quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Tão longe, tão perto!

Estive no Peru recentemente, fiquei impressionada com os contrastes e as belezas do nosso vizinho. Tão perto e tão longe da nossa realidade,
Perto nos piores quesitos. Perto na pobreza, na poluição visual, na ocupação irresponsável e irregular dos morros das cidades, na invasão da propaganda política em todos os muros de todas as casas ao longo das estradas, no descaso com a sujeira e o lixo quando se vira a esquina do centro da cidade.
Mas o que me chamou mais a atenção foram nossas diferenças.
Somos diferentes na nossa cidadania. Chequei em meio a uma greve geral do setor turístico. Uma mega manifestação popular conta a privatização dos principais pontos e serviços que são uma das maiores fontes de riquezas do país. Participamos do Paro em Cuzco, mesmo sem conhecer os dois lados da história.  As manifestações foram super organizadas, pacíficas, reunindo os diversos setores desse poderoso setor da economia. Todo mundo na rua, todos os sítios arqueológicos, museus e igrejas fechados, as estradas bloqueadas. A mensagem dada por grupos coloridos em roupas típicas.  Nada de quebra-quebra, nem carro de som, nem políticos em palanques. Confesso que, jornalista que sou, fiquei surpresa de não ver um único caminhão de externa de TV cobrindo as passeatas, nem um microfone, nem uma câmera. Tudo sem muita comoção, tudo super ordenado. Porém, o que faltou em ardor, sobrou em verdade. No dia seguinte o projeto de lei foi recusado. Vitoria! Também não teve comemoração. Vida normal e bora visitar as ruínas de Saqsaywaman! Nunca vi nada parecido! Não é uma questão de paixão, de partido, de uma discussão política, de lados. É Uma questão de direitos, de estar certo ou não, de exigir um posicionamento de quem faz as leis. Mostrar a força sem usar a força.
Somos diferentes também na nossa relação com a nossa identidade. Obviamente estive principalmente no interior, em regiões turísticas, fiquei apenas um dia em Lima que é uma cidade grande, misturada, globalizada. Onde estive, o colorido dos tecidos e do artesanato se mistura com o colorido das pessoas na rua. Claro, tem mulheres e crianças excessivamente montadas, carregando baby alpacas no colo, para que você as fotografe em troco de uns trocos, mas a verdade é que você pode ver muita gente que respeita os trajes típicos de suas aldeias e vilas. As saias coloridas, os tecidos nas costas com crianças penduradas, os chapéus e as tranças estão em toda parte. Esses trajes servem pra gente saber se as pessoas são solteiras, casadas, se falam castelhano ou quéchua, entre outros códigos, Homens e jovens nem tanto, é verdade, mas as mulheres do Peru carregam suas origens pra todo canto, envoltas em camadas de tecidos. É bonito de ver, essa coisa tão permeada na vida, na rua, no cenário. O Peru tem uma cara, um rosto.
Somos diferentes nas nossas tradições.  Nosso cadinho cultural nos afastou muito dos nossos índios. Nossa heterogeneidade nos distanciou até dos colonizadores portugueses. Ter uma ancestralidade Inca faz muita diferença e a presença espanhola também se vê o tempo todo. A herança Inca é linda, poderosa. Ninguém fica alheio à magia de Machu Picchu. A energia das pedras, templos e terrazas de qualquer sitio Inca mexem com a gente. A relação com a natureza, os valores ligados à terra - Pacha Mama, estão em toda parte. Difícil não ficar atônito diante das montanhas, do Vale Sagrado, do lago Titicaca. Difícil não ver como o meio influencia a vida. Como a natureza moldou essas culturas todas.

Adorei o Peru. Adorei estar em contato com as veias abertas da América Latina de uma maneira que não sentimos aqui no Brasil. Não somos dessa mesma raça, não temos essa mesma origem, não temos esse tipo de latinidade. Estamos tão perto e tão distantes dessas culturas tão interessantes. Não somos hermanos, não rezamos para os mesmos deuses, uma pena!



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