terça-feira, 28 de março de 2017

Humano, demasiado humano

A cada operação da lava jato meu coração se contrai. Fico pensando até quando vou aguentar tamanha desfaçatez. Cada noticia, um soco no estômago. Até onde vai a maldade humana? 
E isso vira uma tortura psicológica, pois fica difícil viver num mundo onde as pessoas pensam tão pouco no outro, no mundo, no bom.
Fico alarmada em constatar o quão mais fácil é para o ser humano o erro, o mal, o golpe. Em que curva da estrada demos essa guinada onde é sempre preferível o torto, o sujo, o descaso, o ilegal.
Do micro ao macro, muito mais fácil achar quem prefere o jeitinho, o desvio, o despiste. Mais fácil a contramão do que dar a volta na quadra. Melhor o acostamento à fila de carros. Melhor a carne adulterada do que a saúde das pessoas. Mas vale o bolso cheio ao trabalho realizado.
A capacidade para o mal das pessoas é surreal. A quantidade de pequenos delitos que fazemos e sofremos é infinita! Fico apavorada com a quantidade de gente fazendo grandes malefícios sem a mínima, mínima, mínima culpa.
Esse mal tira de todos a chance do bem comum. Subtrai oportunidades, remédios, livros, respeito, civilidade, futuro. Esse mal contamina, deprime, desmotiva, desespera, mata. Esse mal tão entranhado em todos os aspectos das nossas vidas.  Mal aceito, absorvido, anestesiados que estamos de tanto levar paulada.
Será que é para isso que viemos? Será que é essa a verdadeira natureza humana? Em tempos de destruição do meio ambiente, guerra na Síria, exploração sexual, atentados terroristas, discriminação de gênero, todo tipo de corrupção, tráfico de pessoas, fome na África, mortes por trocados, poluição, a gente começa a se questionar de verdade sobre os caminhos que tomamos como raça. Essa raça humana, que se considera sapiens.
O bem existe, é claro, cercado pelo mar de irregularidades. Volta e meia deparamos com os Quixotes da vida, salvando o meio ambiente, criando famílias sociais, gerindo economias paralelas, salvando vidas ou simplesmente seguindo a trilha do certo. Esse certo que é careta, desvalorizado, ridicularizado. Esse certo que ajuda, conforta, constrói, embeleza, evolui, transforma, corrige, dignifica, mas que não é professado nas escolas, nem nas salas de jantar, nem em lugar nenhum.
Esses pequenos exemplos me fazem acreditar que ainda está em tempo de redimir essa raça, mudar essa rota. Não podemos depender do Messias de tantos credos. Mãos à obra, Millenials. Trabalho árduo, antipático, desgastante, perseverante, e recompensador terá essa nova geração: buscar o certo, simples assim. 

segunda-feira, 20 de março de 2017

Filharada

Cade o Teco que estava aqui?
No começo eram três barrigas. Na verdade, éramos três casais de amigos que engravidaram juntos. O trio se fez desde a barriga, e seguiu junto pelos encontros, viagens e pela mesma turma da escola. Um novo casal entrou na bagunça.  Depois chegou mais uma duplinha, depois outra e por fim, um caçulinha. Pronto, estava formada uma nova família, por livre e espontânea escolha.

Ter uma turma de amigos, que saem sempre, que viaja junto, que inventa programas, que reúne as crianças é, uma das coisas mais legais do mundo. Meus pais tinham uma que eu amava e ainda amo. Eu, por sorte, tenho também. 

Curtimos tudo como uma matilha, um clã. É tudo muito dividido, compartilhado. Almoços sem hora pra acabar, combinações de fim de semana, grupo de whatsapp, tudo que temos direito. Trezentas mil fotos, muitas caretas e sorrisos.  E vamos acompanhando todas as fases de cada uma dessas crianças e de cada uma dessas famílias. 

A antiga reserva no restaurante cresceu de 8 para 16. A mesa ficou barulhenta e animada. Hoje, muitas vezes montamos duas mesas, já que as crianças criaram a sua turma independente da nossa. Todo mundo interagindo na conversa da outra mesa.  

E isso é mágico. Essa transferência de amizade. Essa transferência de afeto. Somos pessoas que se gostam e esse querer extravasou. Somos todos meio pais de todos e são todos nossos filhos. O amor que circula ultrapassa os núcleos oficiais e se espalha por todo lado.

