segunda-feira, 23 de outubro de 2017

dois metros e meio

Dois metros e meio, esse parece ser o novo numero mágico da arquitetura. Estive em Londres recentemente e essa era a medida de quase todas as coisas interessantes que vi por lá.
A primeira experiência com essa medida foi o meu quarto de hotel. Fiquei numa cadeia holandesa chamada CitizenM. O conceito são quartos pequenos, altamente tecnológicos e espaços multi coloridos no lobby onde a vida acontece 24 horas e você pode se sentir numa festa badalada. 
Sem brincadeira, o quarto tinha no máximo dois e meio de largura e uns cinco de comprimento.  O lado bom é que a cama ocupava um espaço total de parede a parede no canto do quarto.  Maravilha!
Minha mala teve que ficar no chão mesmo porque a mesa era muito estreita pra ela, mas deu espaço pra tudo. O hotel me fez sentir que estava num misto de episódio do seriado Black Mirror (o segundo da primeira temporada) com Blade Runner (o primeiro).  Check in e out sem recepção, apenas computadores em mesas espalhadas pelo lobby. O quarto todo controlado por um ipad onde você podia abrir e fechar cortinas, acender luzes e tv e até criar moods onde luzes coloridas e musicas obedecem ao seu estado de espírito. Tudo num touch, ou quase, uma vez que meu sistema deu tilt e fiquei completamente sem controle do quarto. Mas no fim eu acabei adorando esse quarto/útero/capsula.
Passeando por Shoreditch, ali pertinho do hotel, me dei com o mesmo conceito, só que na versão shopping. O Boxpark é um popup shopping feito de contêineres onde as lojas também não passam dessa medida de dois metros e meio de largura. Numa quadra cabem 41 operações comerciais no térreo e mais 20 operações de alimentação numa praça no 1º. andar. Só lojas super modernas e antenadas com esses novos tempos.  Show.
Se você pensar que essa medida é mais ou menos a medida de uma garagem para carro, pense em quantos empreendimentos as cidades deixam de ter por priorizar seus espaços para o automóvel.  Cada carro ocupa isso nas cassas das pessoas e ocupa isso novamente no trabalho.
Se as cidades entendessem o que podemos fazer com todo esse espaço que o carro exige, só para ficar parado, fora as ruas, poderíamos transformar radicalmente nossos centros urbanos.
Carro, já diria o meu pai, Jaime Lerner, é o cigarro do futuro. Temos que aprender a viver sem carro, ou melhor, dar um uso mais racional para ele, não sermos mais servos dos possantes. Carro é pra passeio, viagem.  Dentro das cidades: transporte público, pequenos carros compartilhados e bicicletas.

Cada vaga, cada estacionamento tem potencial pra voltar para o cidadão em forma de espaço de qualidade e lazer.  Afinal em dois metros e meio, eu vi, cabe o mundo.

Ruas secretas

Adoro andar por ruas pela primeira vez. Adoro essa sensação de poder descobrir algo novo numa cidade em que vivo há mais de quarenta anos. Dobro a esquina e é um deslumbramento.
Geralmente essas ruas são pequenas, em bairros mais afastados, pelo menos afastados dos meus itinerários.  Algumas são ainda revestidas de antipó, sem calçada, com a grama fazendo o contorno lindo da via. Ruas onde o tempo parece não passar com o mesmo  frenesi do nosso corre corre diário. A grande maioria é residencial, no máximo tem uma vendinha na esquina. O grande comércio e a especulação imobiliária ainda não acharam esses oásis urbanos. As casas, sim casas, têm janelas abertas e se procurarmos bem, achamos lá bolos esfriando. Os muros são baixos, crianças passam em bandos, brincando.  Parece que estamos numa idílica vizinhança dos anos 50.  
Adoro essas ruas que mostram que a gente não esta assim tão distante de um tempo bom. Que toda a modernidade futurista, os prédios de vidro, os tubos dos ônibus, os carros possantes e o caos podem desaparecer virando uma esquina.  Que existe espaço para o humano.
Em Curitiba temos muitas ruas secretas onde os vizinhos conversam no portão, vendedores de sorvete assopram seus apitos e as pessoas voltam pra casa a pé ou de bicicleta. Ruas onde se bate palma no portão, onde se lava o carro na frente de casa, cheias de pipas presas nos fios de luz e cachorros em cada fresta de muro.
Ruas escondidas que revelam um pouco da alma da cidade que passeia graciosamente do moderno ao mais prosaico em menos de um metro. Essa coexistência, essa dualidade me dão o melhor dos dois mundos.

