terça-feira, 17 de novembro de 2015

Cinco amigas, cinco pedras

Com cinco pedras fizemos um apacheta. Com cinco pedras construímos um totem que simboliza a nossa ligação. Na verdade, a apacheta simboliza uma homenagem a Pacha Mama, mãe terra, conforme nos ensinava o nosso guia peruano. Um agradecimento a tudo que ela nos dá.  Mas para nós cinco era bem mais que isso, era o fim de uma difícil caminhada pelas montanhas andinas. Era a celebração de chegar ao topo depois de horas de subida, na altitude, num grande desafio físico para nós todas. Mas muito mais.
Nossa caminhada começou muito antes, aos doze anos, quando nos conhecemos. Nem somos da mesma cidade, Foi um percurso longo recheados de encontros semestrais em acampamentos, uma indo pra casa da outra, feriados e carnavais juntas. Por algumas, a empatia foi imediata, por outras, a amizades foi construída passo a passo. Algumas têm historias paralelas.  Cada combinação entre nós é diferente.  Dez relacionamentos misturados em um só. 
O ponto alto foi um ano de convivência num país distante. Experiência que deixou marcas profundas em cada uma de nós. Dividimos quartos e a preciosa experiência de se ter 18 anos e poder descobrir o mundo. Lá, vivemos o prazer maior da vida e a dor imensa da perda de alguém que se ama. Cicatrizes que começam em mim e acabam nelas.
De lá pra cá fomos montando a nossa história, Teimamos em ser amigas. Cuidamos, alimentamos essa amizade. Vieram os namorados, os casamentos, os filhos e todos foram abrigados nesse grande abraço. Juntamos a tribo toda todo ano, as crianças já esticando esses laços que nos unem. Gastamos todas as nossas milhas em celebrações lindas e emocionantes. Também estávamos lá no momento do luto, do abraço, da lágrima. Sempre lá, juntas no lado a e b da vida. 
Foram anos de segredos, brigas, ciúmes, implicâncias, risadas, cumplicidade, conquistas, vitórias, festas, carinho, discussões, porres, conselhos, teatros, bares, estranheza, aconchego, cobranças, generosidade, entendimento, telepatias, amor. Conversas de todo tipo, em qualquer lugar.  Cartas, telefonemas, grupos de whatsapp,
Aos quarenta vieram novamente às viagens, o começo de tudo. Quinze dias pelo mundo, de dois em dois anos, para acender tudo isso, o bom e o nem tanto. Quinze dias de intensivo. Quinze dias onde voltamos a ser nos cinco, nada mais. Ainda aprendemos muito uma com a outra, uma sobre a outra. 
Quinze dias que nos levaram dessa vez ao Peru, a uma montanha perdida no Vale Sagrado. Aquele momento na montanha foi o mais forte da viagem. Cinco amigas abraçadas ao redor do totem. Cinco pedras empilhadas. A representação física de uma amizade onde cada uma se apoia na outra, por mais diferentes que sejamos. Um agradecimento por cada uma de nós estar ali, estar com as outras, querer estar com as outras. Nenhuma palavra foi dita, estava tudo explicado. Cinco amigas, cinco pedras!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O último verão.

