quinta-feira, 26 de junho de 2014

Canal da bola

O jogo foi 2 x 1. Fulano e Beltrano marcaram pro time A, Sicrano marcou pro time B. O time A ganhou. Ponto final, certo? Nunca!
Uma partida de futebol nunca acaba no apito final. O jogo ter terminado é só um detalhe. Ele se perpetuará por mais uma eternidade nas centenas de milhares de replays das melhores jogadas,  milhões de comentários no facebook, trilhões de programas que discutem sobre futebol.
Não sou aficionada por futebol, mas até gosto de ver um joguinho aqui, outro no mês que vem, tirando a época da Copa que contagia até a mais cética das torcedoras como eu. Agora programa sobre futebol, tenham a santa paciência!!!!! Talvez porque eu seja mulher. Pra mim é  dificílimo entender o por quê de tanta falação sobre o jogo Ele acabou, ninguém vai conseguir mudar nem o resultado, nem a atuação, nem o esquema tático, nem coisa nenhuma. É um festival de gente dando aula de futebol, mostrando a sua vã sabedoria, querendo comprovar teorias. Que saco!
Que tanto tem de interessante nessa falação toda? Acho que o futebol é o momento. Chutaram? Acertaram? É gol, simples assim. Alegria e tristeza, tudo em 90 minutos de emoção. Não tem explicação, as coisas acontecem ou não. Essa é a graça, a bola na trave, o impedimento duvidoso, a raça do atacante, a violência do zagueiro, o gol, tudo ali, acontecendo ao vivo e a cores para todo o planeta.
Você alguma vez viu um programa, uma mesa redonda televisiva sobre uma peça de teatro? Ou um balé? Ou sobre qualquer outra manifestação cultural fora o futebol? Não estou falando de crítica, estou falando nessa forma sistematizada, regular, as vezes diária, de discussão do futebol.  Já pensou? Toda segunda, na rede xxx, programa Cena Aberta, ou Sapatilha Vermelha, ou Capitulo Final  (pra manter o padrão dos nomes esdrúchulos que esses programas tem). Agora vamos discutir por que o violoncelo da orquestra não entrou no movimento certo ou sobre o valor do passe do Maestro. Hoje o comentarista Tal vai explicar o uso do cenário como parte efetiva na compreensão do texto do Nelson Rodrigues. Pode isso, Ana Maria Botafogo? Inimaginável! Por que será? 
Será que a cultura é menos importante que o futebol? Nesse país das chuteiras é bem possível.
Mas acho que na arte essa questão do momento, do sentimento é aplicada automaticamente. Ninguém vai assistir a um bando de gente debatendo sobre coisas que você pode ou não ter sentido, entendido, gostado. Arte e a percepção da arte é algo muito pessoal e completamente subjetivo. Ainda bem! Não quero ninguém tentando me ensinar a me emocionar com esse ou aquele texto, não quero ninguém criticando a música que eu adoro. Não quero explicações do porque Treze gestos de um corpo é tão lindo!
Só nos resta pedir ao Santo Protetor da TV a Cabo para que nos dê em dobro, em arte, cada canal de falação esportiva. Amém!




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