quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ô vicio!

Sou daquelas pessoas que se incomodam. Simples assim, Me incomodo com muito mais coisas do que deveria, esse é meu pecado. De coisas grandes e importantes às miudezas do cotidiano, tudo entra no meu raio de preocupação.

Meus filhos já estão cansados de me ver reclamar de um produto sem preço no mercado, de gente que fura a fila, de pessoas que estacionam perto da esquina e bloqueiam a visão, de gente que fala no cinema, de gente que joga lixo na rua, de gente que lava calçada com wap e por aí vai. Sei que perco muita energia e muito tempo com isso. Podia fazer de conta que não to nem aí mas...Me incomoda, é pessoal. Não consigo deixar passar. Boto a boca no trombone, reclamo, brigo, chamo atenção. Pro desespero dos meus adolescentes que só querem passar desapercebidos por essa vida. Mas fazer o quê? Já tentei terapia, yoga, tudo para despertar o meu lado Zen. Não funcionou.

Acho que tem a ver com meu senso de cidadania e o respeito que tenho ao que é comum, do coletivo. Talvez resquícios da minha formação em um movimento juvenil socialista, minha experiência morando em um Kibutz lá no século passado. Acho fundamental as pessoas pensarem e respeitarem o que é do outro e o que é de todos.

Meu novo foco de tensão, o celular! Como pode o ser humano pegar uma maquininha tão bacana e cheia de possibilidades legais e transformar num poço do mal uso e de falta de educação. Pois é meu amigo, se você é daqueles que fala alto no celular na rua, no restaurante, no ônibus, será meu próximo alvo. Se você tira o celular no meio de uma conversa boa de amigos na mesa do jantar por qualquer motivo, considere-se repelido. Se você é aquela pessoa desagradável que fica olhando o celular no meio do cinema ou do teatro, pode considerar nossa amizade coisa do passado. Se você  atende o celular então?  Posso pular na sua jugular se você estiver desprevenido.

Quem são essas pessoas que não podem se desconectar por duas horas, que não podem ficar sem olhar o Instagram, o Whatsapp ou o Facebook por 90 minutos? Alias, quem elas pensam que são? Quem lhes deu o direito de atrapalhar todo mundo? De impor aquela luzinha azul, aquele toque engraçadinho, aquelas conversas vazias? Eu respondo: a falta de consideração.

Ter um celular transformou as pessoas em seres cada vez mais individualistas, egoístas e egocêntricos. Gente mal educada que não olha para o outro, que não respeita limites, que só enxerga seus gordos umbigos.

Mas o mal maior, o principal,  é que o celular tira as pessoas do aqui e do agora. Se você não consegue prestar atenção no show do Gil e e do Caetano para ver a ultima piada do face; se não consegue manter a conversa com os amigos cara a cara para checar um email que deve ser spam;  se você perde a cena mais linda do filme pra curtir uma selfie; voce tem um grande problema, além de ter perdido a minha amizade.