Esse verão está com cara de ser o último de uma era: a era das viagens em família. 
Tenho um filho que esta prestes a fazer 16 anos. Ele é o último da turma a fazer aniversário, mas já está imerso nesse universo adolescente desde o ano passado.  Foram dois anos de muitas mudanças, muita rebeldia, muitas transformações, alguma gritaria. Enfim um tempo de muita aborrecência.
Marcamos uma viagem de fim de ano da nossa turma de amigos que também tem  filhos dessa idade. Acho que vai ser o último onde ficar com os pais será a primeira opção dessa galera. E isso porque vamos em turma e eles adoram.  Somos 16 adultos e 16 crianças; os nosso de 16 e outros que se vão se espalhando até os oito anos. É uma farra, para nós e para eles, tanto nos momentos que estamos todos juntos quanto quando esses dois grupos se divertem entre si, só nós e só eles. Viajamos sempre juntos, há anos, desde que os mais velhos ainda estavam na barriga. Turma da boa, de verdade.
Mas alguma coisa está mudando, os grandinhos estão criando asas, desenvolvendo outros quereres. Cada vez mais pedem voos solos, onde nossa participação acaba no momento do check in e do adeus do lado de fora da sala de embarque. A companhia dos amigos toma cada vez mais espaço. A estrada vai bifurcando. Eventualmente surgem namorados que invadem nossa tribo. Os programas ficam cada vez mais proibidos para maiores. 
Tenho vivo na memoria meus tempos de 16 anos, a delícia dessa época. Fico emocionada de ver a turma passando por isso. Tantas descobertas, tanta alegria, uma pitada de drama, algumas desilusões, muitas aventuras. Desejo tudo isso pros pequenos. Sei que não nos resta outro papel nesse filme do que o de espectadores. É a vida.

Então só espero que esse seja o verão dos verões, onde eu ainda tenha mesa cheia pro jantar, roupas espalhadas pela casa, gente acordando na marra às 2 da tarde, videogame até altas horas, bagunça na piscina, brigadeiro a toda hora, gente esparramada no sofá num dia lindo de sol, pranchas de surf, comilança desregrada, muita rebeldia. Só espero que esse verão seja pra guardar na memória. Que essa despedida seja doce e divertida, com alguma gritaria, claro.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Caetano falou, vou falar também

Em seu polêmico depoimento Caetano Veloso decretou: não volto mais à Tel Aviv! Ele pode falar, tem todo o direito. Aliás, ele sabe muito bem o quanto custou ter essa liberdade de poder falar o que bem entender, Esteve lá na época em que isso era proibido, pagou seu preço, foi exilado, blá blá blá.
Vou falar também. Porque também posso. Falo como judia da diáspora, um lugar seguro de onde, assim como Caetano, me sinto livre para dar pitacos na vida dos outros. Não vivo a dor e a delicia de estar lá, apenas sofro por um ver um lugar que para mim é tão importante estar constantemente envolvido numa situação tão dolorosa. Uma casa onde os filhos brigam demais.
Ao contrário do que se supõe, e aí esta a beleza da coisa, muitos, mas muitos judeus israelenses ou da diáspora como eu não concordam com a política belicista do Netanyahu. Muitos de nós não gostam do fato de Israel precisar mobilizar toda a sua juventude em um exército. Não gostamos do fato desse exército ser tão atuante. Não gostamos de precisar inventar o Domo de Ferro. É triste. Não gostamos de ataques aéreos. Não gostamos de usar a força, não gostamos do fato de precisarmos da força. Mas também não gostamos de facas, de tuneis, de gente dizendo de que não podemos existir. Não gostamos de bombas em ônibus, aliás não gostamos de bombas em geral. Nem de tanques, morteiros, misseis. Também não gostamos de assentamentos, nem de muros. Não gostamos de terroristas, não gostamos da extrema direita.  Não gostamos de sirenes. Não gostamos de escudos humanos. Não gostamos de campos de refugiados. Não gostamos de revistas. Não gostamos de patrulhas. Não gostamos de ameaças. Não gostamos do medo. Não gostamos de boicotes, de parcialidade, de radicalismo. Não gostamos de sangue. Não gostamos de nada disso. Discordamos sempre que algo nos incomoda, nos revolta, nos agride. Podemos nos manifestar. Posso dizer tudo isso porque, como judia, não me sinto pressionada, não tem patrulha que me obrigue a ser sempre pró Israel, embora eu seja. Defendo Israel, mas vejo seus defeitos. Não sou ingênua nem maniqueista, posso simplesmente não concordar. Eu posso daqui, os Israelenses en loco. Os israelenses podem criticar abertamente seu primeiro ministro e o fazem constantemente. Os israelenses protestam nas ruas, nos jornais, nos filmes, nas músicas. Eles podem. Caetano deve ter visto, lido e assistido muitos desses protestos. Mas, sobretudo, os israelenses protestam nas urnas e também quando assinam suas deserções.
Quando falamos que Israel é a única democracia da região não estamos falando de uma figura de linguagem. Não é apenas um dado para ser colocado nos livros de geopolítica. Essa democracia é uma forma de vida, que influencia diretamente o rumo desse caldeirão de pólvora chamado oriente médio. Essa democracia é real. É o garante liberdade de expressão,  uma economia estável, desenvolvimento social, ensino de qualidade e todos os marcadores de um país desenvolvido. É mais do que isso, é também o que garante mulheres livres, que permite que os partidos árabes ganhem cadeiras no parlamento israelense, que a direita vença eleições, que existam coalizões nesse parlamento e que militantes do Breaking the Silence levem cantores latino americanos para Gaza conhecer o "outro lado" da história. Essa democracia também permite o diálogo. Permite que o Shalom Achshav (Paz Agora) continue sua luta de tantos anos.
Estamos longe da verdade quando ouvimos daqui ecos mal contados sobre o que se passa lá. Estamos apenas tocando a superfície de um problema de uma complexidade enorme onde cada lado tem infinitos momentos de razão e outros incontáveis momentos de trágicos erros. Lá e cá. Porém, existe e sempre existirá quem acredita na possibilidade de paz. Milhares de pessoas dos dois lados que tentam com projetos e ações conjuntas, diminuir o caminho entre nós. Pessoas que tentam tirar o ódio, a dor e o sangue da equação. 