Isso é muito claro pra nós, adultos. Quem tem filho pequeno se emociona com o vestibular dos maiores, quem tem filho grande se encanta com as conquistas dos pequenos. Dividimos esses momentos todos, reforçamos esses elos, buscamos sempre estar juntos nos momentos especiais. Comemorando na mesa gigante da vida. 

Sempre me senti amada pelos amigos dos meus pais. E espero que essas oito pessoinhas sintam o mesmo. Sei que entre eles a irmandade é mais que real, se adoram, se protegem e se curtem de verdade. Sei também que nos adoram como turma. Morrem de rir e de vergonha das nossas brincadeiras e das nossas histórias. Tomara que também saibam que cada pai e mãe postiço da turma está ali incondicionalmente para eles. Estaremos sempre à disposição, torcendo muito, nos orgulhando das pessoas que eles estão se tornando. 

Esse ano, em especial, trouxe um momento incomum para cada um deles. Temos duas filhas morando fora, um filho entrando na faculdade, uma filha e um filho que mudaram de escola, outra que está se despedindo da sua e um filho fazendo Bar Mitzva. Ufa! Muitos desafios e descobertas, muita, muita emoção.

Cada um deles é a extensão do meu carinho. Meu colo estará sempre pronto, os braços e portas sempre abertos. Lu, Lila, Ben, Liana, Luca, Paula, Titi e Teco, entrem e se esparramem no sofá, estejam sempre em casa. Que alegria ter vocês nas nossas vidas!


20/03/17


domingo, 12 de março de 2017

As mil caras de Curitiba

Que nossa cidade é multi climática todo mundo já tá careca de saber. O que a gente tá descobrindo é uma nova multiculturalidade, uma Curitiba cheia de novos ângulos, novas caras, novos jeitos.
Embora os tradicionalistas insistam naquela versão antiga, fria e antipática da cidade e sua gente, eu acho que Curitiba esta cada dia diferente e cada dia mais interessante.

Vejamos o caso da calçada. Até 10, 15 anos atrás, ninguém dava a mínima pra calçada. Hoje não, somos a cidade das calcadas. Esse pequeno detalhe urbano é responsável por discussões acaloradas tanto sobre sua forma como sobre o seu uso. A eterna cisma entre amantes do petit pavê e os neo modernos pró paver é prato cheio pra uma boa discussão bem curitiboca. A briga entre restaurantes e prefeitura para a liberação das mesas no passeio também. Embora não goste dos cercadinhos, sou totalmente pró mesa na calçada. Tem coisa que deixe bares e restaurantes mais simpáticos? E a calçada é, desde os primórdios da minha adolescência, o lugar preferido pra se tomar uma cervejinha se você é da galera. Sem mesa, sem frescura, de pé mesmo, de preferência invadindo a rua. Se fechar cruzamento, ainda melhor!

Curitiba esta cheia de bazares, coletivos, coworkings, muita gente criativa. Muita economia colaborativa. Em todas as áreas. Só isso já faz a teoria da frieza curitibana ir por água abaixo. As pessoas estão cada vez mais trocando, mesclando, interagindo. Muita gente de fora, muito talento local, tudo num mesmo caldeirão.

Tem cada vez mais polos multieventos pela cidade. Bairros que organizam festas, quermesses, feiras, shows. Todo mundo indo pra rua, A rua voltou a ser o palco da cidade. Tem gente vendendo, comprando, comendo, trocando, expondo, discutindo, propondo, tudo na praça, E não é no centro da cidade. Cada bairro da cidade tá descobrindo seu potencial, sua arena, seu mercado, sua gente.

Tem mil novos cafés, barbearias, pequenas lojas de artesanato, boutiques, docerias abrindo em todo canto. Tem modismo de fora, tem claro. Mas isso também transforma, ajuda a mudar o cotidiano da cidade. E é tudo espontâneo, não tem diretriz governamental, não tem incentivo fiscal, nada. Os curitibanos, de nascença e de coração é que estão tendo todo o trabalho, por sua iniciativa e risco. Isso é ainda mais louvável.

Isso tudo me torna cada vez mais interessada nessa cidade. Acho que conheço tanto, e tenho tanto a conhecer. Isso me faz querer explorar cada canto, conhecer cada novidade, provar cada prato, fazer novos vizinhos. Gosto da Curitiba da minha memória e estou gostando cada vez mais dessa cidade em transformação.