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ossos quebrados

Estou criando um programa de fidelidade com a clínica de fraturas. Meu filho Ben é o responsável. Praticante desse esporte radical chamado futebol, o Ben acabou quebrando a tíbia no inicio do ano, dividindo uma jogada com o goleiro. Ele entrou com a canela e o goleiro com a chuteira. Foi uma fratura grande, circular, que dava volta pelo osso todo, caprichada. Foram 10 semanas de gesso, uma tortura. O primeiro gesso ia até a virilha, tadinho, pesava, incomodava, um suplício. Deu um trabalhão, tivemos que ver muletas e montar toda uma operação que envolvia  vários bancos, vários plásticos e elásticos para um banho decente, almofadas para acomodar a perna o tempo todo, travesseiros pra dormir.... Fora a logística médica, consultas periódicas, raio x direto, e a logística em si, de levar e pegar o piá em todo lugar, o que ele já fazia sozinho. Depois as coisas foram se encaixando, nós e os ossos. O gesso foi encolhendo, a gente foi se aperfeiçoando e no final, até futebol de muletas ele tava jogando, para o meu desespero. Fisioterapia, paciência e uns centímetros de massa muscular pra recuperar, esse foi o nosso saldo, E assim foi o primeiro semestre todo. Ufa!
Segundo dia de futebol depois das férias, praticamente o retorno oficial às canchas depois do gesso,   lá vai ele de novo. Jogando no gol pra se poupar e por ainda não estar muito seguro pra enfrentar as chuteiras alheias, o Ben foi defender uma bola, acabou batendo no pulso e pronto: deslocamento de cartilagem. Lá foi ele de novo, hospital, raio x, gesso. De novo caprichado, se ele tivesse quebrado seria mais fácil de resolver. Gesso até o sovaco, mais 6 semanas de molho, toda uma logística pra montar, toda uma nova dor e tristeza pra administrar. Ninguém acredita ainda que nosso segundo semestre começou assim.
Isso tudo rendeu algumas lições. Para o Ben a primeira foi prática, de anatomia, aprendeu onde fica a tíbia é o que é cartilagem.
Brincadeiras à parte, está sendo duríssimo para ele encarar a frustração de não poder fazer algo que ele ama e ter que enfrentar a dor e a adversidade de estar incapacitado, atado, literalmente engessado. É um exercício constante de paciência que nem sempre ele dá conta. Pra gente também, ficar olhando um filho nesse processo e saber que ele tem que passar por isso e que a gente pode no máximo dar suporte, conforto e amor, é difícil. Não posso sentir a dor por ele, nem o incomodo. Tenho que ter paciência para aguentar o mau-humor, a raiva que ele só pode descarregar em casa, com quem ele sabe que vai estar lá no dia seguinte. Temos que fazer desses limões enormes, uma bela limonada, pra que seja uma lição pra vida toda, positiva, de superação, de controle, de crescimento e de cura.
Agora, que não foi gol, isso não foi! Bela defesa Ben!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Quem é essa cidade?

Sempre achei que as cidades tem personalidade, são como pessoas, tem suas características e suas manias.

Curitiba com certeza é uma mulher jovem, educada, exigente, informada. Muitos a acham séria, mas é porque gosta das coisas bem organizadas, certinhas, tem horários. É uma cidade em quem se pode confiar, cumpre os combinados, separa seu lixo, organiza seu transporte publico, oferece muitas coisas aos seus habitantes. 

Trabalha muito, é super organizada, diversificou sua carteira de serviços, chamou muita gente pra trabalhar em equipe. E relaxa nos happy hours de botecos que colocam suas mesas nas calçadas de petit pavê fazendo uma praia urbana receitada por Paulo Leminski

Gosta de ler, ir ao cinema, e adora dançar tecno. Não é de meter o pé na jaca, mas toma os seus pilequinhos. É da rua, da esquina, do bate papo sem fim. Eclética, pode ir direto de uma balada sertaneja no sábado à noite para um concerto da orquestra sinfônica no domingo de manhã. Arrisca até um samba em um carnaval de caixinha de fósforo.

Curitiba come de tudo. Ultimamente está muito interessada em pratos diferentes, culinárias exóticas de países longínquos para desespero das suas mamas italianas, árabes, alemãs e polonesas. Anda achando que come demais por causa do frio e, antenada, aderiu às feiras de orgânicos em todos os seus bairros. Mas sofre para dispensar a sobremesa em toda refeição

Vaidosa, Curitiba gosta de suas ruas limpas e sempre floridas com seus ipês, cerejeiras, quaresmeiras, primaveras e flamboyants. Curitiba se veste com rendas de lambrequins, casas e ônibus coloridos. Seu traçado é reto, quase cartesiano, suas quadras são quadradas, facilitando os nossos caminhos.

Seus fluxos e contra fluxos são medidos no relógio, pontuais. Seus humores variam com o clima. Podemos ver seu sorriso nos dias de sol e sua preguiça quando o céu está cinzento. Educada como ninguém, mantém suas floreiras intactas mesmo em pleno show de rock.

Mas acima de tudo Curitiba é generosa, deixa todo mundo entrar, recebe todo mundo com café com bolo. Convida todo mundo para deitar na grama nos seus jardins e parques que rega com muito carinho e muita chuva.

Curitiba é tímida, quase não fala, mas gosta de ouvir as suas histórias. 
Curitiba é aquela amiga que puxa a sua orelha quando você está errado, dá carinho quando você precisa de colo, mostra o caminho quando você está perdido e cai na gandaia quando você quer se divertir.


É mãe que protege, irmã que divide e uma amiga para toda a vida!