quinta-feira, 28 de agosto de 2014

365 dias depois....

Um ano escrevendo, um ano! Comecei esse blog num impulso, na vontade de colocar pra fora pensamentos que as vezes não cabiam mais em mim. Comecei no maior gás, tudo era motivo para uma história. Maior adrenalina. Os textos pareciam uma enxurrada, montes de coisas pra contar que iam se soltando quase sem o meu controle. Um descarrego!
Com o tempo as coisas foram mudando, não dava mais pra escrever com a mesma assiduidade. Comecei a pensar com mais e mais atenção no que falar, ter um pouco mais de auto crítica, uma busca por fazer mais e melhor. Alem disso, a vida que vai nos levando, a correria do dia a dia, um pouco de preguiça também -confesso, tudo ia mexendo com a minha disponibilidade de sentar e escrever. Mas sempre procurei manter o fluxo, não quebrar o encanto. Achar o tema certo e contar o que penso.
Minha cidade e um pouco da minha vida estão aqui. Mais que isso, muito de mim está aqui. O que penso, o que gosto, o que me anima e até o que me incomoda. Coisas e pessoas que me inspiram, momentos bons para serem recontados e recordados. Lembranças queridas e algumas saudades. Tá tudo aí.
Foi um grande desafio. Passar pelas barreiras e pelas vergonhas.  Achar o tom certo, o tema interessante, ter algo novo a dizer. Nem sempre foi fácil, mas foi sempre divertido. E esse é o grande lance. Foi um prazer no melhor sentido que a palavra tem.
Por o ponto final, teclar enter e esperar o primeiro like, Essa expectativa de ver quem ia ler, quem ia curtir, quem ia comentar não tem como descrever. E tive sempre os melhores e os mais bacanas leitores, meus amigos. Muito carinho, muito incentivo, muito tudo de bom foi o que recebi nesse ano. Escrever pra quem nos conhece é um tanto amedrontador, como é dançar sabendo quem está na plateia. Mas ao mesmo tempo, é mais instigante. Adoro saber o que vocês pensam dos textos, cada um de vocês. Por que como sempre digo, esse blog não é nada mais nada menos que uma grande conversa que gostaria de ter com todos.
Então ai vai, mais uma vez, as palavrinhas alinhadas. Dessa vez é só um agradecimento, um super muito obrigado pra todo mundo que abriu seu tempo pra aparecer por aqui, ler e me acarinhar com a sua leitura.
Esse blog foi uma bela viagem, e agradeço do fundo do coração (meu deus! não acredito que escrevi essa que deve ser a frase mais clichê do mundo!!!!!) quem se sentou ao meu lado, mesmo sendo do outro lado do mundo e da tela do computador.
As letras tão ai, alguns erros de ortografia também, o pensamento é meio imperfeito,  mas a alegria é imensa!


sábado, 16 de agosto de 2014

Questão de gosto

Deveria existir uma comissão de estética em todas as cidades. Este deveria ser o órgão mais rigoroso da administração pública. Me dói na alma ver a quantidade de prédios de gosto pra lá de duvidoso que pipocam pela cidade. 
Sou muito ciumenta da minha cidade. De verdade. Cada cantinho de Curitiba é como se fosse, e é, a minha própria casa. Por isso, cada vez que vejo a especulação mobiliária ganhar num terreno, é como se eu tivesse pessoalmente perdido a guerra. Cada casa que se vai é uma ferida. E tem algumas que não cicatrizam jamais. 
Por isso precisaríamos minimizar as perdas. Já que não podemos deter o progresso (progresso?) pelo menos deveríamos ter algum controle estético sobre o que irá compor nossa paisagem urbana. São tantos os estilos arquitetônicos que vemos invadir nossos olhos, tantas invencionices e modernices... Botar a baixo uma casa do Lolô Cornelsen para erguer um monstro neoclássico deveria ser punido com prisão. Alguém deveria ter o poder de nos poupar da feiura e da degradação urbana. Alguém da secretaria de urbanismo além de conferir metragens e normas de recuo, deveria poder dizer: "essa feiura, na minha cidade, não pode!" Simples assim.
Uma das coisas que mais gosto em Curitiba é poder ver o céu, quase sempre, de qualquer ponto da cidade. E isso também quer dizer ver o azul intenso do inverno, nuvens improváveis, o por do sol vermelho, a chuva chegando e a lua cheia nascendo, só pra listar os fenômenos naturais. Olhar o céu da cidade nos faz ver as coisas com amplidão, podemos ter a visão maior das coisas, literalmente. Cada prédio novo no horizonte nos toma esse direito. A cidade vai perdendo a sua perspectiva, nosso olhar fica cada vez mais restrito, encolhido. Nosso céu, um quadradinho.
Por isso deveríamos ser mais zelosos com o que nos ofertam. Cada edifício, cada shopping, cada nova intervenção, cada viaduto. São obras perenes, merecem muita, muita atenção.
Uma ponte estaiada aqui, um elefante branco ali, prédios desenhados sem amor acolá e lá se vai nossa cidade afundando num mar de degradação que não tem volta. 
Arquitetos e engenheiros, autoridades e prefeitos que me perdoem, muitos me chamarão de atrasada, censora, retrógrada. Aceito a crítica e os predicados. Só peço atenção, bom senso, carinho pelo trabalho. Fazer e aprovar prédios é mais que encaixar cômodos em metros quadrados cada vez mais exímios. Vocês tem uma responsabilidade muito maior, vocês estão mexendo com a paisagem urbana. Mais que isso, vocês estão mexendo com a minha casa.
Sejam corajosos, modernos, ousados, não sou contra nada disso, não me entendam mal. Mas tenham qualidade, propósito, beleza.
Assim ganharíamos todos. Assim um novo prédio poderia honrar a antiga casa. Assim obras novas não nos deixariam com aquele gosto amargo na boca. Assim o caminho do olhar até o céu poderia ganhar novas e belas molduras.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Liana vai ao teatro

