segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

São Francisco 2.0

Estava assistindo a um documentário sobre a cidade de São Francisco na Califórnia e as mudanças que aconteceram nela em virtude da invasão das empresas de tecnologia. 
A história é a seguinte: no inicio da era das empresas de tecnologia, a grande maioria delas se instalou no Vale do Silício. Porém a grande maioria das pessoas preferia morar em São Francisco, distante somente 64 km, mas muito melhor estruturada e considerada uma das melhores cidades para se morar nos Estados Unidos. Essa população toda ia e voltava diariamente em charters das próprias empresas, inundado a cidade com seus ônibus de dois andares. Vendo uma possibilidade de negócio, a prefeitura de São francisco acabou facilitando a vinda dessas empresas e seus Headquarters para a cidade gerando uma grande modificação estrutural, social e econômica. 
Com a vinda dessas empresas, a cidade experimentou uma grande mudança física. Varias áreas degradadas acabaram sendo renovadas para absorver essa nova população. Novas áreas residenciais também começaram a ser estruturadas. Uma nova onda de moradores, economicamente forte veio morar na cidade.
Tudo lindo né? Não.
Apesar da entrada de biliares de dólares e muitos empregos na cidade, o que aconteceu foi uma coisa curiosa. Muitas pessoas sofreram com essa transformação, principalmente a classe média e as pessoas de baixo poder aquisitivo. Com a chegada das empresas houve uma maxi valorização dos espaços urbanos o que desencadeou um processo de despejos nunca visto antes em tão grande escala na cidade. Milhares de pessoas foram retiradas de suas casas para dar espaço aos futuros moradores e aos empreendimentos imobiliários visando essa nova população, teoricamente mais abastada. Foi uma enxurrada! O resultado foi milhares de pessoas na rua, o aumento da distancia entre ricos e pobres, o nascimento de guetos sociais, tudo que a cidade não queria.
Porém a cidade de São francisco é uma cidade onde os moradores tem muita força e suas entidades representativas são extremamente atuantes.  A força da identidade da cidade e uma população que se identifica com essa identidade sempre marcaram São Francisco e fizeram a diferença. Milhares de pessoas se mobilizaram para atenuar os efeitos dessa nova realidade. Empresas foram taxadas, sistemas foram repensados. As pessoas saíram às ruas para evitar a descaracterização física e principalmente social da sua cidade. 
E daí penso: o que nos caracteriza como cidade? Pelo que iriámos às ruas? Porque não temos essa consciência enquanto moradores de uma das melhores cidades do Brasil? O que a cidade fez para empoderar esses processos de identificação e responsabilidade dos moradores? 
Não pode ser tão difícil, afinal é como se fosse cada um defendendo a sua casa, coletivamente. Por que no Brasil isso é tão raro? 
Tá na hora das cidades criarem essa consciência e tomar frente a esse processo, promovendo esse debate. Tá na hora da população entender onde mora, conhecer suas características e elencar o que quer preservar a todo custo e o que quer de novo em suas cidades. Vou começar a minha lista já!

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Carta ao prefeito eleito

Caro Prefeito eleito

O que a gente espera para esse novo mandato que se inicia?
Pela ordem: criatividade, empenho, coragem, honestidade, respeito, determinação, solidariedade, inteligência e humildade.
Serão quatro anos para sacudir a poeira e dar novos rumos a nossa cidade. 
Queremos soluções simples e eficientes, queremos planejamento e ousadia, queremos sempre mais.
Queremos obras sociais sem paternalismo. Queremos escolas modelo e inclusão. Queremos mães tranquilas e creches que estimulem.
Queremos oportunidade de emprego e capacitações. Queremos trabalho pra quem precisa.
Queremos saneamento básico de primeiro mundo. Queremos moradia digna e perto do trabalho.
Queremos contra turnos interessantes, com cultura e esporte pra garotada. Queremos todas elas na escola. Queremos carinho e conhecimento. Queremos diplomas aos montes.
Queremos médicos nos postos e humanidade no atendimento. Queremos tratar os filhos, os pais, os maridos e esposas sem desespero e sem drama. Queremos remédio e competência. 
Queremos áreas verdes e rios limpos. Queremos parques e ruas arborizadas. Ar puro, por favor. 
Queremos muitos projetos culturais. Teatro, dança e música em qualquer canto. Artistas que consigam palco e plateia sem precisar sair da cidade. Queremos crianças criativas envolvidas com a arte. Mozarts e Jobins.
Queremos tecnologia de ponta, produção, pesquisa. Queremos fomentar inovação, irradiar soluções.
Queremos empresas antenadas com o futuro, empregos criativos, linhas de produção. Queremos gerar riqueza.
Queremos bicicletas nas ruas e soluções de mobilidade viáveis que não nos drague o futuro para serem realizadas. Pode ser trilho, pneu, energia, mas que seja rápido, confortável, inteligente. Queremos conscientização, carros nas garagens, sistemas interligados, preço justo.
Queremos lixo tratado como riqueza. Queremos reafirmar nosso papel como cidade sustentável. Queremos as ruas limpas. Queremos o fim da degradação.
Queremos andar na rua a qualquer hora, deixar as portas destrancadas e as janelas abertas. Queremos paz.
Queremos memória, queremos futuro. Lado a lado. 
Queremos também alegria, de preferencia mais sol!

Tudo pra já!

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Herói

Durante toda a minha adolescência fiz parte de um movimento juvenil judaico. Esse movimento tinha, e ainda tem, ideias socialistas e sionistas. Esse movimento moldou muito do meu caráter e continua presente em minha vida, pois muitos dos meus melhores amigos são de lá e meus filhos, agora adolescentes, também o frequentam. É uma tradição.
Lá, na década de 80, aprendi muito sobre a sociedade e a política israelense que se formava no jovem país e sobre o conflito árabe-israelí. Nessas discussões todas só havia uma unanimidade, coisa rara, Shimon Peres. Era o nosso herói.
Um homem que viveu os momentos mais importantes da história do Estado de Israel. Mais que isso, fez e escreveu a próprio punho grande parte dessa historia.  Um dos seus fundadores de Israel, protagonista em toda sua história, membro de uma geração forte e determinada, que entendia seu papel na História, não só do novo país, mais de sua época. Sempre uma voz calma e lúcida, sempre a razão, sempre o respeito, sempre e sempre e sempre a busca da paz. 
Quando passei um ano estudando em Israel, uma das atividades que fizemos foi participar do Congresso Sionista, o mesmo criado por Theodor Hertzl, alguns anos antes de mim. Um momento especial, emblemático. Porém, a única coisa que me lembro do Congresso foi a enorme emoção de simplesmente estar no mesmo lugar que Shimon Peres. Tenho a foto, eu no terceiro balcão do teatro Binianei Hauma e ele na mesa no palco. Um pontinho na minha foto, uma enormidade na minha formação. Um exemplo de homem, líder, político, humanista. Uma pessoa que você quer sempre ouvir.
Mais que o Nobel da Paz, acho que o grande legado de Peres foi ter inspirado milhões de jovens como eu durante toda a sua vida. Com ele aprendi o sentido da Coexistência, com ele aprendi sobre homens de fibra, com eles aprendi que era importante ceder, com ele aprendi o real significado de estar sempre, sempre, a favor da paz. 

