e mais fios pairam sobre nossas cabeças. O que é uma contradição em tempos de Wi-Fi, blutooth e tecnologias similares.
Em casa,  aquele emaranhado de fios horrorosos atrás do computador me dá sempre a impressão de que o dia que precisar mexer em algo, nunca mais saberei o arranjo certo, onde vai cada plug, o quê  liga o quê.
Nas cidades é ainda pior. Estamos saturados de fios por toda a parte. Não existe um lugar que se olhe que não seja cortado por aquele traço preto que estraga toda e qualquer perspectiva. É fio de luz, fio da net, fio do telefone, é fibra ótica, é o caos. Odeio isso.
E cada vez me convenço mais que metade do que se vê é desnecessário. Tenho certeza que ninguém vai lá e fala: “esse fio não é mais usado há décadas, vamos tirá-lo”. Aposto que só existe a regra do adicionar, nunca tirar. Duvido que tenha um ser humano no planeta que saiba da função de todos os fios conectado a um só poste. Aliás, tem postes em Curitiba que deveriam entrar no Livro dos recordes de tanto fio pendurado. Vi de tudo pairando por ai, nós, ondas, cachos, emaranhados medonhos. Tem até umas fivelas que tentam domar, organizar e separar os fios.
Essa cabeleira desgrenhada enfeia a cidade. Além disso  é perigosa e é frágil demais. Basta um carro, um vento, uma chuva e lá se vai a nossa preciosa energia por horas.
Isso sem falar nas árvores que são sumariamente amputadas, desfiguradas, quando não assassinadas, para salvar as preciosas linhas de transmissão. Já tive que me despedir de três árvores maravilhosas, sendo uma delas um lindo pinheiro, por causa dessa “nobre” causa. Um crime!
Nessas horas sinto uma inveja danada dos moradores de Carmel na Califórnia, que votaram - sim votaram! - por não ter postes de luz nas calcadas para não estragar a beleza do lugar. Isso numa época em que a tecnologia não permitia ainda que se fizesse uma rede subterrânea e a cidade optou por não ter iluminação publica. Não é conversa, eu vi! Andei pelas ruelas escuras da cidade à noite mas me encantei  com o maravilhoso e despoluído cenário de dia!

Se você mora numa cidade pequena, exija já que essa fiação toda seja enterrada, ainda dá tempo! Aqui nas terras dos pinheirais decapitados, dizem que seria uma fortuna fazer isso agora. Então não percam tempo, façam o plebiscito já!  

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Fechado pra balanço.

A gente não escapa, chega dezembro e a cabeça começa a divagar. Você esta no carro, o sinal fecha e quando você vê, tá fazendo aquele célebre balanço de fim do ano. Não dá pra controlar.

Esse não foi um ano fácil., mas foi certamente inesquecível. Muitas coisas aconteceram nesse nosso pais, para o bem e para o mal. Tivemos uma bela e controversa Copa do Mundo. Ao contrário do caos esperado, foi um evento lindo e alegre, até acontecer a tragédia dos 7 x 1 . Inesquecível. Tiveram as emocionantes manifestações, um milhão de pessoas nas ruas pedindo por mudanças.  e tivemos eleições que pouco ou quase nada mudaram.  Inesquecível. Tivemos os primeiros políticos graúdos presos por corrupção e tivemos a prova que ela continua por aí,  firme e forte nos corredores dos Palácios e da Petrobras. Inesquecível. Isso pra ficar só nas principais manchetes.

Pessoalmente foi um ano de grandes alegrias e enormes tristezas. Passei o aniversário em Barcelona com minha família, Inesquecível! Fiz uma festa linda para celebrar o bat mitzvah da minha filha. Inesquecível! Gritei demais da conta. Inesquecível! Viajei com meu pai para os Estados Unidos para o lançamento do livro dele que ajudei a viabilizar por lá. Inesquecível! Meus filhos tiveram problemas na escola. Inesquecível. Estive com os amigos em diversas mesas, recheadas de boa comida, boas vinhos e boas risadas. Inesquecível! Ganhei uns quilinhos. Inesquecível! Fiz uma viagem incrível com uma nova turma de amigas queridas e divertidas. Inesquecível! Não finalizei todas as tarefas que me propus. Inesquecível Ajudei a organizar um encontro emocionante com 200 amigo de uma vida inteira. Inesquecível! Bati o carro de novo. Inesquecível! Fui pra Boituva, Inesquecível!  Perdi o Lúcio. Dor imensa, inesquecível!

Então não dá pra dizer se o ano foi bom, ou ruim, se as coisas boas suplementaram as más, se fui mais feliz ou mais triste em 2014. Só posso dizer que foi um ano intenso, verdadeiro, que me deu sentimentos absurdamente maravilhosos e terrivelmente dolorosos. Vida real, com açúcar e pimenta. Com sol e chuva. Mordida e assoprada. Não fecho o balanço, sigo vivendo pronta e  inteira pro ano que vem. Que ele seja  feliz. Que seja um ano de paz. Para todos.  Feliz 2015!