Gosto de ter esse lado, dessa proximidade, dessa mistura, dessa quase esquizofrenia urbana. Gosto de sentir que quanto mais me perco pela cidade, mais a encontro. 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Guerra e paz


Muito mais de 100 dias se passaram desde a posse do novo prefeito. Pra quem ia dar um choque de gestão, quem ficou chocada fui eu. Até agora não vi nada que tenha me tocado positivamente no comando da cidade. Muito pelo contrário.
Curitiba nunca me foi tão estranha, tão desconhecida, tão distante.
Tempos tristes. Num mar de notícias tão deprimente que sopram do planalto central do país, Curitiba sempre foi Porto Seguro, onde o mínimo de civilidades e respeito ao cidadão ainda acontecia.  Não mais! 
Estamos no mesmo lodaçal. As notícias da cidade são tão desanimadoras quanto às de outra cidade qualquer. Uma pena.
Cidade e cidadãos não caminham mais em sintonia. Das questões mais abrangentes àquelas mais delicadas e particulares. Parecem estranhos, habitantes e a cidade.
 Tudo virou praça de guerra, do projeto orçamentário a uma simples horta comunitária, o diálogo se perdeu. A gritaria é geral e é regra. E nesse barulho ensurdecedor, ninguém se escuta.
Vemos leis sendo ignoradas em casos graves e seguidas à risca em questões ultrapassadas. Se temos um problema urbano, raramente acontece uma solução com as partes interessadas, baixa-se um decreto. Amputa-se o membro, não se trata a doença. 
Não é a toa que os índices de popularidade despencam. Eles refletem uma decepção, uma mágoa, uma tristeza, quando não raiva. 
Espero que quem luta pela cidade resista. E que quem governa abra olhos, ouvidos e o coração. 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A falta que ela não faz

A casa Erbo Stenzel*, no Centro de Criatividade de Curitiba pegou fogo e foi demolida. Quem se importa? Que falta ela fará? Uns poucos quixotes envolvidos na vida cultural da cidade lamentaram a perda da casa emblemática nas redes sociais. Fora isso, o silêncio.

Na Gazeta do Povo, a reportagem sobre o ocorrido nos informa que “a casa foi erguida originalmente em 1928 no bairro São Francisco por Germano Roessler. Transferida para o parque em 1998, estava abandonada e fechada há seis anos. Arquitetonicamente, a casa era um exemplar único, que não se encaixa em nenhuma tipologia conhecida pelos almanaques. A Fundação Cultural de Curitiba (FCC) tinha um projeto de reutilização do espaço, mas nunca houve verba para tocá-lo.” Esse abandono, com certeza foi a causa de sua destruição. 

Mais que uma casa de madeira, a Casa Erbo Stenzel é um reflexo fiel da nossa política cultural: ninguém conhece. Curitiba tem cerca de 60 espaços culturais**, entre teatros, cinemas, casas de leitura e outros espaços onde se fomentam as artes plásticas, a dança, a literatura, a música, o patrimônio cultural e afins. Quantos deles você já visitou? Pelas minhas contas, em toda a minha vida, cheguei à precária marca de 20 espaços, sendo que em muitos deles fui há mais de 30 anos atrás ou apenas uma vez na vida. E olhe que eu vivi a criação de muitos desses espaços. Os conheço, mas não os frequento.

Não tenho referência, não tenho informação, não tenho intimidade com esses espaços. Eles não fazem parte da minha vida social, nem cultural, poderiam bem estar na Islândia. Não temos o costume de fazer localmente o que fazemos em viagens, explorar a cidade culturalmente. Já fui num museu microscópico de Invenções em Barcelona e nunca me dei ao trabalho de conhecer o Centro de Arte Digital.  Acervos à parte, quem sabe uma maior visitação ao MUMA proporcionasse uma programação melhor, ou seria o inverso?

A politica publica de cultura diz muito sobre a cidade que vivemos. Arte, música, patrimônio são tão importantes quanto saúde e educação formal.  Cidades que exploram e oferecem cultura de várias formas aos seus cidadãos são cidades mais seguras, mais eficientes, mais felizes.

