segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Liana vai ao teatro

Ontem levei minha filha de 12 anos no seu primeiro teatro "adulto". Como ela está crescendo do dia pra noite, resolvi que esse ano, a gente já podia mudar o foco dos nossos programas culturais. Saem os desenhos animados, que eu secretamente também adoro,  e entram filmes, livros, peças e ballet de gente. Ainda passo na sessão infanto-juvenil, mas não necessariamente. Acho mais legal ir direto em coisas mais abrangentes, não tão preparadas e moldadas para o gosto dos adolescentes. Quero que ela comece a ver o mundo de verdade, sem esse filtro as vezes limitante do universo pré-fabricado para ela. Quero que ela tenha que fazer um esforço extra , puxe um pouquinho mais, saia da zona de conforto e possa entender ou não, gostar ou não, sentir ou não, mas experimentar um pouco da vida lá fora.
Então, a peça  foi escolhida a dedo, para que ela entre com o pé direito nesse universo tão delicado e as vezes tão fechado e difícil que é o teatro. Fomos ver Tchekhov, da companhia Ave Lola. Escolhi a peça por que ela é feita com uma delicadeza que me emocionou muito na primeira vez que eu a assisti, uns tempos atrás. Tudo na peça é muito bem pensado, muito bem feito, muito pertinente e muito inspirador. Da linguagem corporal à maquiagem, do texto à música, do cenário ao próprio espaço cênico, Tchekhov é uma deliciosa viagem que essa trupe da Ave Lola nos proporciona.
Trupe no melhor sentido da palavra, de gente comprometida, que transformou um antigo casarão do São Francisco no teatro mais simpático de Curitiba, o Ave Lola Espaço de Criação, onde os 50 sortudos espectadores são recepcionados com a alegria da Ana Rosa Tezza, diretora da peça e coordenadora do espaço. Tem deck, tem rede, tem pomar, tem jardim com almofadões coloridos que fazem da espera, do intervalo e da saída um prazer. Tem vinho, tem pão, tem bolo, cafezinho, no frio tem sopa, tem gente pensando em fazer você se sentir em casa. 
Na peça, os oito atores (Evandro Santiago, Helena Tezza, Janine de Campos, Marcelo Rodrigues, Regina Bastos, Tatiana Dias, Val Salles e Vida Santos) se desdobram em múltiplos personagens. As trocas de figurino e maquiagem são incríveis e acontecem diversas vezes pois os personagens vem e voltam, exigindo o dobro de trabalho. As transformações são além do visual, os atores mudam tanto que eu tive a sensação que um deles até muda a cor do olho. Tem música ao vivo, nas mãos da dupla Fabricio Amaral e Matheus Ferrari. O cenário é simples e a linguagem cênica nos faz ver cavalos, trens, florestas, rios, estradas, cidades, teatros num palco do menor do que a sala da minha casa. O texto fala obviamente de teatro, mas fala de muitas outras coisas nas entrelinhas, abrindo ai um leque de sentimentos.
Enfim, Tchekhov é encantamento, e fiquei feliz que a Liana vivesse isso. Na saída ainda fomos brindadas com um bate papo informal com a companhia toda. Todo mundo espalhado pelo deck, conversando sobre o processo de criação do espetáculo, matando a nossa curiosidade. 
Por isso eu recomendo, vão lá, se apressem, essa segunda temporada acaba logo logo. Cheguem cedo, curtam o lugar, deixem o celular em casa, se emocionem.  Mandem um beijo especial ao meu personagem favorito, o doce Chapula e bom espetáculo!

Um comentário:

  1. Assim não vale. Fiquei curioso pra saber o que a Liana achou da primeira experiência com teatro adulto. Vc ficou tão encantada com a peça que acabou esquecendo de contar; afinal, o título é Liana vai ao teatro.

    Tino Viana

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