Israel perde um pouco de sua essência hoje, todos os judeus do mundo perdem uma referência. Que sua luta de vida vença no final. Que todos tenhamos paz.

P.S.: Se você nunca o ouviu, procure no Youtube e veja qualquer entrevista, todas são liçoes de vida.  

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Nunca

Nunca fiz nada que não esperavam de mim, é a minha natureza. 
Nunca pintei o cabelo, nunca fiz tatuagem.
Nunca fugi de casa, nunca roubei o carro dos meus pais.
Não sou de arroubos, não sou de loucuras, não sou corajosa. Uso o freio.
Não sou atirada, não uso calça rasgada, não mostro alça do soutien. 
Não sou o centro das atenções, não chamo atenção, sumo.
Não peço favores, não peço dinheiro, não devo.
Não me abro frequentemente, não divido com facilidade, não mostro tudo, preservo.
Não escancaro, não gosto de chamar atenção, não provoco. 
Não largo tudo, não sumo. Sou firme, sustento.

Gosto do certo, do arrumado, do tempo no relógio, da pontualidade. 
Gosto de arrumar, gosto de simetria, gosto da harmonia. Ângulos retos.
Gosto de tarefas, de prazos, de desafios, de cumpri-los. 
Gosto do controle, gosto de listas, organizo.
Gosto da leitura, do cinema, e talvez só nesse quesito cultural permito a transgressão maior: dançar. Sempre que posso, sem onde nem por que.

Sou do olhar, aquela que observa, registra, por isso escrevo. 
Sonho, fantasio, faço roteiros inteiros, internos, platônicos. 
Vivo mais na minha cabeça que no mundo em minha volta. 
Uso o texto para viver o que não teria coragem de fazer. 
No papel, abro o que geralmente escondo. 

No papel, revelo. No papel, existo.

sábado, 17 de setembro de 2016

A minha cidade é minha

   
 A minha cidade é minha.  É minha porque cuido, porque zelo por ela. É como alguém da família. Sei dos seus defeitos e procuro ajudá-la a repará-los. Sei de suas qualidades e procuro enaltecê-los. Essa cidade é minha porque conheço seus caminhos, seus ritmos. Sei da sua pista mais rápida, o caminho mais curto, a casa mais bonita, o ipê mais florido.  Essa cidade é minha porque a amo e quero sempre o melhor pra ela.
   É bom quando as pessoas fazem da sua cidade uma extensão do seu lar, assim deveria ser sempre. O mesmo cuidado que se tem com a sua casa, se ter coma sua cidade, Todo mundo deveria pensar assim, a cidade agradeceria. 
   Porém o que vemos hoje é simplesmente o contrário. Ninguém se importa. Ou então as pessoas andam muito desleixadas com as suas casas. 
   Tá todo mundo fazendo o que bem entende, ou melhor, o que não entende. É gente que corta árvores sem autorização, é gente que não separa o lixo, é gente que para seu carro onde não pode. Gente que amplia sem alvará, gente que invade sem permissão. Gente que se apropria do coletivo, gente que usa o que não é seu. Gente que suja e não limpa, gente que invade a canaleta. Gente que quebra vidros e marca seus nomes em qualquer canto. Gente que dá um jeitinho, que constrói mais alto do que deveria. Gente que picha os lugares mais improváveis deixando essas cicatrizes horrendas na cara da nossa cidade. Gente que não liga, que desrespeita, que agride. 
   Dividimos a cidade com quem amamos e com quem não conhecemos, e esse talvez seja o maior desafio da cidade. Temos que cuidar do que é nosso e temos que respeitar o do outro, como em casa. Tenho que ceder a vez no trânsito, mesmo estando com pressa. Tenho que dar bom dia mesmo estando de mau humor. Tenho que limpar a mesa, mesmo estando com preguiça, tenho que gostar, mesmo quando estou com raiva. 
    A minha cidade é minha, mas não é só minha, É do vizinho, do estranho e principalmente é a cidade dos meus filhos. Tenho que fazer com que entendam da responsabilidade que é ser um cidadão. Assim como devem arrumar o quarto, como devem escovar os dentes, como devem fazer a lição, eles devem aprender que os deveres e valores que aprendem em casa devem ser expandidos, devem alcançar muros e praças, ruas e avenidas. A minha cidade é minha, a responsabilidade por ela também. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Gente do bem

A eleição pro nosso próximo prefeito está aí, virando a esquina. Nomes não param de circular pelas colunas políticas. Alianças estão sendo costuradas nos bastidores dos palácios. Tempo de televisão sendo moeda de troca. Coligações sendo tramadas. Novos melhores amigos sendo criados instantaneamente. 
Vai ser uma eleição diferente. No mínimo será curioso ver como os partidos, candidatos e financiadores vão se comportar nesses tempos em que a Lava Jato que tomou conta do país. Melhor assim.
E junto com tudo isso, escolheremos a nossa nova Câmara dos Vereadores. Não menos importante, mas bem menos badalada, essa eleição é tão prioritária quanto à majoritária, afinal, serão esses vereadores que terão o papel e o poder de supervisionar o que se passa no gabinete do prefeito.
Ninguém dá muito bola pra essa votação e por causa disso, temos um histórico de personagens extremamente mal capacitados e mal preparados para função tão importante. Parece que basta um jargão que grude na cabeça e os votos cairão nas urnas. Gente bizarra, infelizmente. 
E depois, fica todo mundo reclamando que elegemos sempre os mesmos, sempre gente com ambições e motivações duvidosas, gente que usa esse cargo como trampolim para voos maiores na politica. Poucas vezes vemos gente com identidade com a cidade, gente com propostas realmente novas, gente pensando em mudar se candidatando, quanto mais ganhando. 
Então conclamo, vamos renovar de verdade nossa casa de leis. Vamos arejar esse lugar, vamos melhorar nossas bancadas, vamos tentar votar em gente mais gabaritada, gente que conheça mais a cidade. Vamos tentar trazer gente nova, gente com projetos, gente do bem! 
Quem sabe assim, acabamos com os vícios, as verbas desviadas, as leis em benefício de minorias, os projetos inúteis, as leis mal pensadas, a cidade sem futuro. 

