quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

No meio da casa tinha uma sala, tinha uma sala no meio da casa

Todo mundo sabe que reformar a casa é uma das piores encrencas em que você pode se meter de livre e espontânea vontade. Todo mundo fala do inferno que é uma reforma. Todo mundo fala que ficar na casa que está sendo reformada é loucura. O quê eu fiz? Comecei uma reforma na minha casa e vou ficar morando nela. 
Moro há vinte anos no meu apartamento. Vim pra cá quase acampada, com os moveis da casa antiga que pareciam de boneca na nova escala. Fiz a cozinha, os banheiros, a marcenaria do meu quarto e vim, louca pra viver na casa nova. Aos poucos fui completando os espaços, o quarto do primeiro filho, o quarto da filha logo depois, o escritório para trabalhar em casa e cuidar das crias. Sofá novo, mesa de jantar para oito pessoas (luxo!), cama nova e ponto. O resto ficou pra depois. 
A vida foi se fazendo na sala íntima. Minha sala "de visita" virou um imenso playground. Tive todo tipo de brinquedo que você possa imaginar na sala mais bacana da casa. Dependendo da idade das crianças, você podia achar cavalinhos de balanço  (eram dois), tico-tico (também dois), carrinhos de bonecas (bem mais que dois), piscina de bolinha e até uma gangorra inflável. Já tivemos bichos de pelúcia enormes, maiores que as crianças. Já tivemos bicicletas, trilhos do Thomas o trenzinho, cozinhas e panelinhas, pista de Hot Wheels, mesinha de atividades, torre de Lego gigante, túnel, barraca da Mônica. Já fizemos jantares para mais de 12 Barbies, incluindo todo o elenco do High School Musical. 
Nessa sala meus filhos reinaram absolutos. Teve trave de futebol desenhada em cada parede, onde disputamos inúmeros campeonatos de gol-a-gol.  Teve cesta de basquete. alvo de dardo. Minha filha estreiou diversos shows da Hannah Montana com plateia de bonecas. Dançamos folclore, rock, lentas, todos os estilos por ali. 
As crianças foram crescendo e os trambolhos deram lugar pras festas de pijamas onde cabiam mais de 10 crianças, fácil, fácil.  Os colchões enfileirados em dupla, as crianças deitadas no sentido lateral, montes delas.
As paredes dessa sala viram muita bagunça, tudo devidamente documentado nas paredes, rabiscadas todas do piso ao teto com os primeiros desenhos, nomes, escudos de time, spray colorido de cabelo, formulas matemáticas, mapas, assinaturas, citações, garranchos e o que você quiser imaginar.
Aí a vida passou e as crianças viraram adolescentes e toda a parafernália que eles querem se resume num celular e um vídeo game. Posso enfim tomar posse do território que me tomaram por usucapião. Minha sala vai finalmente ser uma sala. Depois de anos protelando, me enchi de coragem, é agora!
Como toda reforma que se preze, fomos invadidos por uma série de "já que" e a obra que ia ser só na sala avançou pelos quartos e banheiros, fincou bandeira na churrasqueira e na cozinha e o que seria breve deverá consumir meu ano, minhas reservas e certamente toda a minha (pouca) paciência.
A sala das brincadeiras está lotada de caixas, colchões, armários, roupas, quadros, livros, malas, numa babel que me dá vontade de chorar. Nunca esteve tão triste.
Tudo começou por causa dela. Então mentalizo a história da Fênix que renasce das cinzas. Sonho com a nova estante cheia de livros, o novo sofá aconchegante pra família e amigos, o telão dos filmes dos dias de chuva, as conversas sem fim nas novas poltronas, os novos momentos de alegria que virão. É o que me faz resistir, é o que me faz aguentar o pó e a barulheira. Essa sala merece!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adolescendo

