sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Poesia concreta e prosa caótica

O mundo se divide em dois grupos:  os que lêem (e presume-se que entendam) poesia e os que como eu, ainda não chegaram à esse nível intelectual. Morro de inveja de quem gosta de poesia. Acho o suprasumo da inteligência. Por outro lado, morro de preguiça de tentar me aventurar por esses caminhos densos E tortuosos da poesia.

Digamos que estou no nível Haicai, e com isso não estou desmerecendo o estilo. Não estou dizendo que seja menos nobre, fácil. Muito pelo contrário. Ser poético, inteligente e conciso pra caber numa estrutura tão pequena é o máximo dos máximos. Apenas reconheço que é nesse gênero que consigo ler e perceber toda a beleza.  Pra mim é poesia palatável, tem sabor, tem aroma, ritmo, genialidade. E por isso sou eternamente grata ao Paulo Leminski e à Alice Ruiz. Através do Haicai saí do analfabetismo poético ao qual estava sacramentada e condenada. Conheci sentido ocultos, descobri entrelinhas onde se pode colocar um mundo inteiro. Li e senti.

Acho que a capacidade de ler poesia é algo que a gente traz no DNA, uns são portadores desse gene, outros não. Meu pai é, minha irmã também. Fiquei de fora nessa divisão celular.

Geralmente as pessoas que lêem poesia tem uma sensibilidade diferente e levam a vida de forma diferente. São pessoas de alma poética e enxergam o mundo por esse prisma, profundo, intenso. Poesia inspira, abre os horizontes e as travas do pensamento, alimenta a cabeça para seus voos criativos, Dá um certo lastro. Isso tudo eu sei, mas ainda assim é difícil me deixar levar, abrir, ousar.
Meu pai e minha irmã são assim. De novo, fiquei de fora nessa divisão celular.

Tenho um jeito mais prático, mais pé no chão. Sou mais executiva, puxei definitivamente a minha mãe. Sou super concreta, nada poética no meu jeito de ver a vida. Mas cresci num ambiente com dois sonhadores, criadores, e isso de alguma forma também me influenciou. Dessa vez  eu peguei um pouquinho do vitelo. Estou mais para o famoso caso de poesia concreta e prosa caótica, como diria Caetano.

A criatividade sempre foi uma coisa importante em casa, talvez por eles terem essa bagagem, essa visão transformadora do mundo. Somos todos criativos, cada um a seu modo, e com seu propósito. O pai nas cidades, a Andrea na dança, a mãe criava programas pra melhorar a qualidade real das pessoas e eu olhando todos eles e absorvendo isso tudo. Eu geralmente gosto de fazer o trabalho das pessoas criativas. Se você coreografar, eu danço. Se você planejar, eu executo. Meu forte é achar maneiras criativas pras coisas saírem do papel.

Aprendi que gente que vive sonhando em transformar coisas, uma hora consegue.





terça-feira, 9 de setembro de 2014

O Rio de Janeiro continua lindo!

Passar três dias no Rio de Janeiro é um bálsamo pra qualquer pessoa. Passar três dias no inverno é um bálsamo pra qualquer Curitibano!
Temperatura em torno dos 21,25 graus, o Rio no inverno é a melhor praia do mundo. Primeiro, como pros cariocas essa temperatura é glacial, digna de tirar botas e casacos de couro do armário, eles não vão muito à praia nessa época. Fica uma praia tranquila, sem muvuca. Tem lugar pra cadeira, da até pra estender a canga pra deitar de costas. 
Segundo, para nós, praticamente moradores do Pólo Sul, 25 graus é perfeito, sol sem aquele efeito tostador que nos deixa com o lindo tom de rosa na pele. É o melhor dos mundos, sol sem torrão! Quase nem precisa passar protetor solar, tirando o rosto, é claro.
Gosto de ir pro Rio, tento respirar ao máximo esse ar leve e descontraído até encher as reservas pulmonares. Gosto de comprar as roupas soltas e coloridas, as sandálias baixas. Uma moda que reflete esse clima solar e alegre tão diferente dos nossos casacos pretos e nossos dias cinzas. Tomo sorvete, muito suco de fruta nas esquinas. Como saladas sem sofrer pra me esquentar. Ando pelas ruas do Leblon à pé, pra lá e pra cá sem carro.
O carioca é  um curitibano do avesso. Somos o reverso da medalha dos cariocas. Onde nos somos formais, eles são extremamente amigaveis. Onde somos sérios, os cariocas são alegres e brincalhões. Onde somos moderados, eles são expansivos. E por aí vai. Deveriamos incentivar casamentos entre essas duas espécies, dariam ótimos filhos, ótimos brasileiros. Já pensou? Gente certinha mas bem humorada, gente com a nossa tão falada seriedade mas com a boa pracise dos cariocas. Só não pode trocar as qualidades! 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Misofonia

