terça-feira, 26 de maio de 2015

A utilidade das coisas inúteis

Não chego a ser uma acumuladora, mas passo respando. Minha casa está entulhada de coisas, tenho uma sala cheia de caixas e sacolas recheadas de coisas que já não me servem mais. Não tem dia que eu não separe uma coisinha do armário, do quarto das crianças, da cozinha.
Tudo bem, a grande maioria tem destino, roupas e sapatos vão pra alguns clientes fixos, alguma coisa deixo no carro pra dar na rua. Brinquedos e livros, que a gente sempre repassa pra entidades que abrigam crianças. Isso já tá super esquematizado.
O problema são as coisas. Desde que inventaram esse tal de Lixo que não é lixo, não consigo jogar coisas fora. E por coisas você pode contabilizar quase tudo que existe no mundo e que a gente vai acumulando sem perceber. Simplesmente não consigo jogar no lixo nada que tenha ou teve utilidade, então a coisa complica muito. Quer exemplos? O que a gente faz com os estojos de lente de contato? Ganho um em cada compra, tenho um em casa, um no carro, um no escritório, um na bolsa e assim mesmo não consigo dar conta, eles se multiplicam na minha gaveta, é desesperador.  Agora vai jogar assim, no lixo? Não consigo. Porta cartão de banco é a mesma coisa, de couro,  chiquérrimo, lixo também? Impossível. Tudo que vem dentro da necessaire do avião, calcadeira, máscaras, os malditos creminhos, os pentes que dobram? Sério, lixo? Carteiras usadas, lembrancinhas de aniversário infantil, copos promocionais, agendas, bloquinhos de anotação, caixas bonitas, saquinhos de filo de presentes recebidos, álbuns de fotografias e porta retratos antigos, latas de biscoitos, calculadoras solares, réguas, cds brindes de fim de ano, louça desparelhada, colheres de pau, abridores de lata, pesos de ginástica, raquetes de ping pong, chaveiros as pencas, canecas, fones de ouvido, estojos e pinceis de maquiagem, cavalete, bastidor de bordado, pendrives, grampeadores, marcadores de livros ???? Tudo lixo? Não consigo pensar nessas coisas todas indo atulhar o lixão, me dá uma culpa enorme de jogar "coisas boas" no lixo. Não quero ser a responsável por antecipar o esgotamento dos aterros sanitários.
Fico tentando achar novos donos pras minhas quinquilharias, separo coisas pra bazares, pra asilos, mas fico com vergonha do teor da minha doação. Como não tem nada de valor, espero ter uma coisinha melhor pra dar um upgrade no pacote. Uma panela, um enfeite de casa, um eletrônico aposentado. E penso em quanta coisa inútil entra na nossa vida.  Enquanto isso, as tranqueiras vão tomando conta das caixas na minha sala, no meu cemitério de coisas inúteis, esperando a reencarnação.


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