Seja de que partido você for, seja pra que time você torça, exija nomes melhores e mais preparados na legenda da sua agremiação. Vamos prestar mais atenção em quem ocupa as cobiçadas cadeiras e as poderosas canetas que podem ser a diferença entre uma cidade que evolui ou uma turma que se dá bem. 

sábado, 13 de agosto de 2016

Lernistas e Lernismo

Toda eleição é essa ladainha, o tal do Lernismo invade as colunas políticas. A cada dois anos temos que aguentar essa conversa fiada que algums jornalistas insistentem em divulgar, embalados pelos candidatos que lhes fazem a corte e o bolso.
Quero explicar uma coisa, definitivamente. O Lernismo não existe! O que  existe são os Lernistas, esses aos montes, graças a Deus! É gente do bem e querida, que nos brindam com seu carinho, sua admiração e sua saudade. Os Lernistas são todos delicadeza. Tiram selfies, acenam no sinalieiro, escrevem no facebook, abraçam quando nos encontram, nos enchem de mimos e sempre tem palavras de incentivo. Os Lernistas são anônimos, amigos, parentes. São motoristas de ônibus, gente da fila do cinema, crianças, irmãos, cunhados e sobrinhos, gente da escola e funcionários públicos, aqueles que vestiram e ainda vestem a camisa em 12 dias ou mais.  Não estão tem sigla ou partido, estão na rua, no abraço, na farmácia, nos restaurantes.  É gente que nos emociona e nos enche de alegria e muita, mas muita gratidão.
Já o Lernisno tão falado em épocas de eleição é figura de linguagem que não nos entusiasma ou agrada.  Não existe Lernismo como corrente política uma vez que meu pai encerrou sua carreira há quase 15 anos e nunca mais se envolveu em pleito algum. A política é página virada, o que nos inspira são ideias e projetos, como sempre.
Não existe hoje nenhum candidato que nos representa. Simples assim. Não adianta forçar a barra, exibir foto, mostrar diploma, fazer visita, emboscada, colocar matéria no jornal. Nada disso é real. O Lernismo como herança só diz  respeito a mim e a minha irmã, ninguém mais. O Lernismo não existe, toda glória aos Lernistas! 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Grandes nomes

Tem tanta gente que eu admiro, tanta gente em quem eu me espelho, que me inspira. São homens, e mulheres que por seu peso, sua história, suas lutas e suas glórias deixaram um rastro de luz. Suas estaturas são enormes. São monstros sagrados, ídolos, gente da melhor qualidade.
Sem falar nas pessoas óbvias e mortas, as pessoas a quem eu admiro, geralmente são de uma geração ou mais acima da minha. 
Tenho uma lista de jornalistas que me impressionam, artistas que me deslumbraram, cantores que me encantaram, escritores que me emocionaram e personalidades que me fizeram refletir sobre mim e o meu mundo e até políticos que me surpreenderam. Todos estão morrendo. E a pergunta é: o que fez essa geração que hoje tem seus 70 anos tão especial? Foram os tempos em que viveram, foi a educação que receberam? Porque temos tantos grandes homens e mulheres nessa turma e quando olhamos ao nosso redor nos parece que estamos ficando cada vez mais pobres em material humano de bom quilate.
Obviamente temos gente interessante, mas gente que mudou o mundo, gente que transformou toda uma sociedade, quantos candidatos a esse posto vemos na nossa era? Será que é preciso distância no tempo para perceber um gênio? 
Desafios o nosso tempo tem de sobra, talvez até mais do que antes. Facilidade também temos a mais, novas tecnologias, novos caminhos. O que falta pra gente perceber os grandes? 
Talvez pela contemporaneidade nos seja difícil reconhecer quem está ao nosso lado. Mas o que mais me intriga é que eu já tenho uma idade em que a genialidade dos meus pares já devia ter aflorado e se destacado há muito. Afinal, não estamos mais na casa dos 20 anos.
Quem é o grande novo escritor brasileiro? O novo compositor? Quem é o político que vai nos tirar desse atoleiro? Quem é que vai inspirar os meus filhos? Quem vai achar a cura do câncer? Quem é o mago da economia? Quem é a pessoa de moral a ser seguida? 
Minha geração está em débito com a sociedade. Minha geração precisa se esforçar mais, lutar mais, criar mais. Minha geração precisa fazer algo para pontuar os livros de história. Minha geração precisa finalmente crescer. 


segunda-feira, 13 de junho de 2016

De pernas pro ar

Vivo num país de pernas pro ar. Minha sensação é que está tudo do lado errado, tudo ao contrário. 
Essa agitação política toda me dá um sentimento ambíguo, agridoce. Fico feliz por viver um tempo onde a rua está sendo ouvida pela primeira vez de verdade na história dessa jovem democracia. Fico feliz por ter uma investigação verdadeira sobre os desmandos e os absurdos que acontecem nos bastidores da política.  Fico imensamente satisfeita de saber que estamos, de alguma forma, passando a história a limpo. A politica virou tema de conversa em todas as rodas possíveis, das madames aos intelectuais, da manicure ao professor, do amigo de esquerda ao de direita. Não existe espaço para alienação, e isso é ótimo.
Porém, pra mim, é um gosto muito amargo esse do processo do impeachment. Viver num país que precisa chegar a esse ponto, é muito triste. Viver num país que precisou fazer isso com dois dos seus quatro presidentes democraticamente eleitos da nova república é imensamente triste.
A presidenta foi afastada, seu desgoverno não se sustentava mais. Porém,  nossa linha sucessória é uma tragédia. Quase todos investigados por corrupção. Nosso novo ministério foi todo escolhido por mérito partidário e não o de competência.  Não sei no que isso tudo vai dar.
Só sei que é um começo. Acho importante a mensagem que está sendo passada não para mim, mas para a próxima geração. Acho importante eles verem que a rua tem poder. Acho importante eles verem gente graúda presa por corrupção, acho importante eles verem toda essa discussão, independente do lado, do certo e do errado. Acho interessante o processo todo, com suas glórias e suas dores. Acho que vai ser fundamental para a construção de uma nova cidadania. 
Só através dessa vivência sofrida vamos poder amadurecer nossa política e quem sabe, moldar um novo brasileiro. Um brasileiro que não vai querer levar vantagem em tudo, que talvez entenda o papel dos governantes e exija cada vez mais deles. Um brasileiro que vota com mais convicção, que sabe mais dos seus direitos e também dos deveres.