Ontem levei minha filha de 12 anos no seu primeiro teatro "adulto". Como ela está crescendo do dia pra noite, resolvi que esse ano, a gente já podia mudar o foco dos nossos programas culturais. Saem os desenhos animados, que eu secretamente também adoro,  e entram filmes, livros, peças e ballet de gente. Ainda passo na sessão infanto-juvenil, mas não necessariamente. Acho mais legal ir direto em coisas mais abrangentes, não tão preparadas e moldadas para o gosto dos adolescentes. Quero que ela comece a ver o mundo de verdade, sem esse filtro as vezes limitante do universo pré-fabricado para ela. Quero que ela tenha que fazer um esforço extra , puxe um pouquinho mais, saia da zona de conforto e possa entender ou não, gostar ou não, sentir ou não, mas experimentar um pouco da vida lá fora.
Então, a peça  foi escolhida a dedo, para que ela entre com o pé direito nesse universo tão delicado e as vezes tão fechado e difícil que é o teatro. Fomos ver Tchekhov, da companhia Ave Lola. Escolhi a peça por que ela é feita com uma delicadeza que me emocionou muito na primeira vez que eu a assisti, uns tempos atrás. Tudo na peça é muito bem pensado, muito bem feito, muito pertinente e muito inspirador. Da linguagem corporal à maquiagem, do texto à música, do cenário ao próprio espaço cênico, Tchekhov é uma deliciosa viagem que essa trupe da Ave Lola nos proporciona.
Trupe no melhor sentido da palavra, de gente comprometida, que transformou um antigo casarão do São Francisco no teatro mais simpático de Curitiba, o Ave Lola Espaço de Criação, onde os 50 sortudos espectadores são recepcionados com a alegria da Ana Rosa Tezza, diretora da peça e coordenadora do espaço. Tem deck, tem rede, tem pomar, tem jardim com almofadões coloridos que fazem da espera, do intervalo e da saída um prazer. Tem vinho, tem pão, tem bolo, cafezinho, no frio tem sopa, tem gente pensando em fazer você se sentir em casa. 
Na peça, os oito atores (Evandro Santiago, Helena Tezza, Janine de Campos, Marcelo Rodrigues, Regina Bastos, Tatiana Dias, Val Salles e Vida Santos) se desdobram em múltiplos personagens. As trocas de figurino e maquiagem são incríveis e acontecem diversas vezes pois os personagens vem e voltam, exigindo o dobro de trabalho. As transformações são além do visual, os atores mudam tanto que eu tive a sensação que um deles até muda a cor do olho. Tem música ao vivo, nas mãos da dupla Fabricio Amaral e Matheus Ferrari. O cenário é simples e a linguagem cênica nos faz ver cavalos, trens, florestas, rios, estradas, cidades, teatros num palco do menor do que a sala da minha casa. O texto fala obviamente de teatro, mas fala de muitas outras coisas nas entrelinhas, abrindo ai um leque de sentimentos.
Enfim, Tchekhov é encantamento, e fiquei feliz que a Liana vivesse isso. Na saída ainda fomos brindadas com um bate papo informal com a companhia toda. Todo mundo espalhado pelo deck, conversando sobre o processo de criação do espetáculo, matando a nossa curiosidade. 
Por isso eu recomendo, vão lá, se apressem, essa segunda temporada acaba logo logo. Cheguem cedo, curtam o lugar, deixem o celular em casa, se emocionem.  Mandem um beijo especial ao meu personagem favorito, o doce Chapula e bom espetáculo!