segunda-feira, 13 de junho de 2016

De pernas pro ar

Vivo num país de pernas pro ar. Minha sensação é que está tudo do lado errado, tudo ao contrário. 
Essa agitação política toda me dá um sentimento ambíguo, agridoce. Fico feliz por viver um tempo onde a rua está sendo ouvida pela primeira vez de verdade na história dessa jovem democracia. Fico feliz por ter uma investigação verdadeira sobre os desmandos e os absurdos que acontecem nos bastidores da política.  Fico imensamente satisfeita de saber que estamos, de alguma forma, passando a história a limpo. A politica virou tema de conversa em todas as rodas possíveis, das madames aos intelectuais, da manicure ao professor, do amigo de esquerda ao de direita. Não existe espaço para alienação, e isso é ótimo.
Porém, pra mim, é um gosto muito amargo esse do processo do impeachment. Viver num país que precisa chegar a esse ponto, é muito triste. Viver num país que precisou fazer isso com dois dos seus quatro presidentes democraticamente eleitos da nova república é imensamente triste.
A presidenta foi afastada, seu desgoverno não se sustentava mais. Porém,  nossa linha sucessória é uma tragédia. Quase todos investigados por corrupção. Nosso novo ministério foi todo escolhido por mérito partidário e não o de competência.  Não sei no que isso tudo vai dar.
Só sei que é um começo. Acho importante a mensagem que está sendo passada não para mim, mas para a próxima geração. Acho importante eles verem que a rua tem poder. Acho importante eles verem gente graúda presa por corrupção, acho importante eles verem toda essa discussão, independente do lado, do certo e do errado. Acho interessante o processo todo, com suas glórias e suas dores. Acho que vai ser fundamental para a construção de uma nova cidadania. 
Só através dessa vivência sofrida vamos poder amadurecer nossa política e quem sabe, moldar um novo brasileiro. Um brasileiro que não vai querer levar vantagem em tudo, que talvez entenda o papel dos governantes e exija cada vez mais deles. Um brasileiro que vota com mais convicção, que sabe mais dos seus direitos e também dos deveres.

Esse amargo vai passar, poderemos ter ainda muitas decepções. Vai levar muito tempo para as coisas se ajeitarem. Mas espero que tudo valha a pena. Afinal, a alma dos meus filhos não é pequena.