Esse amargo vai passar, poderemos ter ainda muitas decepções. Vai levar muito tempo para as coisas se ajeitarem. Mas espero que tudo valha a pena. Afinal, a alma dos meus filhos não é pequena.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Qual Brasil restou?

O leitor mais atento deve estar pensando: essa colunista que vos escreve é um tanto alienada. O país em ebulição e ela com textos prosaicos, dentro de uma revista onde a política é parte do DNA.
Explico: escrevi o texto que você esta lendo agora com um mês de antecedência. Antes mesmo da votação do impeachment. Qualquer opinião, colocação, comentário sobre o assunto estarão completamente desatualizados. Já será passado pra você o que pra mim ainda não aconteceu.
Mas isso não quer dizer que não me importe, ao contrario. Só não posso aqui falar nada porque não sei em que Brasil estaremos vivendo. O da Dilma, o do Temer, o do Cunha ou o ainda, um país livre de todos eles.
Então faço aqui uma carta de intenções para o futuro, Seja lá o que o resultado do impeachment nos der.
Desejo que alguém comece a se preocupar de verdade com a economia desse país. Nunca senti tanto o peso da crise. Mesmo sendo uma das sobreviventes da inflação galopante, não me lembro de tamanha descrença e pessimismo. Nunca senti tanta preocupação e nunca fiquei tão amedrontada com o futuro. Por isso, não desejo, imploro que algo comece a mudar e nos demonstrar a intenção de um plano melhor. Uma saída, ou o inicio do caminho em direção a ela.
Desejo que tudo isso, todo esse sofrimento, frustração e indignação nos levem a uma transformação de padrão. Obviamente a mudança politica que nós queremos levará anos para ser concretizada. Mas que uma empresa, um candidato, um empresário e um eleitor pensem mil vezes antes de repetir esse modus operandi que tanto nos prejudicou por anos e anos.
E desejo, acima de tudo, o adeus incondicional às armas. Desejo que a democracia possa ser vivida de forma plena, você com suas ideias e eu com as minhas, sem muros, sem repressão, sem violência, sem intolerância. Que possamos viver uma vez na vida o clichê que diz que juntos somos mais fortes. Piegas assim. Que nossas semelhanças sejam maiores que nossas diferenças. Que nossos desejos por uma vida melhor e mais honesta seja mais forte do que nossas ideologias.
Podemos ser todos vencedores ou todos perdedores no processo que o país vive. Espero que você que está ai no futuro esteja feliz.

14/04/2016

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Tudo junto e misturado

Queria voltar aos meus vinte anos. Não é saudosismo, embora eu seja bem nostálgica. Não é pra cair na farra,  mesmo porque isso a gente faz com a idade que for, contanto que essa energia esteja dentro da gente.
Queria voltar aos vinte anos porque essa geração esta experimentando um coisa nova que não existia na nossa época, a cooperação, a colaboração. Esse novo sistema de vida trabalho,  parceria e  criação que vem do coletivo, do grupo, é uma maneira super instigante de viver. 
Claro que sempre houve trabalho de equipe, lembro bem da minha sala de trabalho sem paredes na Singular, onde a gente dividia o onus e o bonus da "firma". Mas o processo  de trabalho era individual. A gente se apoiava, se incentivava, dividia, mas não é a mesma coisa. 
Essa nova galera fala outra língua, A colaboração hoje é parte do DNA dessas empresas novas. Elas nascem juntas, se mesclam, começam numa e terminam na outra. Em várias áreas. em vários nichos de mercado. Mas é no trabalho criativo que isso fica mais forte. Comunicação, marketing, design, arte, moda, joalheria, culinária, são focos super atuantes dessa nova forma de ser.  
E isso muda até a cara da cidade. A proliferação de espaços coworking na cidade é a prova disso. E são ambientes de trabalho mais humanizados, voltados para profissionais liberais que se apoiam, que tem perfis socioeconômicos similares, que estão crescendo juntos e colaboram de verdade. Fora que são lugares geralmente muito modernos e conceitualmente bacanas, onde o coletivo tem realmente um propósito. 
Gosto dos espaços criativos, dos teatros pequenos que promovem exposições, cursos que fogem a sua área de atuação, alem do trabalho teatral de qualidade que também oferecem,
Também gosto muito dos ateliers coletivos, dos bazares, da interatividade da arte com o negócio, de projetos que se cruzam, de quadros que viram estampas, de jóias que completam a coleção das roupas, da escala artesanal que permite essa troca. 
Essa gente fina, elegante e sincera que vai de bike pro trabalho, que tá preocupada com o consumo, que vive o que acredita. E uma geração corajosa, antenada, colorida. 
E a cidade vai se cobrindo com essas novas ideias, esses novos ares, essa nova cultura. Os sizudos prédios coorporativos e suas baias vão dividindo a paisagem com as aldeias, as casinhas coloridas, os espaços abertos. Os carros de empresa e as entregas de bicicletas, os terninhos e o saruel, salto e chinelo. Diversidade é fundamental para uma cidade produtiva. Cultural, social,  modal, criativa. tudo junto, todos colaborando pra uma cidade mais interessante.


quinta-feira, 10 de março de 2016

A cidade muda

Minha cidade esta cada dia mais quieta. Não sei o que esta acontecendo com ela. Nem um pio, nem um som. Minha sensação é que a cidade perdeu a voz.
Não escuto mais nada, nem de bom, nem de ruim, só esse silencio.  Isso me incomoda muito. Prefiro uma cidade barulhenta, para o bem e para o mal.

