segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Nunca

Nunca fiz nada que não esperavam de mim, é a minha natureza. 
Nunca pintei o cabelo, nunca fiz tatuagem.
Nunca fugi de casa, nunca roubei o carro dos meus pais.
Não sou de arroubos, não sou de loucuras, não sou corajosa. Uso o freio.
Não sou atirada, não uso calça rasgada, não mostro alça do soutien. 
Não sou o centro das atenções, não chamo atenção, sumo.
Não peço favores, não peço dinheiro, não devo.
Não me abro frequentemente, não divido com facilidade, não mostro tudo, preservo.
Não escancaro, não gosto de chamar atenção, não provoco. 
Não largo tudo, não sumo. Sou firme, sustento.

Gosto do certo, do arrumado, do tempo no relógio, da pontualidade. 
Gosto de arrumar, gosto de simetria, gosto da harmonia. Ângulos retos.
Gosto de tarefas, de prazos, de desafios, de cumpri-los. 
Gosto do controle, gosto de listas, organizo.
Gosto da leitura, do cinema, e talvez só nesse quesito cultural permito a transgressão maior: dançar. Sempre que posso, sem onde nem por que.

Sou do olhar, aquela que observa, registra, por isso escrevo. 
Sonho, fantasio, faço roteiros inteiros, internos, platônicos. 
Vivo mais na minha cabeça que no mundo em minha volta. 
Uso o texto para viver o que não teria coragem de fazer. 
No papel, abro o que geralmente escondo. 

No papel, revelo. No papel, existo.

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