Acabo de deixar meu filho de 16 anos sozinho na praia com outros três amigos. Primeira vez! Vão ficar lá cinco dias. Na mala, poucas roupas, macarrão e uma alegria que era difícil despistar. 
A ideia foi minha, achei que já estava mais do que na hora de um rapazote dessa idade começar a sair da minha saia. E Caioba é ali do lado, balneário minúsculo de praia, cheio de conhecidos, situação ideal. 
Fiz isso de monte, até mais jovem, nos tempos de calmaria que tive a sorte de viver na minha adolescência. Pegava o saco de dormir, duas amigas e uma passagem da Viação Graciosa e sentia a mesma alegria que vi no rosto dele. 
Mudaram os tempos, claro, mas a adolescência é igual pra todo mundo. Aquele desejo de independência, de estar só com os amigos, fazer muita farra. Todas as possibilidades da vida ali na sua frente.
Sou uma mãe super tranquila, geralmente não penso no pior que pode acontecer em cada movimento que os filhos fazem. Acho que viver assim deve ser muito difícil. Acabo fazendo tudo meio na louca, sem pensar muito nesses medos tão comuns (e verdadeiros) que as outras mães têm. Simplesmente vim ao mundo sem esse gen, defeito meu. Ainda bem!  Senão meus filhos teriam uma vida muito chata e fechada. Ainda acredito que o mundo conspira para o bem.
O fato é que poder ser dono do próprio nariz por cinco dias que sejam, na idade dele, é uma sensação que não pode ser sufocada pelos meus medos. Minhas poucas recomendações foram: só saírem juntos, se cuidar no mar, comer em lugares de confiança, deixar o celular carregado e com som e arrumar a casa pra quando eu chegar pra fazer o frete de volta no domingo.
Começar a ter essas experiências é fundamental pra que ele cresça em todos os sentidos. Vai ter que se virar pra comer, nem que seja miojo às cinco da manhã. Vai ter que lavar louca se quiser ter onde colocar o miojo. Vai ter que esvaziar o lixo. Vai ter que fazer escolhas pra fazer a grana que eu dei render até o fim. Vai ter que arrumar a cama, ou não, escolha dele. Vai ter que esperar na fila do banheiro. Vai ter que passar protetor, ou torrar. Vai ter que se virar pra ir pra Guaratuba sem carro. Vai dar muita risada com a turma. Vai curtir o gostinho tão bom da liberdade.

Só consigo pensar nas coisas boas que essa viagem vai ser. Pena que eu vou estragar tudo quando aparecer por lá. 

Cidade vazia

Adoro Curitiba no verão. Adoro Curitiba vazia. 
Curitiba não é uma cidade de verão, definitivamente, É só o verão ameaçar aparecer (ele nem sempre aparece) que a turma toda faz a mala e escapa pra endereços mais ensolarados. Bom pra quem fica. 
De repente parece que estou na minha cidade da infância, sem trânsito, sem barulho, sem a agitação e o stress que ultimamente tem tomado conta do nosso mundo.
Quando não está oscilando entre o calor insuportável e a chuva torrencial, Curitiba volta a ser aquele Oasis de 24 graus, nuvens esparsas, como sempre era na minha memória de criança. Temperatura ideal pra criançada brincar na rua sem se torrar, pra dar uma volta na XV e tomar um milk-shake de morango na Schaffer (se a Schaffer ainda existisse), pra andar no parque sem ficar se esbarrando na multidão, pra trabalhar sem sofrer se você é o único da turma que tem que fazer isso enquanto todos se esbaldam nas praias de alhures. À noite, brisa geladinha, cinema sem fila, restaurantes sem espera, casaquinho. Tudo de bom.
Curitiba nas ferias é a cidade ideal, a cidade possível. Quando está vazia, Curitiba volta a ser ela mesma. Tudo parece voltar ao seu lugar, tudo parece fazer sentido. A civilidade reaparece e você poderá ate ver as pessoas conversando e sendo educadas umas com as outras.  Impressionante como o fator mobilidade afeta a gente bem mais do que parece. Tire o trânsito da equação da vida das pessoas e a felicidade reaparece. Ruas tranquilas, ônibus onde você viaja sentado, paraíso. A cidade dica até mais bonita.
Esse idílio tem os dias contados, o que me dá cinco mil tipos de dores no coração. Infelizmente nosso tão copiado sistema de transporte/mobilidade tem enfrentado duras penas. Questões de má gestão e mau funcionamento vêm sobrecarregando mais o sistema do que os dois milhões de usuários.  Falta gente pensando na questão crucial do problema que é voltar a criar novas possibilidades para ele. Nosso sistema, por ser todo em superfície, tem em seu DNA a possibilidade de rápidas mudanças e adequações, pode ser modificado sem grandes obras, pode receber upgrades em vários níveis. Não é uma questão financeira, o que falta são ideias e certa dose de coragem na turma que tem a caneta nas mãos.