Não escuto mais o barulho do desenvolvimento, obras pela cidade, tratores, escavadeiras, nada. Nem do poder público nem do setor privado. Ninguém lança um projeto, ninguém realiza uma obra. Ninguém emite um ruído.

Também não escuto nada nas ruas, não tem gente festejando, nem praguejando. Bares silenciosos, nem brindes, nem brigas. Parques sem risadas. Ruas sem buzinas. Só o vento.

Talvez seja a época, finzinho das férias, todos viajando. Talvez seja a crise, todos em casa, poupando. Talvez seja o clima que pra variar acumula estações e nos deixa confusos, pensando. Talvez seja a Zika, a Dengue, a Chikungunya, todos em casa com medo.

Mas a verdade é que isso vem se arrastando há tempos. E um silêncio triste. Reflete o marasmo que estamos vivendo. Ninguém se expõe, ninguém contesta, ninguém exige, ninguém reclama, ninguém cria e o pior, ninguém propõe. 


Precisamos de um grito de despertar. Precisamos ouvir mais vozes, precisamos de mais discussão, mais desacordos, mais brigas. Mais ideias, mais propostas, mais soluções. Mais gente lutando. Precisamos de mais verbo, mais ação, mais barulho, mais vida. Uma cidade muda não diz a que veio, não fala o que quer, não conta seu sonho. Uma cidade muda não muda. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Cara de uma, fucinho da outra

Minha filha é a minha cara. De verdade.
Ela realmente se parece muito comigo. Eu particularmente acho que ela é parecida comigo quando eu tinha a idade dela. Achava ela a minha cara aos nossos 5, e principalmente aos nossos 10 anos. Daquelas que a gente coloca as fotografias da mesma época lado a lado e fica difícil dizer quem é quem. Quando encontro pessoas do meu passado com ela ao meu lado é como se as pessoas estivessem tendo um flashback. Mas muita gente que não me conheceu pequena acha a Liana parecida comigo ponto, independente das nossas idades, olham para a gente e falam, ela é a tua cara. Até mesmo gente que nem nos conhece como aconteceu uma vez de uma mulher no metro de NY se dar ao trabalho de nos abordar e falar: she looks just like you!
Imagino o que isso não faz na cabeça dela. Ela já esta até cansada de ouvir. Nunca passei por isso. Nunca me achei parecida com meu pai ou com a minha mãe. Sou aquela filha que a mistura provoca um certo distanciamento dos modelos originais. Claro que tenho coisas de um e de outro, mas estão tão misturadas que fica difícil de dizer com quem me pareço mais. Tem dias que ressalto as feições maternas, outros lembro mais meu pai. As opiniões alheias confirmam isso. Nunca fui uma aposta unânime. 
A minha filha não, a Liana é a minha cara, não temos mais duvidas, rs. 
Então fico pensando no que ela pensa quando todo mundo nos compara, na verdade quando nos igualam. Ainda mais nessa época de adolescência, quando estamos começando a entender quem somos como indivíduos. Ela se questionando quem ela é e todo mundo dizendo que ela sou eu. Às vezes sinto que ela gosta, a maioria das vezes ela bufa.
É a minha cara mas a personalidade dela é um tanto diferente. Somos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Consigo ver muitas coisas minhas lá, principalmente quando ela fica rodopiando e dançando pela casa, mas tem muito mais do Claudio na personalidade dela.
Mas é mais na questão de ser mulher que essa questão vai se aprofundar. Será que ela será um mulher como eu?  Nas qualidades físicas e hereditárias não podemos mais mexer, é na questão comportamental que me preocupo. Será que ela vai querer ser parecida comigo? O que será que ela vai querer levar de mim pra vida ela? O que será que ela gosta em mim? Como será que ela me vê? O que vou influenciar nela? 
 Acho que ela só vai conseguir entender de verdade essa conversa de ser parecida comigo quando tiver filhos e virar mãe ela mesma. Tomara que ela não bufe dessa vez.


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Para Adriana

Adriana entrou na minha vida pela porta do meu pai. Sem nenhum aviso prévio lá estava ela editando as histórias dele. Caiu do céu.
Trocamos emails e mensagens semi profissionais, relacionados ao processo da realização do livro dele. Fotos, capas, textos que iam de la pra cá. Visitas esporádicas ao escritório. Já gostei dela de cara. 
E ai nossa amizade avançou pelo facebook e pequenas curtidas mutuas. Coisas corriqueiras e sempre simpáticas. O filme que ela viu, o livro que recomendou, a ida à feira. Fui gostando dessa Adriana também.
Fui conhecendo mais a Adriana pelos amigos em comum também. Fui conhecendo a Adriana pela Doris, pela janela da Iara, pelo olhar da Lina, gente de maior gabarito para referenciar pessoas. Fui gostando cada vez mais dela. 
Ai vieram os textos e o livro dela e a Adriana cresceu dentro de mim. Ai não teve como não se encantar de vez. A Adriana que a gente conhece pela escrita é irresistível. O mundo da Adriana é como o Pinterest pra mim. Ela deixa a gente entrar na vida dela de um jeito muito suave. A gente vai conhecendo todos os detalhes, desde o lugar onde ela escreve, a cadeira que senta, até evoluir para os pensamentos mais íntimos, tudo aberto ali, sem medo, com doçura, prosa e poesia (mesmo que ela ache que precise viver mais vidas). 
Fui gostando mais e mais e mais. Gosto de como ela enxerga o mundo, Gosto do que ela faz, Gosto das musicas, Gosto de como ela pensa. Gosto de como ela se mostra. Gosto do texto, sobretudo das escolhas, das palavras da Adriana. Aprendi a gostar até das letras minusculas. Sei que tudo tem um propósito, que tudo faz sentido na cabeça dela. 
Talvez porque tenha conhecido a Adriana numa época que comecei a escrever também e tenha lido nela todos os meus questionamentos tão bem explicados de forma tão linda. A Adriana fala de tudo que me é caro, A Adriana explica coisas que sente e é como se tivesse traduzindo o zunido que mora na minha cabeça. 
A Adriana me representa e me estimula. Me faz querer escrever melhor. E é pra ela que um dia vou me colocar á prova. vou me deixar editar, cortar, riscar. Se tiver coragem.  
A gente nunca saiu juntas, nunca foi tomar um café, nem passou uma tarde na casa das Teixeiras juntas. mas é como se já tivéssemos vivido mil vidas juntas. Minha amiga por parte das ideias. Talvez não tenha amizade mais forte.  