É uma pena, e um triste sinal, que só falemos disso em momentos como o cancelamento da Oficina da Música e a demolição de um patrimônio histórico. As manchetes deveriam ser outras.
  
* Descendente de alemães e austríacos, Erbo Stenzel foi artista, tradutor e professor da Escola de Belas Artes e Música do Paraná.

**Confira os espaços Culturais mantidos pela prefeitura aqui: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/espacos-culturais/

terça-feira, 16 de maio de 2017

Vai de quê?

Estive recentemente na Alemanha, em duas cidades pequenas, Bonn e Koblenz. Em uma semana de viagem usei mais modais de transporte do que em anos no Brasil. Além do avião, obviamente, andei de trem, de bonde, de taxi, de metrô. Não andei de barco, mas tinha essa opção. Não andei de bicicleta porque não sei, mas isso é tema de outra história.
Aí fiquei pensando em como o Brasil perdeu todas as grandes oportunidades de criar uma rede de infraestrutura de transporte de carga e passageiros. Quando era barato, abandonamos os trens. Agora tentamos correr atrás do prejuízo construindo uma malha ferroviária nova, cara, sem aproveitar nossos antigos caminhos, soterrados pelo tempo e pela falta de visão dos nossos governantes. 
Brasileiro chega à Europa e fica completamente encantado com a simplicidade e facilidade de se pegar um trem, É rápido, eficiente, prático demais. Avião pra quê? Você chega cinco minutos antes do embarque e desembarca no centro de qualquer grande cidade europeia de trem. É uma comodidade sem fim.  Chegando ao Brasil, a gente leva uma hora e meia pra sair de Congonhas e chegar ao centro da cidade de SP de táxi, uber, carona, o que for, num gigantesco engarrafamento, por falta de opção. Isso sem falar no deslocamento entre cidades relativamente próximas. 
Dentro da cidade, a mesma coisa. Cidades espertas entenderam que os modais não precisam competir entre si e sim a confluência deles é que promovem a mobilidade adequada. Se a cidade tinha trilhos de bondes antigos, modernizam seus bondes. Dedicam linhas exclusivas aos ônibus, se possível implantando todo o sistema do BRT (nosso, aliás). Estimulam o uso da bicicleta, tanto na rua quanto nos meios de transporte de larga escala. A pessoa que mora longe vai de bike até o metrô, literalmente, até dentro do metrô, onde finaliza sua rota. Tudo interligado, um sistema favorece o outro. Os modais se somam, simples assim.
E tem os barcos. Perdi a conta todas as vezes que tentava somar a quantidade de cargueiros no rio Reno por minuto. Era contêiner, carvão, combustível, carros, alimentos, todos flutuando suavemente nas águas do rio. Pista dupla, trânsito zero. Lindo de ver. E mesmo sem pesquisar, acredito que mais barato do que o transporte por terra, pois estive na estrada e não tenho a memória de ver um caminhão na minha frente.
Enfim, gostei da Alemanha. Além do schnitzel e da cerveja. Porém, ver um pais que se respeita, que investe em coisas básicas, que funciona foi uma sensação agridoce, Foi ver o que a gente poderia ser se houvesse um mínimo de planejamento. A obra do trem pra Congonhas, prometido pra Copa, mostra seu esqueleto pra todos nós, como um escárnio. A péssima conservação das nossas estradas, que mata mais que qualquer guerra é criminal. Os ônibus lotados e os engarrafamentos quilométricos das grandes cidades são um prejuízo financeiro pras cidades e pra qualidade de vida das pessoas. 
Ai ai, do exemplo da Alemanha aqui em terra brasilis só nos resta tomar muita cerveja....