Então, enquanto posso, vou aproveitando ao máximo a cidade que voltou a me pertencer como cidadã. Curitiba no verão é a minha praia. Gosto dela assim, mesmo sem mar. Mal posso esperar pelo Carnaval!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

The day the music died (a big part at least)

Morreu um ídolo. Silenciosamente, surpreendentemente, dolorosamente. Morreu um ícone. A morte de David Bowie foi um soco.

O próprio Bowie, de certa forma, tentou preparar nossos corações. Dois dias antes, em meio à celebração do aniversario, lançava Lazarus como um prelúdio do que estava por vir. A música é forte, linda e deixa a certeza que o artista ainda estava lá, pulsante em meio ao tratamento que manteve em segredo de todos.

Perdemos Bowie e em menos de um minuto o mundo, literalmente, só falava nisso. A notícia se espalhou pelos meios de comunicação e principalmente pelas redes sociais como o foguete do nosso Starman. No facebook, foi difícil achar um post que não citasse isso.

Como de costume, fomos bombardeados por obituários de diversos veículos. Canais de tv mostravam seus clipes. Jornais, blogs e sites tentavam resumir a personalidade de uma pessoa múltipla, diversa, plural.   É praxe em momentos como esse. 

Porem, de repente, o que era para ser uma coisa muito muito triste começou a se transformar numa coisa muito, muito bonita. Foi como se todo mundo quisesse transformar a sua dor em uma homenagem mais forte, mais tocante, mais lírica, a altura desse cara genial que conseguiu mexer com a vida de tanta gente.

A cena das pessoas que passaram a noite cantando suas musicas em Brixton, sua cidade natal, foi mais que emocionante. Quisera eu fazer parte desse coro. A timeline do facebook ficou sonora, com links de praticamente todos os seus sucessos. Fotos, gifs, caricaturas, cartazes, ingressos, capas de disco ilustraram posts o dia todo no instagram. Textos emocionados mostraram o grau de devoção de seus incontáveis fãs. Tweets de famosos ou não, usaram cada um dos 140 caracteres disponíveis para lembra-lo.

As homenagens mais diversas e espontâneas foram surgindo em todo canto. No Brooklyn, EUA, uma semana toda de homenagens foi programada, e longe de missas e vigílias, os eventos são todos, de certa forma, animados. Sob o titulo 10 maneiras de celebrar David Bowie (http://brokelyn.com/put-red-shoes-celebrate-life-david-bowie-brooklyn/) noites dançantes, maratonas dos filmes, baladas temáticas, enfim, uma série de eventos irá homenagear o que de mais importante ele nos deixou, sua arte. 

Bowie foi um ídolo para varias gerações, se reinventando sempre, nos mostrando a importância de seguir, mudar, ousar, arriscar, ser diferente, ser estranho. Bowie teve as mais variadas faces, e todas estavam ali á mostra. David Bowie era brilho, neon, listas, purpurina, fantasias, roupas e maquiagens. Era  Ziggy Stardust e Major Tom. Era ator, andrógino, complexo. David Jones era elegante, discreto, chiquérrimo.

Essa imersão no carinho, respeito, fascinação, devoção pelo artista foi comovente. Espero que sua família tenha visto tanto amor, que tenha se sentido abraçada e confortada por ele.  Foi lindo e nada boring como ele já tinha nos avisado.
12/01/2016

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Um filme na cabeça

Coloquei uma mensagem no facebook desejando um feliz ano novo pra toda essa gente amiga. Coisa simples, foto da família, pensamentos positivos, desejos sinceros.

Em pouco tempo o contador de curtidas começou a funcionar. Sei que existe muita crítica em relação às amizades que temos nas mídias sociais. Sei também que ter milhões de amigos virtuais às vezes não quer dizer muita coisa quando você realmente precisar de um amigo de verdade às 5 da manhã, quando o bicho pega de verdade. Mas tenho que dizer uma coisa pra vocês: chegar a quase 400 curtidas, assim despretensiosamente, foi demais!!!!