Ah!  A propósito, A Adriana é a  Adriana Sydor e o livro dela é o Toda Prosa. Leia já!



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Editar-se

Esses tempos reli todos os meus textos. Gostei de alguns, chorei com outros, rasquei uns tantos. Tarefa inglória essa de se confrontar, cheia de pudores, críticas e vergonhas. Mas é um processo interessante. Poder editar uma frase mal colocada, apagar um erro gramatical, outro de digitação. Repensar um paragrafo inteiro. Destacar um momento. Mudar o final. Riscar tudo.
E nesse processo, como são textos muito pessoais, acabei por entrar num processo de querer editar a mim mesma.
Como gostaria de poder fazer essa edição da mesma forma que fiz com minhas ideias. Numa canetada só, sem piedade, e lá iria aquele defeito que embora reconheça, não consigo controlar sua aparição. Poderia refazer julgamentos errados, corrigir injustiças, mudar o curso de algumas decisões tomadas. Reescrever alguns dias, ressaltar qualidades, grifar as coisas boas. Riscaria a preguiça, a teimosia, adicionaria paciência. Adicionaria capítulos pros meus filhos. Editaria o trabalho, deixando mais lapidado, preciso. Colocaria mais ilustrações, mais sorrisos, mais viagens. Seria um revisor sem compaixão.
Claro que em muitos momentos da vida podemos voltar atrás, corrigir erros, pedir desculpas, refazer um projeto, tentar de novo. Sempre podemos mudar o destino. 
Mas apesar disso, a vida não tem rascunho. Vale o feito, seja ele qual for e quantas vezes você o mudou. Fica tudo lá, registrado, Sem borracha. Não dá pra apagar os borrões, tirar os erros, colocar os acertos em bold. As diversas tentativas estarão todas lá. Não tem uma versão editada, toda bonita, sem riscos, sem buracos. Aquela briga horrivel, terá seu espaço gravado, apesar das desculpas pedidas. 
Mesmo sabendo disso, e justamente por isso, me esforço para que minha história seja o menos rabiscada possível. Os capítulos ainda estão confusos, algumas coisas não tem muito nexo, Tem histórias bem bacanas, algumas bem engraçadas. Tem drama também. Alguns momentos emocionantes. E provavelmente páginas que ninguém vai ter saco pra ler. Minha biografia será tão imperfeita quanto eu.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

No meio da casa tinha uma sala, tinha uma sala no meio da casa

Todo mundo sabe que reformar a casa é uma das piores encrencas em que você pode se meter de livre e espontânea vontade. Todo mundo fala do inferno que é uma reforma. Todo mundo fala que ficar na casa que está sendo reformada é loucura. O quê eu fiz? Comecei uma reforma na minha casa e vou ficar morando nela. 
Moro há vinte anos no meu apartamento. Vim pra cá quase acampada, com os moveis da casa antiga que pareciam de boneca na nova escala. Fiz a cozinha, os banheiros, a marcenaria do meu quarto e vim, louca pra viver na casa nova. Aos poucos fui completando os espaços, o quarto do primeiro filho, o quarto da filha logo depois, o escritório para trabalhar em casa e cuidar das crias. Sofá novo, mesa de jantar para oito pessoas (luxo!), cama nova e ponto. O resto ficou pra depois. 
A vida foi se fazendo na sala íntima. Minha sala "de visita" virou um imenso playground. Tive todo tipo de brinquedo que você possa imaginar na sala mais bacana da casa. Dependendo da idade das crianças, você podia achar cavalinhos de balanço  (eram dois), tico-tico (também dois), carrinhos de bonecas (bem mais que dois), piscina de bolinha e até uma gangorra inflável. Já tivemos bichos de pelúcia enormes, maiores que as crianças. Já tivemos bicicletas, trilhos do Thomas o trenzinho, cozinhas e panelinhas, pista de Hot Wheels, mesinha de atividades, torre de Lego gigante, túnel, barraca da Mônica. Já fizemos jantares para mais de 12 Barbies, incluindo todo o elenco do High School Musical. 
Nessa sala meus filhos reinaram absolutos. Teve trave de futebol desenhada em cada parede, onde disputamos inúmeros campeonatos de gol-a-gol.  Teve cesta de basquete. alvo de dardo. Minha filha estreiou diversos shows da Hannah Montana com plateia de bonecas. Dançamos folclore, rock, lentas, todos os estilos por ali. 
As crianças foram crescendo e os trambolhos deram lugar pras festas de pijamas onde cabiam mais de 10 crianças, fácil, fácil.  Os colchões enfileirados em dupla, as crianças deitadas no sentido lateral, montes delas.
As paredes dessa sala viram muita bagunça, tudo devidamente documentado nas paredes, rabiscadas todas do piso ao teto com os primeiros desenhos, nomes, escudos de time, spray colorido de cabelo, formulas matemáticas, mapas, assinaturas, citações, garranchos e o que você quiser imaginar.
Aí a vida passou e as crianças viraram adolescentes e toda a parafernália que eles querem se resume num celular e um vídeo game. Posso enfim tomar posse do território que me tomaram por usucapião. Minha sala vai finalmente ser uma sala. Depois de anos protelando, me enchi de coragem, é agora!
Como toda reforma que se preze, fomos invadidos por uma série de "já que" e a obra que ia ser só na sala avançou pelos quartos e banheiros, fincou bandeira na churrasqueira e na cozinha e o que seria breve deverá consumir meu ano, minhas reservas e certamente toda a minha (pouca) paciência.
A sala das brincadeiras está lotada de caixas, colchões, armários, roupas, quadros, livros, malas, numa babel que me dá vontade de chorar. Nunca esteve tão triste.
Tudo começou por causa dela. Então mentalizo a história da Fênix que renasce das cinzas. Sonho com a nova estante cheia de livros, o novo sofá aconchegante pra família e amigos, o telão dos filmes dos dias de chuva, as conversas sem fim nas novas poltronas, os novos momentos de alegria que virão. É o que me faz resistir, é o que me faz aguentar o pó e a barulheira. Essa sala merece!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adolescendo