terça-feira, 28 de março de 2017

Humano, demasiado humano

A cada operação da lava jato meu coração se contrai. Fico pensando até quando vou aguentar tamanha desfaçatez. Cada noticia, um soco no estômago. Até onde vai a maldade humana? 
E isso vira uma tortura psicológica, pois fica difícil viver num mundo onde as pessoas pensam tão pouco no outro, no mundo, no bom.
Fico alarmada em constatar o quão mais fácil é para o ser humano o erro, o mal, o golpe. Em que curva da estrada demos essa guinada onde é sempre preferível o torto, o sujo, o descaso, o ilegal.
Do micro ao macro, muito mais fácil achar quem prefere o jeitinho, o desvio, o despiste. Mais fácil a contramão do que dar a volta na quadra. Melhor o acostamento à fila de carros. Melhor a carne adulterada do que a saúde das pessoas. Mas vale o bolso cheio ao trabalho realizado.
A capacidade para o mal das pessoas é surreal. A quantidade de pequenos delitos que fazemos e sofremos é infinita! Fico apavorada com a quantidade de gente fazendo grandes malefícios sem a mínima, mínima, mínima culpa.
Esse mal tira de todos a chance do bem comum. Subtrai oportunidades, remédios, livros, respeito, civilidade, futuro. Esse mal contamina, deprime, desmotiva, desespera, mata. Esse mal tão entranhado em todos os aspectos das nossas vidas.  Mal aceito, absorvido, anestesiados que estamos de tanto levar paulada.
Será que é para isso que viemos? Será que é essa a verdadeira natureza humana? Em tempos de destruição do meio ambiente, guerra na Síria, exploração sexual, atentados terroristas, discriminação de gênero, todo tipo de corrupção, tráfico de pessoas, fome na África, mortes por trocados, poluição, a gente começa a se questionar de verdade sobre os caminhos que tomamos como raça. Essa raça humana, que se considera sapiens.
O bem existe, é claro, cercado pelo mar de irregularidades. Volta e meia deparamos com os Quixotes da vida, salvando o meio ambiente, criando famílias sociais, gerindo economias paralelas, salvando vidas ou simplesmente seguindo a trilha do certo. Esse certo que é careta, desvalorizado, ridicularizado. Esse certo que ajuda, conforta, constrói, embeleza, evolui, transforma, corrige, dignifica, mas que não é professado nas escolas, nem nas salas de jantar, nem em lugar nenhum.
Esses pequenos exemplos me fazem acreditar que ainda está em tempo de redimir essa raça, mudar essa rota. Não podemos depender do Messias de tantos credos. Mãos à obra, Millenials. Trabalho árduo, antipático, desgastante, perseverante, e recompensador terá essa nova geração: buscar o certo, simples assim. 

segunda-feira, 20 de março de 2017

Filharada

Cade o Teco que estava aqui?
No começo eram três barrigas. Na verdade, éramos três casais de amigos que engravidaram juntos. O trio se fez desde a barriga, e seguiu junto pelos encontros, viagens e pela mesma turma da escola. Um novo casal entrou na bagunça.  Depois chegou mais uma duplinha, depois outra e por fim, um caçulinha. Pronto, estava formada uma nova família, por livre e espontânea escolha.

Ter uma turma de amigos, que saem sempre, que viaja junto, que inventa programas, que reúne as crianças é, uma das coisas mais legais do mundo. Meus pais tinham uma que eu amava e ainda amo. Eu, por sorte, tenho também. 

Curtimos tudo como uma matilha, um clã. É tudo muito dividido, compartilhado. Almoços sem hora pra acabar, combinações de fim de semana, grupo de whatsapp, tudo que temos direito. Trezentas mil fotos, muitas caretas e sorrisos.  E vamos acompanhando todas as fases de cada uma dessas crianças e de cada uma dessas famílias. 

A antiga reserva no restaurante cresceu de 8 para 16. A mesa ficou barulhenta e animada. Hoje, muitas vezes montamos duas mesas, já que as crianças criaram a sua turma independente da nossa. Todo mundo interagindo na conversa da outra mesa.  

E isso é mágico. Essa transferência de amizade. Essa transferência de afeto. Somos pessoas que se gostam e esse querer extravasou. Somos todos meio pais de todos e são todos nossos filhos. O amor que circula ultrapassa os núcleos oficiais e se espalha por todo lado.

Isso é muito claro pra nós, adultos. Quem tem filho pequeno se emociona com o vestibular dos maiores, quem tem filho grande se encanta com as conquistas dos pequenos. Dividimos esses momentos todos, reforçamos esses elos, buscamos sempre estar juntos nos momentos especiais. Comemorando na mesa gigante da vida. 

Sempre me senti amada pelos amigos dos meus pais. E espero que essas oito pessoinhas sintam o mesmo. Sei que entre eles a irmandade é mais que real, se adoram, se protegem e se curtem de verdade. Sei também que nos adoram como turma. Morrem de rir e de vergonha das nossas brincadeiras e das nossas histórias. Tomara que também saibam que cada pai e mãe postiço da turma está ali incondicionalmente para eles. Estaremos sempre à disposição, torcendo muito, nos orgulhando das pessoas que eles estão se tornando. 

