sexta-feira, 16 de junho de 2017

A falta que ela não faz

A casa Erbo Stenzel*, no Centro de Criatividade de Curitiba pegou fogo e foi demolida. Quem se importa? Que falta ela fará? Uns poucos quixotes envolvidos na vida cultural da cidade lamentaram a perda da casa emblemática nas redes sociais. Fora isso, o silêncio.

Na Gazeta do Povo, a reportagem sobre o ocorrido nos informa que “a casa foi erguida originalmente em 1928 no bairro São Francisco por Germano Roessler. Transferida para o parque em 1998, estava abandonada e fechada há seis anos. Arquitetonicamente, a casa era um exemplar único, que não se encaixa em nenhuma tipologia conhecida pelos almanaques. A Fundação Cultural de Curitiba (FCC) tinha um projeto de reutilização do espaço, mas nunca houve verba para tocá-lo.” Esse abandono, com certeza foi a causa de sua destruição. 

Mais que uma casa de madeira, a Casa Erbo Stenzel é um reflexo fiel da nossa política cultural: ninguém conhece. Curitiba tem cerca de 60 espaços culturais**, entre teatros, cinemas, casas de leitura e outros espaços onde se fomentam as artes plásticas, a dança, a literatura, a música, o patrimônio cultural e afins. Quantos deles você já visitou? Pelas minhas contas, em toda a minha vida, cheguei à precária marca de 20 espaços, sendo que em muitos deles fui há mais de 30 anos atrás ou apenas uma vez na vida. E olhe que eu vivi a criação de muitos desses espaços. Os conheço, mas não os frequento.

Não tenho referência, não tenho informação, não tenho intimidade com esses espaços. Eles não fazem parte da minha vida social, nem cultural, poderiam bem estar na Islândia. Não temos o costume de fazer localmente o que fazemos em viagens, explorar a cidade culturalmente. Já fui num museu microscópico de Invenções em Barcelona e nunca me dei ao trabalho de conhecer o Centro de Arte Digital.  Acervos à parte, quem sabe uma maior visitação ao MUMA proporcionasse uma programação melhor, ou seria o inverso?

A politica publica de cultura diz muito sobre a cidade que vivemos. Arte, música, patrimônio são tão importantes quanto saúde e educação formal.  Cidades que exploram e oferecem cultura de várias formas aos seus cidadãos são cidades mais seguras, mais eficientes, mais felizes.

É uma pena, e um triste sinal, que só falemos disso em momentos como o cancelamento da Oficina da Música e a demolição de um patrimônio histórico. As manchetes deveriam ser outras.
  
* Descendente de alemães e austríacos, Erbo Stenzel foi artista, tradutor e professor da Escola de Belas Artes e Música do Paraná.

**Confira os espaços Culturais mantidos pela prefeitura aqui: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/espacos-culturais/