Mais que o número, a lista me enche de alegria. Passo os olhos em todas essas pessoas que gastaram dois segundos pra clicar na mãozinha e me emociono porque, de uma forma ou de outra, minha vida toda esta ali, representada por pessoas que variam em muitos graus de intimidade comigo. Estão lá os primeiros amigos da escola, minha turma de 8a. série, os do Dom Bosco, os da faculdade. Meus professores de todos esses lugares. Gente que dançou comigo na Jô, no folclore, no Guaíra. Meus queridos do movimento juvenil, meu grupo, os que cuidei e quem cuidou de mim. Os amigos queridos que foram comigo pra Israel. Gente da Singular, do Festival de Teatro, dos Jogos Mundiais da Natureza, da Carrè, da Conib e de todos os lugares que trabalhei. Meus colegas do escritório atual. Meus amigos de verdade, minha turma.  A turma do Claudio que já virou minha também. A família toda, cunhado, tios, sobrinhos, primos de todos os graus e de todos os lados. A turma dos meus pais, os amigos do meu pai, amigas queridas da minha mãe, Pais dos meus amigos, gente que chamo de tios até hoje, Muita gente da comunidade israelita, meu berço cultural. Os filhos dos meus amigos e os amigos dos meus filhos. As mães e pais dos amigos dos meus filhos, gente da escola onde eles estudaram a vida toda. Os caronistas queridos. Conhecidos, amigos de amigos. Meus vizinhos, médicos e dentistas.  Donos de lugares que frequento, lojas, restaurantes. Gente pra quem presto serviço, ou o contrario. Todo mundo ali!

Não é lindo demais? Gente que vi a pouco e gente que não vejo há anos, Gente que conheço a fundo e gente que troquei rápidas conversas. Gente por quem tenho amor imenso e gente que tenho imensa simpatia. Gente do agora e dente de ontem. Gente mais nova e gente mais velha. Gente de perto e gente de longe. Gente que conheci nas redes e gente que conheci na vida.

Cada um deles desenhando um mosaico lindo de lembranças que fizeram a reflexão do ano novo mais profunda, mais alegre, mais bonita. Vendo todos esses rostos, o coração se encheu de alegria, o sorriso veio fácil. Amigos sejam eles reais ou virtuais, tem esse poder de nos levar pra um lugar mágico, um contentamento instantâneo, cada rosto, um cisco de memória, um momento da vida. 
Um filme que passa na cabeça da gente. Merecia um Oscar.


08/012016

domingo, 3 de janeiro de 2016

Coisas de praia

Gente de todas as idades
Biquínis de todos os tipos
Muita gente correndo na praia
Gente de biquíni e tênis, 
Caminhadas na beirinha da água 
Corpos super expostos, corpos que não deviam estar tão expostos
Marca do biquíni de ontem
Gente cor de rosa
Protetor aerosol
Frescobol, fresbee, vôlei de praia. Futebol e Beach tênis  
Gente alterada tentando jogar futebol 
Criança correndo atrás de bolas coloridas
Cachorros
Sorvete de jabuticaba
Crianças lambuzadas de sorvete
Barraca de armar
Guarda-sois voando ao vento, 
Chuva e sol e mormaço 
Ondas e surfistas
Mergulhos de fim de tarde e começo de manhã 
Crianças aprendendo a surfar
Bebês descobrindo o mar
Pais cuidando dos filhos, 
Amarelinha desenhada na areia
Gente andando de mãos dadas
Argentinos de monte
Tempo esticado, horas arrastadas
Chinelo de dedo
Camarões à milanesa e ao bafo
Frutas, queijos, ceviches, guacamoles
Almoço que vira janta
Churrascos demorados, paellas é bobo de camarão 
Caipirinha de limão, de abacaxi, de melancia, de uva, caipirinha chique em copos verdes com gengibre
Muita cerveja, muito vinho rosé
Whisky e pôquer 
Turmas de amigos
Mesa para 24
Minha turma de amigos
Conversas gostosas
Gente feliz
Risadas sem ter fim 
Comecei o ano muito bem!