Esse ano, em especial, trouxe um momento incomum para cada um deles. Temos duas filhas morando fora, um filho entrando na faculdade, uma filha e um filho que mudaram de escola, outra que está se despedindo da sua e um filho fazendo Bar Mitzva. Ufa! Muitos desafios e descobertas, muita, muita emoção.

Cada um deles é a extensão do meu carinho. Meu colo estará sempre pronto, os braços e portas sempre abertos. Lu, Lila, Ben, Liana, Luca, Paula, Titi e Teco, entrem e se esparramem no sofá, estejam sempre em casa. Que alegria ter vocês nas nossas vidas!


20/03/17


domingo, 12 de março de 2017

As mil caras de Curitiba

Que nossa cidade é multi climática todo mundo já tá careca de saber. O que a gente tá descobrindo é uma nova multiculturalidade, uma Curitiba cheia de novos ângulos, novas caras, novos jeitos.
Embora os tradicionalistas insistam naquela versão antiga, fria e antipática da cidade e sua gente, eu acho que Curitiba esta cada dia diferente e cada dia mais interessante.

Vejamos o caso da calçada. Até 10, 15 anos atrás, ninguém dava a mínima pra calçada. Hoje não, somos a cidade das calcadas. Esse pequeno detalhe urbano é responsável por discussões acaloradas tanto sobre sua forma como sobre o seu uso. A eterna cisma entre amantes do petit pavê e os neo modernos pró paver é prato cheio pra uma boa discussão bem curitiboca. A briga entre restaurantes e prefeitura para a liberação das mesas no passeio também. Embora não goste dos cercadinhos, sou totalmente pró mesa na calçada. Tem coisa que deixe bares e restaurantes mais simpáticos? E a calçada é, desde os primórdios da minha adolescência, o lugar preferido pra se tomar uma cervejinha se você é da galera. Sem mesa, sem frescura, de pé mesmo, de preferência invadindo a rua. Se fechar cruzamento, ainda melhor!

Curitiba esta cheia de bazares, coletivos, coworkings, muita gente criativa. Muita economia colaborativa. Em todas as áreas. Só isso já faz a teoria da frieza curitibana ir por água abaixo. As pessoas estão cada vez mais trocando, mesclando, interagindo. Muita gente de fora, muito talento local, tudo num mesmo caldeirão.

Tem cada vez mais polos multieventos pela cidade. Bairros que organizam festas, quermesses, feiras, shows. Todo mundo indo pra rua, A rua voltou a ser o palco da cidade. Tem gente vendendo, comprando, comendo, trocando, expondo, discutindo, propondo, tudo na praça, E não é no centro da cidade. Cada bairro da cidade tá descobrindo seu potencial, sua arena, seu mercado, sua gente.

Tem mil novos cafés, barbearias, pequenas lojas de artesanato, boutiques, docerias abrindo em todo canto. Tem modismo de fora, tem claro. Mas isso também transforma, ajuda a mudar o cotidiano da cidade. E é tudo espontâneo, não tem diretriz governamental, não tem incentivo fiscal, nada. Os curitibanos, de nascença e de coração é que estão tendo todo o trabalho, por sua iniciativa e risco. Isso é ainda mais louvável.

Isso tudo me torna cada vez mais interessada nessa cidade. Acho que conheço tanto, e tenho tanto a conhecer. Isso me faz querer explorar cada canto, conhecer cada novidade, provar cada prato, fazer novos vizinhos. Gosto da Curitiba da minha memória e estou gostando cada vez mais dessa cidade em transformação.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Prioridades e demagogia

