segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Um ano diferente


Meu filho vai passar um ano fora, este ano. Isso já torna absolutamente tudo diferente.
O réveillon foi diferente, os dias que ainda tenho com ele aqui são diferentes, toda a minha atenção está voltada para esses últimos momentos antes da sua partida. Eu me vejo contando as horas, inventando desculpas para um abraço, fazendo de tudo para ficar perto dele o máximo possível.  Entre documentos e listas do que levar, tento estar ali, participando de tudo, separando camisetas, comprando o que falta, escrevendo uma longa carta para ser lida no avião.
Na idade dele, fiz o mesmo programa. Confesso que a perspectiva de quem vai é infinitamente melhor da de quem fica. Porém, por conhecer o que espera por ele lá, talvez esteja tão entusiasmada quanto ele para essa aventura.
E olha que fui numa época em que a comunicação com a família se dava por lindas cartas que demoravam mais de uma semana para chegar e telefonemas de 5 minutos aos domingos para aproveitar a tarifa menos exorbitante dos interurbanos nos anos 80. Quando a gente viajava, para ter essa experiência no outro lado do mundo, era realmente a ruptura definitiva daquele cordão umbilical invisível que nos acompanha confortavelmente quando moramos na casa dos nossos pais.
Hoje, com celulares, Facetimes, Whatsapps, e outras modalidades de comunicação instantâneas, o desafio é fazer que ele realmente se separe da vida aqui para aproveitar a experiência de conhecer outras culturas e fazer suas próprias escolhas por lá. Por mais doloroso que seja, vou ter que refrear o impulso de perguntar como ele está todos os dias, vou ter que deixar a coisa vir do lado de lá, por iniciativa dele. Ansiosa, esperarei.
Enquanto estive viajando, meu pai me escreveu uma carta por semana, religiosamente. Minha mãe, a cada 15 dias no máximo, mandava a sua. Eu escrevia bastante também, cheguei a mandar uma fita cassete gravada com as últimas aventuras.
Pensei em repetir o feito, escrever pra ele semanalmente contando o que estarei fazendo, o que acontece na família, se o Coxa ganhou ou perdeu.  Vou me render ao e-mail, afinal o mundo mudou. 

O ano será longo. A casa ficará silenciosa, o quarto arrumado. A saudade vai apertar, se der apareceremos para uma visita. Tudo aqui será igual e mesmo assim, será tudo diferente.