segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Para Adriana

Adriana entrou na minha vida pela porta do meu pai. Sem nenhum aviso prévio lá estava ela editando as histórias dele. Caiu do céu.
Trocamos emails e mensagens semi profissionais, relacionados ao processo da realização do livro dele. Fotos, capas, textos que iam de la pra cá. Visitas esporádicas ao escritório. Já gostei dela de cara. 
E ai nossa amizade avançou pelo facebook e pequenas curtidas mutuas. Coisas corriqueiras e sempre simpáticas. O filme que ela viu, o livro que recomendou, a ida à feira. Fui gostando dessa Adriana também.
Fui conhecendo mais a Adriana pelos amigos em comum também. Fui conhecendo a Adriana pela Doris, pela janela da Iara, pelo olhar da Lina, gente de maior gabarito para referenciar pessoas. Fui gostando cada vez mais dela. 
Ai vieram os textos e o livro dela e a Adriana cresceu dentro de mim. Ai não teve como não se encantar de vez. A Adriana que a gente conhece pela escrita é irresistível. O mundo da Adriana é como o Pinterest pra mim. Ela deixa a gente entrar na vida dela de um jeito muito suave. A gente vai conhecendo todos os detalhes, desde o lugar onde ela escreve, a cadeira que senta, até evoluir para os pensamentos mais íntimos, tudo aberto ali, sem medo, com doçura, prosa e poesia (mesmo que ela ache que precise viver mais vidas). 
Fui gostando mais e mais e mais. Gosto de como ela enxerga o mundo, Gosto do que ela faz, Gosto das musicas, Gosto de como ela pensa. Gosto de como ela se mostra. Gosto do texto, sobretudo das escolhas, das palavras da Adriana. Aprendi a gostar até das letras minusculas. Sei que tudo tem um propósito, que tudo faz sentido na cabeça dela. 
Talvez porque tenha conhecido a Adriana numa época que comecei a escrever também e tenha lido nela todos os meus questionamentos tão bem explicados de forma tão linda. A Adriana fala de tudo que me é caro, A Adriana explica coisas que sente e é como se tivesse traduzindo o zunido que mora na minha cabeça. 
A Adriana me representa e me estimula. Me faz querer escrever melhor. E é pra ela que um dia vou me colocar á prova. vou me deixar editar, cortar, riscar. Se tiver coragem.  
A gente nunca saiu juntas, nunca foi tomar um café, nem passou uma tarde na casa das Teixeiras juntas. mas é como se já tivéssemos vivido mil vidas juntas. Minha amiga por parte das ideias. Talvez não tenha amizade mais forte.  

Ah!  A propósito, A Adriana é a  Adriana Sydor e o livro dela é o Toda Prosa. Leia já!



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Editar-se

Esses tempos reli todos os meus textos. Gostei de alguns, chorei com outros, rasquei uns tantos. Tarefa inglória essa de se confrontar, cheia de pudores, críticas e vergonhas. Mas é um processo interessante. Poder editar uma frase mal colocada, apagar um erro gramatical, outro de digitação. Repensar um paragrafo inteiro. Destacar um momento. Mudar o final. Riscar tudo.
E nesse processo, como são textos muito pessoais, acabei por entrar num processo de querer editar a mim mesma.
Como gostaria de poder fazer essa edição da mesma forma que fiz com minhas ideias. Numa canetada só, sem piedade, e lá iria aquele defeito que embora reconheça, não consigo controlar sua aparição. Poderia refazer julgamentos errados, corrigir injustiças, mudar o curso de algumas decisões tomadas. Reescrever alguns dias, ressaltar qualidades, grifar as coisas boas. Riscaria a preguiça, a teimosia, adicionaria paciência. Adicionaria capítulos pros meus filhos. Editaria o trabalho, deixando mais lapidado, preciso. Colocaria mais ilustrações, mais sorrisos, mais viagens. Seria um revisor sem compaixão.
Claro que em muitos momentos da vida podemos voltar atrás, corrigir erros, pedir desculpas, refazer um projeto, tentar de novo. Sempre podemos mudar o destino. 
Mas apesar disso, a vida não tem rascunho. Vale o feito, seja ele qual for e quantas vezes você o mudou. Fica tudo lá, registrado, Sem borracha. Não dá pra apagar os borrões, tirar os erros, colocar os acertos em bold. As diversas tentativas estarão todas lá. Não tem uma versão editada, toda bonita, sem riscos, sem buracos. Aquela briga horrivel, terá seu espaço gravado, apesar das desculpas pedidas. 
Mesmo sabendo disso, e justamente por isso, me esforço para que minha história seja o menos rabiscada possível. Os capítulos ainda estão confusos, algumas coisas não tem muito nexo, Tem histórias bem bacanas, algumas bem engraçadas. Tem drama também. Alguns momentos emocionantes. E provavelmente páginas que ninguém vai ter saco pra ler. Minha biografia será tão imperfeita quanto eu.