Acabo de deixar meu filho de 16 anos sozinho na praia com outros três amigos. Primeira vez! Vão ficar lá cinco dias. Na mala, poucas roupas, macarrão e uma alegria que era difícil despistar. 
A ideia foi minha, achei que já estava mais do que na hora de um rapazote dessa idade começar a sair da minha saia. E Caioba é ali do lado, balneário minúsculo de praia, cheio de conhecidos, situação ideal. 
Fiz isso de monte, até mais jovem, nos tempos de calmaria que tive a sorte de viver na minha adolescência. Pegava o saco de dormir, duas amigas e uma passagem da Viação Graciosa e sentia a mesma alegria que vi no rosto dele. 
Mudaram os tempos, claro, mas a adolescência é igual pra todo mundo. Aquele desejo de independência, de estar só com os amigos, fazer muita farra. Todas as possibilidades da vida ali na sua frente.
Sou uma mãe super tranquila, geralmente não penso no pior que pode acontecer em cada movimento que os filhos fazem. Acho que viver assim deve ser muito difícil. Acabo fazendo tudo meio na louca, sem pensar muito nesses medos tão comuns (e verdadeiros) que as outras mães têm. Simplesmente vim ao mundo sem esse gen, defeito meu. Ainda bem!  Senão meus filhos teriam uma vida muito chata e fechada. Ainda acredito que o mundo conspira para o bem.
O fato é que poder ser dono do próprio nariz por cinco dias que sejam, na idade dele, é uma sensação que não pode ser sufocada pelos meus medos. Minhas poucas recomendações foram: só saírem juntos, se cuidar no mar, comer em lugares de confiança, deixar o celular carregado e com som e arrumar a casa pra quando eu chegar pra fazer o frete de volta no domingo.
Começar a ter essas experiências é fundamental pra que ele cresça em todos os sentidos. Vai ter que se virar pra comer, nem que seja miojo às cinco da manhã. Vai ter que lavar louca se quiser ter onde colocar o miojo. Vai ter que esvaziar o lixo. Vai ter que fazer escolhas pra fazer a grana que eu dei render até o fim. Vai ter que arrumar a cama, ou não, escolha dele. Vai ter que esperar na fila do banheiro. Vai ter que passar protetor, ou torrar. Vai ter que se virar pra ir pra Guaratuba sem carro. Vai dar muita risada com a turma. Vai curtir o gostinho tão bom da liberdade.

Só consigo pensar nas coisas boas que essa viagem vai ser. Pena que eu vou estragar tudo quando aparecer por lá. 

Cidade vazia

Adoro Curitiba no verão. Adoro Curitiba vazia. 
Curitiba não é uma cidade de verão, definitivamente, É só o verão ameaçar aparecer (ele nem sempre aparece) que a turma toda faz a mala e escapa pra endereços mais ensolarados. Bom pra quem fica. 
De repente parece que estou na minha cidade da infância, sem trânsito, sem barulho, sem a agitação e o stress que ultimamente tem tomado conta do nosso mundo.
Quando não está oscilando entre o calor insuportável e a chuva torrencial, Curitiba volta a ser aquele Oasis de 24 graus, nuvens esparsas, como sempre era na minha memória de criança. Temperatura ideal pra criançada brincar na rua sem se torrar, pra dar uma volta na XV e tomar um milk-shake de morango na Schaffer (se a Schaffer ainda existisse), pra andar no parque sem ficar se esbarrando na multidão, pra trabalhar sem sofrer se você é o único da turma que tem que fazer isso enquanto todos se esbaldam nas praias de alhures. À noite, brisa geladinha, cinema sem fila, restaurantes sem espera, casaquinho. Tudo de bom.
Curitiba nas ferias é a cidade ideal, a cidade possível. Quando está vazia, Curitiba volta a ser ela mesma. Tudo parece voltar ao seu lugar, tudo parece fazer sentido. A civilidade reaparece e você poderá ate ver as pessoas conversando e sendo educadas umas com as outras.  Impressionante como o fator mobilidade afeta a gente bem mais do que parece. Tire o trânsito da equação da vida das pessoas e a felicidade reaparece. Ruas tranquilas, ônibus onde você viaja sentado, paraíso. A cidade dica até mais bonita.
Esse idílio tem os dias contados, o que me dá cinco mil tipos de dores no coração. Infelizmente nosso tão copiado sistema de transporte/mobilidade tem enfrentado duras penas. Questões de má gestão e mau funcionamento vêm sobrecarregando mais o sistema do que os dois milhões de usuários.  Falta gente pensando na questão crucial do problema que é voltar a criar novas possibilidades para ele. Nosso sistema, por ser todo em superfície, tem em seu DNA a possibilidade de rápidas mudanças e adequações, pode ser modificado sem grandes obras, pode receber upgrades em vários níveis. Não é uma questão financeira, o que falta são ideias e certa dose de coragem na turma que tem a caneta nas mãos.

Então, enquanto posso, vou aproveitando ao máximo a cidade que voltou a me pertencer como cidadã. Curitiba no verão é a minha praia. Gosto dela assim, mesmo sem mar. Mal posso esperar pelo Carnaval!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

The day the music died (a big part at least)

Morreu um ídolo. Silenciosamente, surpreendentemente, dolorosamente. Morreu um ícone. A morte de David Bowie foi um soco.

O próprio Bowie, de certa forma, tentou preparar nossos corações. Dois dias antes, em meio à celebração do aniversario, lançava Lazarus como um prelúdio do que estava por vir. A música é forte, linda e deixa a certeza que o artista ainda estava lá, pulsante em meio ao tratamento que manteve em segredo de todos.

Perdemos Bowie e em menos de um minuto o mundo, literalmente, só falava nisso. A notícia se espalhou pelos meios de comunicação e principalmente pelas redes sociais como o foguete do nosso Starman. No facebook, foi difícil achar um post que não citasse isso.

Como de costume, fomos bombardeados por obituários de diversos veículos. Canais de tv mostravam seus clipes. Jornais, blogs e sites tentavam resumir a personalidade de uma pessoa múltipla, diversa, plural.   É praxe em momentos como esse. 

Porem, de repente, o que era para ser uma coisa muito muito triste começou a se transformar numa coisa muito, muito bonita. Foi como se todo mundo quisesse transformar a sua dor em uma homenagem mais forte, mais tocante, mais lírica, a altura desse cara genial que conseguiu mexer com a vida de tanta gente.