Graças ao Fantástico da semana passada, descobri uma nova característica em mim, sou misofônica! Alguns são intolerantes à lactose, outros ao glúten. Eu não, meu estomago aguenta tudo, já os meus ouvidos..... Sempre tive um ouvido super afiado, tenho facilidade para línguas, tenho facilidade para entender música, só não tenho tolerância para barulho. 
Agora sei o nome do que me faz ser a chata do cinema que fica fazendo shhhhh pro pessoal que tá conversando lá na última fileira: misofonia. Agora sei porque o barulhinho imperceptível dos motores de todos os aparelhos eletrônicos, mesmo o do relógio digital me dão nos nervos: misofonia. Agora sei porque gente mexendo em papel de bala, batendo lápis na mesa, mordendo caneta, fazendo pequenos mas sonoros movimentos com mãos ou pés, me tiram do sério: misofonia. Agora sei porque a dublagem dos programas de televisão me perturbam de tal maneira: misofonia. Agora sei porque me irrito quando escuto o som que sai dos fones de ouvido dos outros:  misofonia.
Não sou intolerante, tenho uma intolerância. É bem diferente.
Quem não tem esse problema não tem noção do quão perturbador esses pequenos ruídos são para gente como eu. Parece que as pessoas estão fazendo esses barulhos dentro da cabeça da gente. Eles são altos e irritantes demais pra quem tem essa intolerância. Não dá pra esquecer, não dá pra abstrair, não dá pra pensar. Os sons preenchem o espaço de uma maneira nada agradável, é realmente um sofrimento. Não é exagero, é misofonia.
Pelo que vi no Fantástico, até que sou uma misofônica bem tolerante pois não deixo de fazer nada e e não me isolo no mundo por conta desse problema. Vou vivendo do jeito que dá, rodeada de barulho por todos os lados.
Quem tem intolerância alimentar pode se cuidar, corta os produtos, tem controle sobre seu problema. Quem tem misofonia está condenado a um sofrimento pior. Não podemos silenciar o outro. Não podemos tirar do mundo esses milhões de pequenos sons que nos perturbam, não podemos desligar ou abaixar o volume do planeta. Não temos controle sobre nossa deficiência, só podemos, de vez em quando, reclamar, pedir, implorar pela compreensão e educação alheia.
Quem é misófono sabe o quanto as pessoas são mau educadas e o quanto não pensam no conforto sonoro dos outros. É gente demais fazendo barulho demais. Gente falando alto no celular em qualquer lugar, gente que grita, gente que tamborila na mesa em reuniões, gente que batuca na mesa na aula, barulho, barulho, barulho!
E olhe que já não escuto mais como antes, décadas de shows e muito walkman já fizeram seus estragos. Nem por isso a misofonia atenuou. Posso não ouvir o que você está me falando, mas se você estiver batendo seu pé no pé da cadeira, vou ouvir cada toque como se fosse um tambor dentro de mim. Não podia ser ao contrário?
A misofonia se relaciona a forma do barulho. Ainda não sei como chamar a intolerância quanto ao conteúdo do barulho. Tenho também, há tempos, intolerância a discursos retrógrados, racistas, burros, preconceituosos, descriminatórios. Seja qual for o nome dessa modalidade, em época de campanha eleitoral, ela vai ás alturas!!!!!