sábado, 7 de setembro de 2013

Xícaras de açúcar

Você conhece o seu vizinho?
Como diz o meu pai, vizinho é o parente por parte de rua. É a pessoa que está mais perto de você, logo ali no corredor. Mas você sabe quem ele é?
Antigamente o vizinho era fundamental na vida das pessoas, ele cuidava da sua casa quando você não estava, regava suas plantas, cuidava de seus filhos se você tivesse que sair numa emergência. A confiança era total, a troca também, não só de xícaras de açúcar,  a troca era no quesito solidariedade.
Meus avós chegaram no Brasil com uma mão na frente e outra atrás e os vizinhos fizeram parte da sua história. Foram eles que ajudaram a minha avó a aprender a se comunicar, a se orientar pela região, a conhecer a nova vida que ela estava descobrindo. A comunidade israelita era quase toda vizinha nos idos da década de 30, isso também ajudava. Um ajudava o outro, numa rede de cuidados que foi responsável pela vinda dos parentes que fugiam da guerra da Europa.
Meus pais tiveram seis vizinhos nos 30 anos que moraram na mesma casa. Uma família na frente e dois pares de vizinhos que se revezaram nas casas ao lado. Bolos que passavam pelo muro, crianças que iam de uma casa para outra sem aviso nem campainhas. Assim foi a minha infância. Aprendi a comer pão com manteiga e açúcar no vizinho, nunca esqueci. O Taco, da casa à esquerda,  levava toda a criançada do bairro para expedições pela quadra.
A quadra, alias, era o nosso domínio e os vizinhos dessa área também eram todos conhecidos. Eu podia ir sozinha até a banquinha do seu Zé, lá na esquina de baixo. Quando ia na casa dos meus avós, podia ir de bicicleta até a entrada do estacionamento, quatro casas além. E quem controlava era o vizinho, não meu avô.
Hoje em dia, nos apartamentos,  essa relação é bem diferente, ninguém conhece ninguém, mal se falam no elevador. Ninguém conhece a casa do outro.
Tenho a sorte de morar num prédio legal. O pessoal se organiza pra fazer encontros  e jantares com os moradores. Como tem dois blocos, confesso que não conheço bem muitos do 01, mas a turma do 02 é bem simpática. Ovos e produtos de limpeza vivem passeando no elevador, as crianças também. Tem conversa na porta do elevador, tem carro novo que vai parar na sua vaga por que a vizinha não consegue colocar na dela. Tem vizinha que passeia o cachorro do outro. Temos espaço pra pequenas gentilezas, o que é fundamental pro convívio.
Por isso, na próxima vez que você entrar no elevador, quebre o gelo, conheça seu vizinho, você pode se surpreender com a amizade que pode estar escondida na porta ao lado.

4 comentários:

  1. Seré que isso é coisa de curitibano? Vivi 15 anos na mesma casa, grudada a um vizinho que nem se importava que suas plantas invadiam a meu muro e traziam inumeras aranhas pro quarto dos meus filhos. Já do outro lado eram 3 casas, todas com famílias cordiais. Porém nada de açucar, ovos e gentilezas. Talvez a correria da vida moderna...Um deles fez a proeza de passer um mês nos EUA e deixou o alarme disparar todos os dias, sem deixar um numero de telephone para que alguem pudesse ir desligar. Esse mesmo visinho tentou cortar meu fio de luz porque o meu alarme disparou por uma tarde. Mereço?
    O lado bom pra te contar é que logo que me mudei para o Rio de Janeiro veio uma visinha me dar as boas vindas e oferecer qualquer tipo de auxílio. Dias depois uma senhora e outra vizinha fizeram o mesmo. Ufa!!! Nem tudo está perdido! Enfim tive sorte na vizinhança.

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    1. Voce foi premiada Keith, nossa? Espero que a rapaziada do Rio seja mais carinhosa e acolhedora. Quando voce vier pra cá, avise!Bjs

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  2. Loira..eu moro em vila. Minha vizinha é parte do mobiliário da casa.. eu passo açucar pelo muro, ela me socorre de madrugada.. Eu empresto ombro e filho pra mudar móveis.. É como família. Ela me viu nascer.. os filhos dela e eu crescemos juntos. Amizade secular..coisa boa, em SP. Ainda há esperança! Boa semana Chatima Tova querida! bjos

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    1. Que delicia Ká!Não é o máximo?! Chatima Tová pra você também, querida!

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