Caetano não vai voltar pra Tel Aviv. O que ele não vai mais  poder ouvir, são essas vozes dissonantes, que acreditam poder mudar essa realidade, que nossas igualdades sejam maiores do que o que nos separa. O que Caetano não poderá ver são essas pessoas maravilhosa que lutam pela paz.  Azar o dele. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Vossa majestade, o candidato!

Ela está chegando, a eleição para a prefeitura de Curitiba está logo ali na esquina. Muitos nomes sendo colocados na mídia, várias projeções, especulações e pesquisas começando a pipocar por todo lado. Ai me pego pensando, o que é um bom prefeito, o que a gente quer de um prefeito? Independente de linha política, o que é mesmo que a gente procura na pessoa que vai governar nossa cidade nos próximos quatro anos?
Um plano!
Simples assim. Mais que mil propostas miraculosas, o que eu espero do nosso novo alcaide é que ele tenha uma visão do que deseja pra nossa cidade, uma meta. Um lugar lá na frente, um caminho!
Toda e qualquer proposta deve vir desse pensamento, desse projeto maior, que enxerga a cidade como um todo. Tudo coordenado, habitação, mobilidade, emprego, infraestrutura, equipamentos, obras sociais, saúde, cultura e educação. Tudo orquestrado, refletindo uma ideia maior, que nos indique pra onde estamos indo. 
Obvio que seremos bombardeados por milhões de projetos, alguns sertão bem interessantes e muitos deles com certeza serão necessários. Mas eles têm que refletir um pensamento mais abrangente da cidade. O nosso prefeito tem que entender o organismo vivo que a cidade é. Qualquer ação, repercute, altera e modifica a cidade toda. 
Estou cansada de projetos eleitoreiros, pessoas que visam mais sua trajetória politica e encaram a cidade como um degrau que os leva a outros patamares. Não quero ninguém assim. Não quero oradores rebuscados na retorica das obras faraônicas e desnecessárias.  Não me venham com salvadores da pátria com respostas a todos os problemas. Nem quero saber dos intransigentes e defensores de ideologias radicais, onde o discurso politico é mais importante que o plano de governo. Xô com todos eles!
Não me importo se ele é novo, velho, de esquerda, direita, advogado ou engenheiro. Não me importa se é feio ou bonito, se tem apoio desse ou daquele candidato. Me importa que tenha amor e respeito ao que já se fez e ao que a cidade representa. Me interessa que tenha fome e coragem para mudanças. Me interessa que conheça a cidade, entenda sua alma, que viva sua essência.
Será você o meu candidato?