quarta-feira, 30 de abril de 2014

Resgates

Estive em dois eventos bem bacanas na cidade. Dois resgates.
O primeiro, a Vinada Cultural, é um super exemplo de como as pessoas podem, e devem, resgatar um importante espaço cultural da cidade que estava terrivelmente abandonado. O segundo, o show Estação Pedreira, é quase a mesma coisa, mas nesse caso, o resgate aconteceu institucionalmente, através da prefeitura e da iniciativa privada.
A Vinada Cultural traz sons, sabores, cor e muita, mas muita gente ao Passeio Público, esse importante parque da cidade, que durante anos era talvez a única opção de lazer que tivemos. O evento é a consagração de um movimento popular de resgate, o Ocupe o Passeio Público. Começou na internet com gente fazendo barulho sobre a volta da ocupação do Passeio e foi abraçado por uma grande rede de comunicação. De lá pras milhares de pessoas que invadiram o Passeio foi muito trabalho e deu tão certo que está na sua segunda edição. O evento, também apoiado pela prefeitura desde o começo, cresceu, tomou forma, ganhou mais patrocinadores, mas o mais importantes é que ele prova que a cidade abraçou a ideia, quer ver o Passeio vivo de novo. Para quem passou a infância naquele espaço, voltar a frequentar o Passeio foi muito bom. Não é saudosismo, é mais. É um resgate da identidade da cidade. Nosso Central Park, literalmente, tem que ter uma função na vida dos curitibanos. 
O show Estação Pedreira tem o mesmo significado. Depois de seis anos fechada, a Pedreira voltou a ser o palco maior dos grandes eventos da cidade. Isso graças a uma ação da prefeitura que cedeu o espaço em comodato para a iniciativa privada. A cidade respondeu e mais de 20 mil pessoas estavam lá. A ideia inicial da Pedreira, de transformar uma cicatriz feita pelo homem na natureza em um espaço de cultura e beleza não podia mais ficar fechado. Nesse caso, além da prefeitura, a sociedade também fez sua parte, com um grande abaixo assinado pedindo pela reabertura do espaço.  
Enfim, espaços importantes devolvidos à cidade. Na verdade, exigidos pelas pessoas. Muito bom saber que as pessoas se importam com a cidade. Sempre que essa relação aparecer, todos ganham. Curitiba tem que ser dos curitibanos e os curitibanos tem que curtir e cuidar da cidade. 

Nada como um sábado de sol no Passeio e uma noite de show na Pedreira. Programa legal, cidadania plena.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Primeira posição

Hoje de madrugada, na minha insônia, assisti ao documentário Primeira Posição, sobre o Youth America Grand Prixuma das mais importantes competições de ballet clássico que revela os novos talentos da dança mundial. Dos 9 aos 19, essas crianças se apresentam em busca de bolsas e contratos para trabalhar nas principais companhias de ballet do mundo, como Royal Ballet e American Ballet Theatre.
Estudei ballet por muito tempo e por anos, estar naquela posição era o meu sonho. Porém quis o destino e a imensa dificuldade que a vida na ponta dos pés oferece, que eu parasse de dançar antes dessa duríssima fase.
Dançar não é para os fracos, não se iluda com a fragilidade corporal das bailarinas. É uma das profissões mais difíceis que eu conheço, principalmente se estamos falando de dança clássica. 
Primeiro, diferente de quase todas as outras profissões, você entra nela muito, mais muito antes de saber o que realmente ela é. Para se chegar aos 17 anos com uma técnica perfeita, o trabalho começou bem antes, provavelmente nos 6 ou 7 anos de idade. 
Para se chegar a excelência que vi no documentário, nem consigo imaginar a rigidez do treinamento que essas crianças tiveram. 
A rotina do bailarino é física e psicologicamente muto rigorosa, a competição é imensa e as vezes são fatores muito subjetivos que farão alguns ascender e outros não.
Fiquei impressionada sobretudo com a exigência que as próprias crianças fazem sobre si mesmas, sem lugar nenhum para o erro. O quanto a rigidez é importante quando se quer alcançar um objetivo.
E ai fiquei pensando no papel dos pais nessa questão. Como eu seria se estivesse nessa posição e como eu sou com meus filhos nas suas escolhas e buscas. 
Como ser firme na medida certa para que não desistam de seus sonhos e quanto ser maleável em suas falhas, como definir essa tênue linha. Cada criança tem sua personalidade e lida com frustrações de maneiras diferentes. Como ajudar e ensinar a lidar com essas frustrações. Quando ser rígida e passar por cima de um choro? Como fazer a criança lutar sem ser um tirano? Ser ou não ser o mito da mãe tigre.
Acredito que hoje, o mundo facilita muito a vida das crianças e não vejo isso como uma forma positiva de educação. Acho que elas tem muita dificuldade em lidar com o não, com a falha. E não sabem o prazer da conquista porque tudo é muito fácil para elas.
Sou mais enérgica, as vezes mais que gostaria. Hoje, ainda não cheguei no ponto onde estarei por trás das escolhas dos meus filhos mas espero incentivá-los sem mimá-los, ser firme sem dureza. Espero ter a força e a delicadeza para acertar com eles. Força e delicadeza, como uma bailarina.