  Imagino que a coisa mais difícil quando se assume uma prefeitura seja definir as prioridades, ainda mais em tempos bicudos como os nossos. Atender, e atender bem, somente as necessidades básicas da população já é em si uma tarefa hercúlea. Educação, saúde, segurança e a área social serão sempre prioridades, principalmente com o sucateamento que esses setores vêm sofrendo ao longo dos anos. Reduzir a fila das creches, contratar mais médicos e melhorar o atendimento nos postos de saúde, dar educação de qualidade e valorizar o professor. Quem em sã consciência não acha que todo prefeito devia investir pesado nessas áreas? 
  Porém a cidade não pode virar refém das ditas prioridades. O prefeito não pode usá-las como álibi em seu discurso demagógico. Não pode fazer a população escolher entre áreas de atuação, não é justo, mesmo porque, nesse embate, a população não tem informações para fazer a escolha. Isso é demagogia barata, uma cortina de fumaça para falta de planejamento e ideias. Quem vai querer ficar contra a saúde? Quem quer ser esse vilão?
  A verdade é que em muitas vezes essa escolha não é real e nem necessária. Uma grande parte dos investimentos das prefeituras vem por um labirinto de verbas destinadas pelos ministérios e são exclusivas para cada área. Quem não usa uma verba destinada ao transporte urbano perde a verba como um todo, não pode remanejá-la para saneamento básico e vice-versa. Esse dinheiro deve ser usado para um projeto específico, foi aprovado e destinado para isso. O que o prefeito deve fazer é reduzir os castos com a máquina e direcionar as verbas dos impostos municipais para onde lhe der na telha e aí ele é soberano, desde que tenha aprovação do orçamento municipal e respeite a lei de responsabilidade. Administrar com Inteligência, transparência e integridade as verbas próprias e as que já tem destino definido, esse é o grande trunfo.
  Uma cidade com planejamento consegue equilibrar essas metas todas, consegue aprovar projetos nas diversas esferas, buscando atender a totalidade de suas necessidades, sejam elas prioritárias ou não. 
  Alias, a prioridade da cidade deveria ser o futuro, projetos que visam mudar a realidade e oferecer uma melhor qualidade para seus moradores. Prioridade não é correr atrás do prejuízo, isso é necessidade. Uma coisa não pode apagar a outra, mesmo porque, às vezes a solução pra problemas estruturais pode ser encontrada em lugares inesperados. 
A cidade precisa de saúde, mas também precisa de cultura. A cidade precisa de educação, mas também precisa de mobilidade. A cidade precisa de segurança, mas também precisa de projetos geradores de renda. Uma coisa interfere na outra e quando todos os segmentos da cidade caminham juntos a gente vê a eficiência de seus governantes.
Você não precisa optar por uma ou outra área de atuação, isso é demagogia. Exija do seu prefeito que ele tenha uma olhar maior, que ele veja a cidade como um todo, que tudo seja prioridade. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Guerrilha urbana

Em busca de uma cidade melhor e mais digna, voltada para as pessoas, milhares de pessoas viraram guerrilheiros urbanos. E não é gente que preza a violência, muito pelo contrário. A guerrilha é um gesto de amor, de delicadeza e de gentileza urbana.

Cansados de esperar pelos poderes públicos, nossos guerrilheiros são aqueles que tomam uma ou varias questões da cidade em suas mãos e vão fazendo um trabalho de formiguinha para transformar seu pedaço de chão. Gente comum, sem cargos, que doam seus dias, suas horas, para apoiar ideias e valores. Muitas vezes, a maioria delas, nem são em beneficio próprio, mas é gente que pensa no coletivo, no futuro. Gente que tenta um caminho alternativo no melhor sentido da palavra.

Os motivos de combate são vários, Tem a turma do verde, que faz reflorestamento, parques ou hortas comunitárias em qualquer cantinho disponível. Tem a turma da bicicleta, que conseguiu fazer os governantes entenderem que a magrela há muito deixou de ser diversão e passou a ser um meio de transporte a ser levado em conta. Tem a turma da economia coletiva, enchendo a cidade com seus bazares. Tem a tribo da arte e da cultura, transformando regiões degradadas da cidade em lugares novos e cheios de vida. Todos vêm ganhando espaço e importância na vida das cidades. 

Na verdade o que pode parecer uma batalha é mais um processo curativo. Estão todos fazendo as suas acupunturas urbanas, trazendo a cura através de pequenas intervenções num paciente cheio de feridas e cicatrizes.

Posso ser uma romântica, mas essa turma me enche de esperança. Tento fazer parte desse universo, das pessoas que pensam a cidade na escala do humano. Por que afinal, é isso mesmo que a cidade é. Antes de ser um emaranhado de ruas e problemas, a cidade é a casa da gente ampliada. São diversos microcosmos que vão se juntando e podemos fazer que cada um deles seja melhor, maios solidário, mais simples, mais eficiente, mais pleno. Garanto que o retrato macro mudaria também.

05/12/2016