quinta-feira, 24 de abril de 2014

Primeira posição

Hoje de madrugada, na minha insônia, assisti ao documentário Primeira Posição, sobre o Youth America Grand Prixuma das mais importantes competições de ballet clássico que revela os novos talentos da dança mundial. Dos 9 aos 19, essas crianças se apresentam em busca de bolsas e contratos para trabalhar nas principais companhias de ballet do mundo, como Royal Ballet e American Ballet Theatre.
Estudei ballet por muito tempo e por anos, estar naquela posição era o meu sonho. Porém quis o destino e a imensa dificuldade que a vida na ponta dos pés oferece, que eu parasse de dançar antes dessa duríssima fase.
Dançar não é para os fracos, não se iluda com a fragilidade corporal das bailarinas. É uma das profissões mais difíceis que eu conheço, principalmente se estamos falando de dança clássica. 
Primeiro, diferente de quase todas as outras profissões, você entra nela muito, mais muito antes de saber o que realmente ela é. Para se chegar aos 17 anos com uma técnica perfeita, o trabalho começou bem antes, provavelmente nos 6 ou 7 anos de idade. 
Para se chegar a excelência que vi no documentário, nem consigo imaginar a rigidez do treinamento que essas crianças tiveram. 
A rotina do bailarino é física e psicologicamente muto rigorosa, a competição é imensa e as vezes são fatores muito subjetivos que farão alguns ascender e outros não.
Fiquei impressionada sobretudo com a exigência que as próprias crianças fazem sobre si mesmas, sem lugar nenhum para o erro. O quanto a rigidez é importante quando se quer alcançar um objetivo.
E ai fiquei pensando no papel dos pais nessa questão. Como eu seria se estivesse nessa posição e como eu sou com meus filhos nas suas escolhas e buscas. 
Como ser firme na medida certa para que não desistam de seus sonhos e quanto ser maleável em suas falhas, como definir essa tênue linha. Cada criança tem sua personalidade e lida com frustrações de maneiras diferentes. Como ajudar e ensinar a lidar com essas frustrações. Quando ser rígida e passar por cima de um choro? Como fazer a criança lutar sem ser um tirano? Ser ou não ser o mito da mãe tigre.
Acredito que hoje, o mundo facilita muito a vida das crianças e não vejo isso como uma forma positiva de educação. Acho que elas tem muita dificuldade em lidar com o não, com a falha. E não sabem o prazer da conquista porque tudo é muito fácil para elas.
Sou mais enérgica, as vezes mais que gostaria. Hoje, ainda não cheguei no ponto onde estarei por trás das escolhas dos meus filhos mas espero incentivá-los sem mimá-los, ser firme sem dureza. Espero ter a força e a delicadeza para acertar com eles. Força e delicadeza, como uma bailarina. 


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