A cena das pessoas que passaram a noite cantando suas musicas em Brixton, sua cidade natal, foi mais que emocionante. Quisera eu fazer parte desse coro. A timeline do facebook ficou sonora, com links de praticamente todos os seus sucessos. Fotos, gifs, caricaturas, cartazes, ingressos, capas de disco ilustraram posts o dia todo no instagram. Textos emocionados mostraram o grau de devoção de seus incontáveis fãs. Tweets de famosos ou não, usaram cada um dos 140 caracteres disponíveis para lembra-lo.

As homenagens mais diversas e espontâneas foram surgindo em todo canto. No Brooklyn, EUA, uma semana toda de homenagens foi programada, e longe de missas e vigílias, os eventos são todos, de certa forma, animados. Sob o titulo 10 maneiras de celebrar David Bowie (http://brokelyn.com/put-red-shoes-celebrate-life-david-bowie-brooklyn/) noites dançantes, maratonas dos filmes, baladas temáticas, enfim, uma série de eventos irá homenagear o que de mais importante ele nos deixou, sua arte. 

Bowie foi um ídolo para varias gerações, se reinventando sempre, nos mostrando a importância de seguir, mudar, ousar, arriscar, ser diferente, ser estranho. Bowie teve as mais variadas faces, e todas estavam ali á mostra. David Bowie era brilho, neon, listas, purpurina, fantasias, roupas e maquiagens. Era  Ziggy Stardust e Major Tom. Era ator, andrógino, complexo. David Jones era elegante, discreto, chiquérrimo.

Essa imersão no carinho, respeito, fascinação, devoção pelo artista foi comovente. Espero que sua família tenha visto tanto amor, que tenha se sentido abraçada e confortada por ele.  Foi lindo e nada boring como ele já tinha nos avisado.
12/01/2016

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Um filme na cabeça

Coloquei uma mensagem no facebook desejando um feliz ano novo pra toda essa gente amiga. Coisa simples, foto da família, pensamentos positivos, desejos sinceros.

Em pouco tempo o contador de curtidas começou a funcionar. Sei que existe muita crítica em relação às amizades que temos nas mídias sociais. Sei também que ter milhões de amigos virtuais às vezes não quer dizer muita coisa quando você realmente precisar de um amigo de verdade às 5 da manhã, quando o bicho pega de verdade. Mas tenho que dizer uma coisa pra vocês: chegar a quase 400 curtidas, assim despretensiosamente, foi demais!!!!

Mais que o número, a lista me enche de alegria. Passo os olhos em todas essas pessoas que gastaram dois segundos pra clicar na mãozinha e me emociono porque, de uma forma ou de outra, minha vida toda esta ali, representada por pessoas que variam em muitos graus de intimidade comigo. Estão lá os primeiros amigos da escola, minha turma de 8a. série, os do Dom Bosco, os da faculdade. Meus professores de todos esses lugares. Gente que dançou comigo na Jô, no folclore, no Guaíra. Meus queridos do movimento juvenil, meu grupo, os que cuidei e quem cuidou de mim. Os amigos queridos que foram comigo pra Israel. Gente da Singular, do Festival de Teatro, dos Jogos Mundiais da Natureza, da Carrè, da Conib e de todos os lugares que trabalhei. Meus colegas do escritório atual. Meus amigos de verdade, minha turma.  A turma do Claudio que já virou minha também. A família toda, cunhado, tios, sobrinhos, primos de todos os graus e de todos os lados. A turma dos meus pais, os amigos do meu pai, amigas queridas da minha mãe, Pais dos meus amigos, gente que chamo de tios até hoje, Muita gente da comunidade israelita, meu berço cultural. Os filhos dos meus amigos e os amigos dos meus filhos. As mães e pais dos amigos dos meus filhos, gente da escola onde eles estudaram a vida toda. Os caronistas queridos. Conhecidos, amigos de amigos. Meus vizinhos, médicos e dentistas.  Donos de lugares que frequento, lojas, restaurantes. Gente pra quem presto serviço, ou o contrario. Todo mundo ali!

Não é lindo demais? Gente que vi a pouco e gente que não vejo há anos, Gente que conheço a fundo e gente que troquei rápidas conversas. Gente por quem tenho amor imenso e gente que tenho imensa simpatia. Gente do agora e dente de ontem. Gente mais nova e gente mais velha. Gente de perto e gente de longe. Gente que conheci nas redes e gente que conheci na vida.

Cada um deles desenhando um mosaico lindo de lembranças que fizeram a reflexão do ano novo mais profunda, mais alegre, mais bonita. Vendo todos esses rostos, o coração se encheu de alegria, o sorriso veio fácil. Amigos sejam eles reais ou virtuais, tem esse poder de nos levar pra um lugar mágico, um contentamento instantâneo, cada rosto, um cisco de memória, um momento da vida. 
Um filme que passa na cabeça da gente. Merecia um Oscar.


08/012016

domingo, 3 de janeiro de 2016

Coisas de praia

Gente de todas as idades
Biquínis de todos os tipos
Muita gente correndo na praia
Gente de biquíni e tênis, 
Caminhadas na beirinha da água 
Corpos super expostos, corpos que não deviam estar tão expostos
Marca do biquíni de ontem
Gente cor de rosa
Protetor aerosol
Frescobol, fresbee, vôlei de praia. Futebol e Beach tênis  
Gente alterada tentando jogar futebol 
Criança correndo atrás de bolas coloridas
Cachorros
Sorvete de jabuticaba
Crianças lambuzadas de sorvete
Barraca de armar
Guarda-sois voando ao vento, 
Chuva e sol e mormaço 
Ondas e surfistas
Mergulhos de fim de tarde e começo de manhã 
Crianças aprendendo a surfar
Bebês descobrindo o mar
Pais cuidando dos filhos, 
Amarelinha desenhada na areia
Gente andando de mãos dadas
Argentinos de monte
Tempo esticado, horas arrastadas
Chinelo de dedo
Camarões à milanesa e ao bafo
Frutas, queijos, ceviches, guacamoles
Almoço que vira janta
Churrascos demorados, paellas é bobo de camarão 
Caipirinha de limão, de abacaxi, de melancia, de uva, caipirinha chique em copos verdes com gengibre
Muita cerveja, muito vinho rosé
Whisky e pôquer 
Turmas de amigos
Mesa para 24
Minha turma de amigos
Conversas gostosas
Gente feliz
Risadas sem ter fim 
Comecei o ano muito bem!