quarta-feira, 17 de junho de 2015

O centro da minha cidade

Dia desses andando de carro numa sexta a noite pelo centro da cidade fiquei impressionada com a quantidade de novos lugares, lojas, bares, gente em pé na calçada, movimento e animação. Uma cidade vibrante e colorida. Aquela alegria de fim de semana.
Dai me veio uma saudade enorme da época que eu frequentava muito o centro, da época em que o centro era vibrante para mim. O que aconteceu? Em que momento o centro da cidade parou de fazer parte da minha vida? Como a gente consegue se distanciar tanto de uma parte tão vital da cidade em que a gente vive?
Moro no  Bacacheri, zona norte da cidade e minha cidade tá cada vez mais demarcada nos bairros imediatamente próximos ao meu. Vou cada vez mais raramente pro Batel, pro Champagnat, na direção oposta, e mesmo nessas horas, o centro está fora do roteiro. Não vou no centro pra quase nada, mal passo por ele de carro. tem sempre um caminho que passa ao largo que é melhor e mais rápido.
O que aconteceu com o centro que me fazer parar de visitá-lo? O que aconteceu comigo?
Estudei na Federal, em plana Praça Santos Andrade, peguei muito expresso na Generoso Marques, gastei muita sola de sapato nas calçadas da Rua XV. Comprei muito disco na Savarin, calça Fiorucci na Noi, sapato na Cinderela. Conheci o conceito de loja de departamento com o abertura da Mesbla. Comi muita banana split, comprei todo o meu material escolar e redinha de cabelo para a aula de balé nas Lojas Americana. Aliás, fiz ballet no Guaíra e chorei rios nas sessões de cinema do Astor, Lido, Condor, Luz, Ritz, Cinema 1 e do Plaza. Fiz curso de datilografia na Facit. Mandei muita carta no Correio e comprei muita revista nas banquinhas enquanto meu pai tomava o café na Boca Maldita. Esbarrei em muita gente apresada que corria pelo caminho. Conheci o Esmaga e a Gilda. Comprei minha aliança de casamento por lá. Comprava ingresso no quioske onde a gente se informava com o Bom Programa. Comecei a sair à noite indo no Baviera, Alemão e no London onde tinha sempre um banquinho e um violão. Ia na feirinha. Meus avós moraram na Barão e na Santos Andrade. Literalmente cresci no centro. O centro e imediações eram parte da minha vida, de verdade.
Hoje, o centro da cidade é um outro planeta. Meu GPS interior quase não o reconhece. As antigas lojas que eu frequentava fecharam ou viraram pequenos shoppings com mil lojinhas extremamente populares. Perdemos a Schaeffer e a passagem obrigatória nas Livrarias Curitiba ali na frente. Todo mundo migrou pro Shopping, a Mesbla fechou, a Americanas só no site. Ganhei um carro, larguei o ônibus, Acabei a faculdade, trabalho tão perto de casa que muitas vezes vou a pé. Discos a gente agora baixa no computador. Não sobrou um cinema de rua pra contar a história.  O expresso mudou de rua, o Correio central está fechado. Meu curso saiu da Santos Andrade. Abriram mil restaurantes novos em bairros que agora tem apelidos no Geocook. O relógio das flores vive parado. Perdemos a intimidade, eu e o centro.
De vez em quando volto lá. Meio tímida, ando pela XV atrás dessas memórias. A Savarim mudou de lugar mas está lá, O Paço virou um lindo espaço cultural que quase sozinho tem a missão de resgatar essa convivência de habitante e sua cidade. A Rua XV segue animada, a vendedora da Borboleta 18 ainda grita. A galera ainda vira o submarino do Alemão e o Largo da Ordem tem milhões de botecos novos, mesas na calçada aos montes. Aos poucos vou reconhecendo a minha cidade. Ainda tem gente apressada correndo pra lá e pra cá, A Confeitaria das Famílias resiste, a Boca Maldita também, porém só reconheço meu tio Julio dos que ainda vão lá.  Tem Virada Cultural que não tinha, Tem partidos políticos nas calçadas. Tem pintura. O centro mudou bastante, mas continua animado, vibrante e movimentado como sempre. Mudamos os dois, ele talvez não lembre muito de mim. Eu vou sentir saudades dele pra sempre.


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